Chuvas diluvianas, ondas de calor intermináveis, tornados em série. Não há como negar que o clima no planeta está diferente. Afinal, o que está acontecendo?
National Geographic Brasil por Peter Miller 2012
ulho de 2010. Um dilúvio desaba nos arredores de Glasgow, em Montana. “A sensação era de que, se ficasse ali no meio e olhasse para o alto, as portas do céu se abririam”, diz o fotógrafo Sean Heavey
A previsão quanto ao fim de semana em Na
shville, no Tennessee, era de 5 a 10 centímetros de chuva. Mas, na tarde do
sábado 1o de maio de 2010, algumas regiões da cidade já haviam recebido mais de
15 centímetros e a tempestade continuava a cair. Do Centro de Comunicações de
Emergência, o prefeito Karl Dean acompanhava os primeiros relatórios da
inundação repentina quando as imagens na TV atraíram sua atenção. Uma tomada ao
vivo mostrava carros e caminhões na rodovia Interestadual 24 sendo carregados
pelas águas de um afluente do rio Cumberland. Boiando ao lado deles havia um
edifício transportável de 12 metros. Era uma escola, a Lighthouse Christian
School.
Nashville, Tennessee, 2 de maio de 2010. Jamey Howell e Andrea Silvia são surpreendidos pela inundação, que submerge a perua do casal. Os filhos agarram-se ao teto por uma hora. Sob o olhar impotente dos pais, são carregados pelas águas. Cerca de 1 quilômetro adiante se seguram à margem e sobrevivem
“Ficou bem claro que se tratava de uma
situação excepcional”, diz o prefeito. Ligações de emergência pipocaram de
todos os pontos. Policiais, bombeiros e equipes de resgate foram despachados em
botes. De barco, um grupo seguiu para a I-24, a fim de salvar o motorista de
uma carreta, já que o nível da água chegava à altura da cabine. Outros soldados
retiravam famílias de telhados, assim como trabalhadores presos em galpões.
Onze pessoas morreram naquele fim de semana.
Esse tipo de tempestade foi algo novo em
Nashville. “A chuva despencou com mais rapidez que jamais vi”, comenta o cantor
Brad Paisley, que tem uma fazenda perto dali. “Sabe quando você é surpreendido
por um temporal no shopping e pensa: é só esperar cinco minutos e aí pego o
carro? Não foram alguns minutos.”
Em 5 de julho de 2011, a maior tempestade de areia de que se tem notícia avança sobre Phoenix, no Arizona. A visibilidade é reduzida a zero. Uma muralha de pó com 1 500 metros de altura é erguida
Na estação local de TV, o meteorologista
Charlie Neese podia ver de onde vinha o aguaceiro. Uma corrente de ar
fortíssima e de grande altitude – conhecida como “corrente de jato” – havia
estacionado sobre a cidade, e uma sequência de tempestades absorveu o ar úmido
e quente vindo do golfo do México. Enquanto Neese e seus colegas transmitiam de
um estúdio no segundo andar, a redação, no piso inferior, era inundada.
O nível do Cumberland, que serpenteia pelo
centro de Nashville, começou a subir na manhã de sábado. Na empresa de
embarcações Ingram, David Edgin, um ex-capitão de rebocadores, era responsável
por mais de sete barcos e 70 barcaças. Como o pé-d’água continuava com
violência, Edgin ligou para o Corpo de Engenheiros do Exército para saber se
havia alguma previsão quanto ao nível a que chegaria o rio. “Nunca vimos algo
assim. Nossas simulações foram todas extrapoladas”, respondeu o oficial de
plantão. Edgin, então, ordenou que todas as embarcações atracassem em locais
seguros nas margens.
Foi uma decisão inteligente. Até a noite de
sábado, o Cumberland já subira pelo menos 4 metros, até a altura de 10 metros,
mas o Corpo de Engenheiros estimava que poderia alcançar os 13. A chuva não deu
trégua no domingo, e o rio só chegou a seu nível máximo na segunda-feira. Bateu
na marca dos 16 metros, quase 4 acima do ponto de inundação. Os prejuízos foram
de 2 bilhões de dólares. Quando saiu o sol, na manhã da segunda-feira, algumas
regiões de Nashville tinham recebido mais de 34 centímetros de chuva – duas
vezes o recorde registrado durante a passagem do furacão Frederic, em 1979.
É fato que houve alteração no clima. Eventos
extremos, tal qual a inundação em Nashville – descrita pelas autoridades como
algo que ocorre apenas uma vez por milênio –, acontecem com frequência cada vez
maior. Um mês antes da enchente na cidade americana, tempestades torrenciais
despejaram 28 centímetros de chuva sobre o Rio de Janeiro em um único dia,
provocando deslizamentos de encostas e centenas de vítimas fatais. Três meses
depois de Nashville, uma quantidade excepcional de chuva no Paquistão causou
enxurradas que impactaram 20 milhões de pessoas. No fim de 2011, inundações na
Tailândia deixaram sob as águas centenas de fábricas perto de Bangcoc, o que
desencadeou uma escassez mundial de discos rígidos para computador.
Não são apenas as chuvas pesadas que ganham
manchete. Na última década, secas terríveis assolaram regiões como o oeste dos
Estados Unidos, Austrália e Rússia, assim como a África Oriental, onde dezenas
de milhares de pessoas tiveram de se refugiar em acampamentos improvisados.
Ondas de calor letais atingiram a Europa e uma quantidade recorde de tornados
foi registrada nos Estados Unidos. Os danos causados por esses eventos
contribuíram para elevar o custo dos desastres climáticos em 2011 para 150
bilhões de dólares ao redor do mundo, um salto de 25% em relação ao ano
anterior. Em 2008, só nos Estados Unidos, um recorde de 14 eventos causaram,
cada um, prejuízo de mais de 1 bilhão de dólares.
A água do lago Geneva forma uma camada de gelo sobre carros, árvores e o passeio público durante intensa onda de frio em fevereiro de 2012. Um incomum desvio para o sul da corrente de jato polar chega à África, o que leva massas do ar ártico e neve à Europa e mata centenas de pessoas
Afinal, o que há de errado? Esses eventos são
consequência das temíveis mudanças causadas pelas atividades humanas no clima
do planeta ou estamos apenas passando por um período natural de mau tempo? É
provável que as duas hipóteses sejam verdadeiras. As forças primárias que
desencadearam esses desastres recentes foram ciclos climáticos naturais,
sobretudo os conhecidos El Niño e La Niña. Nas últimas décadas, os cientistas
aprenderam muito a respeito de como esse estranho vaivém na região equatorial
do Pacífico influi em todo o planeta.
Durante o El Niño, uma imensa área de água
quente – que costuma estar no centro do Pacífico – desloca-se para o leste até
a costa da América do Sul. Durante o La Niña, essa mesma zona encolhe e recua
para o oeste do Pacífico. O deslocamento dessa região oceânica mais quente ao
longo da linha do equador determina as trajetórias das correntes de jato, que
são empurradas mais para o norte ou para o sul. Ou seja, o calor e o vapor
d’água originados nesse ponto geram tempestades tão volumosas que a influência
delas se estende para além dos trópicos. O El Niño tende a levar tempestades ao
sul dos Estados Unidos e ao Peru, ao mesmo tempo que favorece secas e incêndios
florestais na Austrália. Já com o La Niña, a Austrália tem inundações e há seca
no sudoeste americano e no Texas – e em zonas mais distantes, como na África
Oriental.
Esses resultados não são mecânicos nem
invariáveis: tanto a atmosfera quanto os oceanos são compostos de fluidos
caóticos. Outras oscilações também influenciam o clima. Todavia, a região
tropical do Pacífico é ainda mais importante, graças à quantidade de calor e
umidade que lança na atmosfera. Assim, nos El Niños ou La Niñas mais intensos,
as condições se tornam propícias para eventos climáticos radicais no planeta.
Tais eventos naturais, porém, não explicam
por si mesmos essa temporada recente de desastres. A Terra tem se aquecido de
maneira constante, com aumento significativo na umidade atmosférica. Décadas de
observações realizadas no topo do Mauna Loa, no Havaí – assim como em milhares
de estações meteorológicas – mostram que o prolongado acúmulo de gases de
efeito estufa na atmosfera tem capturado calor e provocado aquecimento no solo,
nos mares e no ar. Embora em algumas regiões, sobretudo no Ártico, o fenômeno
tenha sido mais intenso que em outras, a temperatura média na superfície
terrestre subiu 0,5oC nas últimas quatro décadas. Em 2010, chegou a 14,51oC,
repetição do recorde anterior, de 2005.
Arbustos secos encalham nos sulcos de uma plantação de algodão sem cultivo nas imediações de Brownfield, a sudoeste de Lubbock. Ventos fortes e uma onda de calor sem precedentes causaram erosão grave, diz Buzz Cooper, dono de um descaroçador de algodão na vizinhança. “Era como um ventilador quente num forno”, ele diz
À medida que se aquecem, os oceanos liberam
mais vapor. “Todos sabemos que, se aumentarmos a chama no fogão, a água na
panela evapora em menos tempo”, lembra Jay Gulledge, veterano cientista do
Centro de Soluções Climáticas e Energéticas de Arlington, na Virgínia. Nos
últimos 25 anos, satélites constataram acréscimo médio de 4% no vapor d’água
presente na coluna de ar. Quanto mais umidade, maior a probabilidade de
ocorrerem chuvas torrenciais.
Até o fim deste século, a temperatura média
mundial pode aumentar entre 1,5ºC e 4,5ºC, dependendo, em parte, da quantidade
de carbono que emitirmos. Para os cientistas, é bem provável que as alterações
sejam substanciais. Os padrões básicos de circulação do ar vão se aproximar
mais dos polos, assim como estão fazendo algumas espécies vegetais e animais
para escapar (ou se aproveitar) da intensificação do calor.
Para o climatologista brasileiro Carlos
Nobre, um dos cientistas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas
(IPCC), as temperaturas no Brasil já aumentaram em até 0,8ºC nos últimos 50
anos, o suficiente, diz o pesquisador, para alterar o clima, inclusive na
Amazônia. “Não há o que fazer para evitar as mudanças nos próximos 20 anos.
Isso já foi determinado pelas emissões de gases feitas até aqui.”
Nobre acredita que, com o planeta aquecido,
poderá haver secas mais drásticas no Brasil. “A escassez de água e a
irregularidade das chuvas devem se acentuar no semiárido nordestino.” Ele
acredita que haverá problemas também para as metrópoles. Isso porque, quando a
temperatura aumenta, as reações químicas que levam à formação de gases
poluentes acontecem mais rápido. “A poluição do ar nas grandes cidades vai se
agravar e ondas de calor frequentes também podem aumentar a área de transmissão
de doenças tropicais.” Locais hoje livres de malária e dengue poderão
desenvolvê-las.
A chuva cai em cascata sobre um morador de Chengdu, que corre apressado pela escada de uma garagem subterrânea. A precipitação volumosa aconteceu em 3 de julho de 2011, inundando ruas e provocando corte de energia na cidade, capital da província de Sichuan
Nas regiões do planeta em que a faixa de
chuvas tropicais já está se alargando, afirmam os cientistas, as zonas secas
subtropicais cumprem um deslocamento na direção dos polos, e avançam por áreas,
como o sudoeste dos Estados Unidos, o sul da Austrália e o sul da Europa, que
se tornam cada vez mais suscetíveis a secas. Além da zona subtropical, nas
latitudes intermediárias, onde ficam os Estados Unidos, as trajetórias das
tempestades também se movem para os polos.
Uma das grandes incógnitas no futuro é o
oceano Ártico, que perdeu 40% da camada de gelo estival – aquele que se acumula
durante o verão – desde a década de 1980. As temperaturas outonais nessas
partes, que agora viraram mar aberto, aumentaram de 2oC a 5oC, pois a água
escura absorve a radiação solar antes refletida pelo gelo. Indícios sugerem que
o aquecimento está alterando a corrente de jato polar, acrescentando meandros a
sua trajetória em torno do planeta.
Isso explica por que o verão passado foi tão
quente na América do Norte e tão frio na Europa. Ao deslocar-se mais para o
norte que o normal, chegando ao Canadá, a corrente de jato levou ar quente aos
Estados Unidos. Ao avançar para o sul sobre a Europa, levou ventos gélidos e
neve.
No que se refere a tempestades, as dúvidas
dos cientistas são ainda maiores com relação aos possíveis efeitos do
aquecimento global. Em teoria, a umidade adicional na atmosfera deveria bombear
calor em grandes tormentas, como furacões e tufões, inflando-as e fazendo com
que fiquem maiores e mais fortes. Acredita-se que o aquecimento global poderia
aumentar a intensidade média de furacões e tufões de 2% a 11% até 2100. Ainda
não se sabe se já ocorreu algum incremento nesse sentido. As mesmas simulações
que preveem furacões mais fortes também revelam que haverá menor quantidade
deles no futuro.
No caso dos tornados, uma atmosfera mais
úmida e quente deveria intensificar as tempestades, mas também poderia reduzir
o cisalhamento do vento necessário para a formação de redemoinhos. Um número
maior de tornados vem ocorrendo nos Estados Unidos. Por outro lado, há mais
gente os perseguindo com instrumentos modernos. No entanto, nos últimos 50
anos, não se registrou acréscimo na quantidade de tornados muito fortes. A
primavera de 2011 foi uma das piores temporadas desses fenômenos na história
americana, com redemoinhos monstruosos. Contudo, os cientistas ainda não têm os
dados nem a compreensão teórica para dizer se o aquecimento global é o
responsável por isso.
Já em alguns eventos climáticos extremos, a
conexão é evidente. Quanto mais quente a atmosfera, maior a possibilidade de
ondas de calor excepcionais. Nos Estados Unidos, nos dias de hoje, os recordes
de temperatura elevada ocorrem com frequência duas vezes maior que os de
temperatura baixa. Em todo o mundo, 19 países registraram ápices históricos de
calor em 2010.
Com o aumento da umidade na atmosfera, também
se avivaram as precipitações. A quantidade de água que cai em chuvas
torrenciais – 1% do total – subiu quase 20% durante o último século no
território americano. “Em cada tempestade, recebemos mais chuva hoje do que há
30 ou 40 anos”, comenta Gerald Meehl, do Centro Nacional de Pesquisas
Atmosféricas de Boulder, no Colorado. “Imagine um jogador de beisebol que tenha
tomado anabolizantes”, diz Meehl. “Ele entra em campo e faz uma jogada excepcional.
Não há como dizer se conseguiu isso por causa dos anabolizantes ou dos próprios
méritos. As drogas apenas aumentaram as chances de ele se destacar”, diz Meehl.
O mesmo vale para o clima. “Ao acrescentar dióxido de carbono ao sistema, a
temperatura sobe e aumenta a possibilidade de ocorrerem eventos extremos. Ou
seja, o que antes era algo raro passa a ser frequente”, explica.
Nos últimos tempos, ninguém enfrentou tantas
condições climáticas anabolizadas quanto os texanos. Os 1 049 moradores de
Robert Lee – pequena cidade do oeste do Texas – passaram grande parte de 2011
aflitos com a dramática redução de seu suprimento de água. O reservatório da
cidade perdeu 99% de sua capacidade. “Se não vier mais chuva, não haverá água
nas torneiras. A situação é grave”, disse o prefeito John Jacobs no último
inverno. Em janeiro, a cidadezinha começou a instalar 19 quilômetros de
tubulações para receber água de Bronte, uma comunidade que conta com poços,
além de um reservatório.
De outubro de 2010 a setembro de 2011, as precipitações
no Texas foram menores que em qualquer outro período de 12 meses, desde que
começaram os registros, em 1895. Embora todo o estado tenha sido impactado, a
faixa oeste chegou à beira do desastre, com os criadores de gado, agricultores
e autoridades contabilizando os prejuízos. A seca também devastou as pastagens.
Em uma versão moderna das antigas boiadas, os peões da fazenda Four Sixes,
perto de Guthrie, no norte do estado, transportaram, em carretas de dois
andares, mais de 4 mil cabeças de gado, até terras mais verdejantes arrendadas
em vários estados da região das Grandes Planícies.
“Foi a seca anual mais vigorosa já
registrada”, comentou o climatologista local John Nielsen- Gammon. Para piorar,
em 2011, os texanos tiveram o verão mais quente dos últimos tempos. Os
moradores de Dallas viram os termômetros marcarem 37oC ou mais em 71 dias do
ano.
Não há mistério quanto à causa principal
disso, segundo Nielsen-Gammon. Para ele, o grande responsável foi o La Niña,
que empurrou as trajetórias das tempestades mais para o norte dos Estados
Unidos, reduzindo as precipitações em todo o sul, do Arizona às Carolinas do
Norte e do Sul. “Tivemos o azar de ficar bem no centro desses eventos”, diz
Nielsen-Gammon.
O tornado veio a 209 quilômetros por hora. Mas não o suficiente para afugentar o fotógrafo Mike Hollingshead. O caçador de tempestades registrou este em 20 de junho de 2011, perto de Bradshaw e da Interestadual 80, em Nebraska, onde vagões de carga foram descarrilados
Mas o aquecimento global agravou a situação
ao tornar mais potente uma onda de calor já preocupante. “Em condições normais,
grande parte da energia do sol evapora a água do solo ou das plantas”, explica
Nielsen-Gammon. “Quando não resta água, essa energia passa a aquecer o solo e o
ar. Com a baixa pluviosidade, teríamos um recorde de calor no Texas em 2011,
mesmo sem o aquecimento global. Mas ele adicionou 1 grau à temperatura.”
Esse grau extra foi como um jato de gasolina
nas florestas do estado. Ao acelerar a evaporação, fez com que as matas
ficassem ainda mais ressecadas e inflamáveis. De fato, no ano passado, o Texas
passou pela pior temporada de incêndios florestais jamais documentada. No
total, o fogo destruiu uma área menor que a do estado brasileiro de Sergipe.
Um dos incêndios que mais causaram prejuízos
começou em setembro de 2011, na divisa do Parque Estadual Bastrop, a sudeste de
Austin, onde as árvores estavam secas e quebradiças. Alimentadas por ventos
fortes, as chamas avançaram para o sul, através de bairros residenciais
suburbanos, e deram origem ao que os bombeiros chamaram de longas “ruas” de
fogo. Milhares de casas foram consumidas pelas labaredas.
O custo e a frequência crescentes dos
desastres naturais apenas em parte podem ser atribuídos ao clima. Tais
catástrofes são comuns também porque mais gente mora nas áreas de risco. Em
estados como Texas, Arizona e Califórnia, a construção de residências em
antigas áreas florestadas deixou propriedades expostas a incêndios. Algo
parecido ocorre com a urbanização do litoral em estados como Flórida, Carolina
do Norte e Maryland, e a construção de casarões de veraneio e hotéis de luxo na
rota de furacões e tempestades. Ao mesmo tempo, o crescimento das megacidades
nos países em desenvolvimento da Ásia e da África tornou milhões de pessoas
vulneráveis a ondas de calor e inundações.
A importância econômica das tormentas não
passou despercebida pelo setor de seguros. Em 2011, o desembolso das
seguradoras nas perdas ocasionadas por desastres naturais nos Estados Unidos
chegou a 36 bilhões de dólares, 50% a mais que a média anual na década
anterior. “Se isso é o ‘novo normal’ ou não, o fato é que as perdas são
exorbitantes”, comenta Frank Nutter, da Associação de Resseguros dos Estados
Unidos. “O passado já não serve de modelo para o tipo de clima que vamos
enfrentar.”
Na Flórida, onde furacões, incêndios
florestais e secas multiplicam os riscos às seguradoras, várias empresas de
âmbito nacional deixaram de oferecer apólices ou introduziram novas restrições.
O grande temor delas é outro desastre, como o furacão Andrew, em 1992, que
custou às companhias 25 bilhões de dólares. Houve proliferação de pequenas
seguradoras ali e, em 2002, o governo estadual criou a Empresa de Seguros
Patrimoniais para os Cidadãos, hoje a maior seguradora de residências na Flórida.
Enquanto isso, alguns governos começam a dar
passos pequenos, mas relevantes, no sentido de reforçar o preparo para as
catástrofes climáticas. Em 2003, uma inusitada onda de calor na Europa fez pelo
menos 35 mil vítimas fatais. Análises posteriores constataram que as mudanças
no clima haviam duplicado a probabilidade do desastre. Em consequência, várias
cidades na França construíram abrigos com ar-condicionado e criaram uma lista
dos idosos a serem levados para lá. Quando outra onda de calor atingiu o país
em 2006, a taxa de óbitos foi dois terços menor.
Do mesmo modo, depois de uma tormenta
tropical tirar a vida de 500 mil pessoas em Bangladesh em 1970, as autoridades
do país montaram um sistema de alerta antecipado e construíram abrigos simples
de concreto. Hoje, quando ocorrem ciclones na região, a quantidade de mortos
não costuma superar os 10 mil.
A atitude mais sensata diante do clima
extremo é cuidar de todos os fatores de risco, desde o desenvolvimento de
plantas capazes de sobreviver a secas, passando pela construção de edifícios
que resistam a inundações e ventanias, até a adoção de políticas que
desestimulem a ocupação de locais perigosos. Sem falar da redução nas emissões
de gases do efeito estufa.
“Sabemos que o aquecimento na superfície da
Terra está aumentando a umidade na atmosfera. Isso já foi constatado, medido e
comprovado pelos satélites”, diz Jay Gulledge. Portanto, a probabilidade de
ocorrer eventos climáticos extremos só vai crescer. Resta aceitar essa
realidade e colocar em prática aquilo capaz de salvar vidas e economias. “Não
podemos mais ficar parados e nos conformar.”
RODRIGO PIZETA ESPECIALISTA EM GESTÃO AMBIENTAL:
Projetos de Gestão integrada de resíduos sólidos
Perícia ambiental
Planejamento Ambiental
Gestão Ambiental nas empresas Consultor IS0 140001
Elaboração e Gerenciamento de projetos ambientais
Especialista em Formatação de Circuitos Turísticos Autosustentáveis
+ 55 (27) 9944 8003 — arvore.ae@gmail.com
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