terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

ESPECIAL: Frio nos EUA: os perigos das temperaturas extremas para o corpo

Veja.com 03/01/2014

Tonturas, sensação de torpor, cansaço, confusão mental, coma e até a morte são alguns dos efeitos que as variações no termômetro provocam no organismo

Homem sofre com a neve e o vento forte em Lawrence, Kansas. Sensação térmica pode chegar a até -60 graus Celsius em algumas cidades do país

Pouco mais de duas semanas após o início do inverno, o ar congelante tem quebrado recordes nos Estados Unidos, com temperaturas perigosamente baixas para a vida humana. A cidade de Nova York registrou o frio mais severo da história na terça-feira, 7 de janeiro: -16 graus Celsius, com sensação térmica de -26 graus Celsius, no Central Park. Um dia antes, algumas cidades no meio-oeste do país alcançaram as menores marcas dos últimos vinte anos. Em Chicago, o termômetro marcou -27 graus Celsius.
A variação acentuada de temperatura, como a registrada em Nova York, exige atenção. Para quem enfrenta temperaturas tão baixas, mesmo pequenas variações trazem efeitos críticos para o organismo. O corpo treme (são os músculos buscando se movimentar e gerar calor) e os vasos sanguíneos se contraem para evitar que a temperatura normal do organismo, que varia de 36 a 37 graus Celsius, não caia – o que mantém a sensibilidade de extremidades como mãos, pés, nariz e orelhas. Se essas estratégias para reter o calor não funcionarem, o próximo passo é o congelamento e a gangrena. "O corpo lança mão dessa série de mecanismos para manter sua temperatura, necessária para a realização de todas as reações bioquímicas do organismo", diz Paulo Olzon, clínico geral da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Os efeitos do frio intenso variam de acordo com a idade, peso, carga genética e mesmo o hábito de se expor ou não às temperaturas baixas. Os que mais sofrem com as temperaturas extremas são crianças de até 2 anos e idosos acima dos 60 anos, que não dispõem de mecanismo tão eficazes para permanecer na temperatura ideal e podem ter hipotermia – a queda acentuada de temperatura leva à confusão mental, ao coma e à morte. Em geral, dispomos de uma reserva de calor para suportar variações intensas de temperaturas, que mudam de acordo com cada um. “Em questão de minutos o organismo percebe a mudança brusca e procura se adaptar”, afirma Olzon.
O ideal é permanecer em locais fechados e manter o calor do corpo com agasalhos e bebidas quentes. "Também não é indicado sair ao vento, que retira a camada de ar quente ao redor da pele e traz a sensação de ainda mais frio", diz o clínico.
Trechos das Cataratas do Niágara ficaram congelados devido ao frio extremo, nesta quinta-feira (09), vistas da margem de Ontário, na fronteira com os EUA - Aaron Harris/Reuters
Um imenso redemoinho de ar denso e gélido, conhecido como ‘vórtex polar’ e frequente na região do Ártico, atinge nesta segunda-feira a maior parte do Meio-Oeste dos Estados Unidos, deixando partes do país com temperaturas perigosamente baixas e que devem quebrar recordes estabelecidos décadas atrás. As temperaturas abaixo de zero, os mais de 30 centímetros de neve e ventos fortes tornaram perigoso qualquer tipo de viagem. Autoridades fecharam escolas em cidades como Chicago, St. Louis e Milwaukee e pediram aos moradores que permaneçam em locais fechados.
A previsão dos meteorologistas é assustadora: -35ºC em Fargo, Dakota do Norte; -29ºC em Madison, Wisconsin; -27ºC em Minneapolis, Indianapolis e Chicago. A sensação térmica por causa dos ventos pode chegar a até -60ºC. "É um frio perigoso", disse o meteorologista Butch Dye, do Serviço Nacional de Meteorologia, no Missouri. Em muitas partes do país não fazia tanto frio havia quase duas décadas. O congelamento e a consequente gangrena de partes do corpo, principalmente extremidades, bem como a hipotermia, podem acontecer rapidamente a essas temperaturas.
Carro fica parcialmente coberto de gelo em Baltimore, nos Estados Unidos, nesta quarta-feira (08) - Patrick Semansky/AP

O prefeito de Indianapolis, Greg Ballard, elevou o nível de emergência da cidade para "vermelho", o que tornou ilegal dirigir pelas ruas, exceto no caso de emergência ou para buscar abrigo. A última vez que a cidade emitiu um alerta deste nível foi durante uma nevasca em 1978. Em vários Estados do Meio-Oeste, o tempo frio se soma aos problemas causados pela tempestade de neve ocorrida no final de semana. O Serviço Nacional de Meteorologia informou que mais de 28 centímetros de neve haviam caído no aeroporto internacional O'Hare, em Chicago, até as 18h de domingo.
Autoridades de transporte do Missouri disseram que está muito frio para que o sal seja eficiente para derreter a neve das ruas. Várias estradas de Illinois estavam fechadas por causa do acúmulo de neve. Mais de 1.000 voos foram cancelados no domingo em aeroportos de todo o Meio-Oeste, o que inclui aeroportos de Chicago, Indianapolis e St. Louis.
Muitas cidades estão praticamente paralisadas. Em St. Louis, onde houve precipitação de mais de 25 centímetros de neve, vários museus e instituições estão fechados. Shopping centers e cinemas também não estão funcionando e até mesmo a Hidden Valley Ski Resort, a única área de esqui da região, está de portas fechadas. As aulas foram canceladas em todo o Estado de Minnesota nesta segunda-feira, assim como em cidades e distritos de Wisconsin, Illinois, Indiana e Iowa, entre outros.
Imagem divulgada pela Nasa mostra névoa e gelo formados sobre a região dos Grandes Lagos, nos Estados Unidos - Nasa/AFP

Os Estados Unidos enfrentaram neste domingo temperaturas glaciais, de até -38°C em Wisconsin, e se preparavam para um início de semana ainda mais frio, quando vários recordes negativos poderão ser quebrados. Em Nova York, as condições meteorológicas obrigaram o fechamento, durante algumas horas pela manhã, do aeroporto internacional John F. Kennedy, depois que um avião derrapou na pista.
Um avião da Delta Airlines vindo de Toronto derrapou ao taxiar, mas não houve feridos entre as 35 pessoas que estavam na aeronave. Também houve atrasos nos aeroportos de LaGuardia, Nova York, Newark, Nova Jersey, e o da Filadélfia, na Pensilvânia.
No aeroporto O'Hare de Chicago - onde caíram de 20 a 25 cm de neve - a situação foi um pouco pior,  os voos chegaram a sofrer atrasos de mais de cinco horas.
O norte dos Estados Unidos e o Canadá já sofreram com uma tempestade de inverno que deixou ao menos 11 mortos desde o início do ano, e agora devem enfrentar temperaturas que poderão ocasionar uma sensação térmica de -50°C.
Mais frio em Atlanta do que no Alasca -  As nevascas atingiram o Missouri, na região dos Grandes Lagos, segundo os serviços meteorológicos americanos, que alertaram para temperatura potencialmente fatais em caso de exposição prolongada ao frio.
"A exposição a temperaturas extremadamente frias pode ser causa de hipotermia ou de congelamento", lesão que pode provocar necrose na pele, advertiram os serviços do governo. "A pele pode congelar em apenas cinco minutos com sensações térmicas de -45°C", assinalaram os serviços meteorológicos de Minneapolis e Saint Paul, as "Cidades Gêmeas" de Minnesota.
No entanto, o pior ainda está para vir e os recordes de temperatura negativa poderão ser batidos até terça-feira, no norte e nordeste dos Estados Unidos, e também em partes do sudeste, indicou o Weather Channel em seu site. Na segunda-feira, fará mais frio em Atlanta, a grande cidade do sul americano, do que em Anchorage, a maior cidade do Alasca, segundo a CNN.
Até segunda, a temperatura térmica poderá atingir os -54°C em Minnesota. Já na noite deste domingo, um recorde que remonta a 1967 poderá cair: a partida de futebol americano mais glacial da história do país. No estado de Wisconsin, a partida que será disputada entre os Green Bay Packers e os 49ers de San Francisco, pelos playoffs da NFL, poderá marcar um novo recorde.
No estádio Lambeau Field, que não é coberto como outros palcos esportivos, a sensação térmica poderá chegar aos -24°C, destacou o site packersnews.com, dedicado à equipe Green Bay.
De volta de seu estado natal do Havaí, onde passou 16 dias de férias com a família, o presidente Barack Obama sofreu o impacto do clima de inverno experimentado pelo norte e leste do país: o avião presidencial Air Force One pousou perto de Washington, e Obama enfrentou 2 °c e a chuva gelada que caía sobre a capital ameicana. No Havaí, fazia 27 °c no momento de sua partida.
O vizinho Canadá também se prepara para enfrentar o frio glacial - cerca de -17°c em Toronto na terça - e quedas de neve de até 25 cm anunciados para a noite deste domingo.
As margens do Lago Michigan, em Chicago, ficaram completamente congeladas. A cidade atingiu um recorde de mínima nos últimos 20 anos, com a temperatura chegando a cerca de -26° Celsius - Scott Olson/Getty Images/AFP


A onda de frio intenso registra novos recordes nos Estados Unidos e já forçou o cancelamento de mais de 2 300 voos nesta terça-feira. No Central Park, em Nova York, a temperatura registrada, -16º Celsius, é a mais baixa da história. Com os ventos, a sensação térmica deverá atingir -26ºC. Até mesmo ursos polares e pinguins em zoológicos foram colocados em locais fechados. Abrigos públicos estão lotados com moradores de rua que tentam escapar do frio e, no estado do Kentucky, um preso que havia fugido da cadeia pediu para voltar. Segundo autoridades locais citadas pela agência Associated Press, o homem de 42 anos identificado como Robert Vick escapou de um presídio em Lexington no domingo, mas acabou ligando para a polícia para escapar do frio. Ele foi submetido a exames e levado de volta ao complexo correcional.
Mulher remove a neve que cobriu seu carro, em Grosse Pointe, Michigan - Paul Sancya/AP

O jornal The Guardian apontou que o estado de Minnesota registrou -38,3ºC. Na cidade de Chicago, em Illinois, o frio atingiu -27ºC. Em um zoológico de Chicago, um urso polar que nunca desenvolveu a fina camada de gordura que os ursos do Ártico possuem, teve de ser colocado em um local fechado. Oklahoma, Texas e Indiana também tiveram dias de frio intenso. Em Nova York, um abrigo com capacidade para oitenta moradores de rua estava lotado na noite de segunda-feira e outras 179 pessoas dormiram em outras dependências da unidade, como a capela e a cafeteria. Na capital, bibliotecas, centros de recreação e outros espaços públicos foram abertos para quem quisesse fugir da temperatura de -14ºC.

Mulher remove a neve que cobriu seu carro, em Grosse Pointe, Michigan - Paul Sancya/AP

O sistema de transporte também segue enfrentando problemas. Ao norte de Illinois, 500 passageiros passaram a noite dentro de um trem que atolou na neve. Já os aeroportos operam com dificuldades. Toronto, a maior cidade do Canadá, interrompeu todos os voos no aeroporto internacional por causa do congelamento de equipamentos. Ao todo, 3.700 voos foram cancelados nos aeroportos dos Estados Unidos e do Canadá na segunda-feira. As autoridades relacionam pelo menos quinze mortes ao frio, onze por acidentes de carro e duas por hipotermia, informou a rede CNN.
A primeira grande nevasca do ano atingiu o nordeste dos Estados Unidos nesta quinta-feira, trazendo uma grossa camada de neve para as ruas de cidades como Nova York, Chicago e Boston e provocando o cancelamento de milhares de voos no país. Os governadores de Nova York e Nova Jersey declararam estado de emergência na quinta-feira. A primeira grande tempestade de inverno em 2014, que está sendo chamada de "Hércules" pela imprensa americana, levou muito frio e vento numa faixa que ia do baixo vale do Mississippi à costa atlântica, com quase 60 centímetros de neve caindo em algumas áreas de Massachusetts.
A nevasca representa o primeiro grande desafio do novo prefeito de Nova York, Bill de Blasio. Há décadas prefeitos enfrentam problemas políticos por causa disso. As autoridades deveriam interditar estradas ao sul da cidade de Albany e a leste de Nova York, onde a precipitação de neve deve chegar a 20 centímetros nesta sexta-feira. Na manhã de sexta-feira, um pouco mais de 8 centímetros já se acumulavam no Central Park. "Esta é a primeira de muitas vezes que eu direi: ‘Por favor, fiquem em casa. Não fiquem nos seus carros. Se vocês não precisarem sair, por favor não saiam'", disse De Blasio após a sua primeira reunião de gestão de emergências.
Máquinas trabalham para limpar a neve de uma das pistas do aeroporto JFK, em Nova York - Andrew Gombert/EFE

Boston – Moradores de Boston também enfrentam mais de 30 centímetros de neve acumulada na manhã de sexta-feira, e o Aeroporto Internacional Logan informou que até um quarto dos voos programados foram cancelados na tarde e noite de quinta-feira. Ao todo, quase 2.500 voos foram cancelados nos EUA, e outros 7.000 tiveram atrasos. Os aeroportos mais afetados foram o O'Hare (Chicago) e o Liberty (Newark, perto de Nova York), segundo o site Flight Aware, que monitora voos.
Os três principais aeroportos da Grande Nova York se preparam para acomodar passageiros retidos. Os governadores de Nova York, Andrew Cuomo, e Nova Jersey, Chris Christie, dispensaram funcionários não essenciais de trabalharem na sexta-feira nas repartições públicas. As escolas de Hoboken e Jersey City, em Nova Jersey, estão fechadas na sexta-feira.
De acordo com a rede BBC, na cidade de Boxford, ao norte de Boston, a neve acumulada já atingiu 53 centímetros de altura. A tempestade de inverno também afetou o Canadá, que registrou temperaturas de 26 graus negativos em Montreal e Winnipeg. Meteorologistas estimam que a nevasca possa piorar ainda mais durante a madrugada e a manhã e muitas escolas da região já anunciaram que não vão abrir as portas nesta sexta-feira.
"Nós vamos ver muita neve e muito vento", resumiu Jason Tuell, do Serviço Nacional de Meteorologia americano. No Brasil, a TAM anunciou que dois voos com destino a Nova York, um de São Paulo e um do Rio, foram adiados da noite de quinta para as 6h de sexta por causa da nevasca. Autoridades americanas também decidiram fechar algumas estradas nas áreas mais afetadas pela tempestade para evitar acidentes.

Rodrigo Pizeta, Especialista em Gestão Ambiental
+55(27) 99944 - 8003
arvore.ae@gmail.com

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