quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Ambiente: “Decrescimento”, proposta elitista

por Vivenç Navarro* 14/10/2013
Preservação da natureza tornou-se bandeira essencial para superar lógicas capitalistas. É triste vê-la associada a concepções que negam direitos sociais. Foto: Sebastião Salgado

Desde seu início, o movimento ambientalista teve duas vertentes ou versões. Uma assume que o maior problema relacionado à devastação da natureza deve-se ao crescimento demográfico, que, ao gerar o consumo de cada vez mais recursos, acabará tornando o planeta inabitável.
O autor mais conhecido desta tendência, que poderíamos chamar de malthusiana, é Paul Ehrlich, que termina seu famoso livro The Population Bomb com este parágrafo: “A causa mais importante da degradação ambiental em escala planetária é fácil de localizar. A raiz do problema é que cada vez há mais automóveis, mais fábricas, mais detergentes, mais pesticidas, menos água, muito dióxido de carbono – porque há gente demais no mundo”.
Desta explicação da crise ambiental, Paul Erlich deriva sua proposta de solução baseada no controle do tamanho das populações. Esta versão aparece de muitas maneiras, e com distintos matizes. Costuma estar acompanhada pela teoria da limitação dos recursos consumidos – dentre eles, os recursos energéticos seriam um exemplo claro. A futura limitação de fontes de energia não renováveis tende a ser o caso citado como sinal de alarme, pelos autores pertencentes a tal tradição.
A outra versão do movimento ecologista já não identifica tanto degradação ambiental com crescimento das populações. Prefere focar no uso de tecnologias ou substâncias tóxicas ou contaminantes, que podem ser substituídas, independentemente do crescimento da população. Um de seus expoentes foi Barry Commoner, fundador do movimento ambientalista progressista nos EUA. Diferenciando-se da versão conservadora – caracterizada pelo determinismo demográfico – ele baseou suas propostas na mudança ou substituição dos recursos e tecnologia utilizados. Questionou a inevitabilidade da degradação ambiental, que Ehrlich considerava consequência do crescimento demográfico. Barry Commoner mostrou, como exemplo da reversibilidade do dano ambiental, a redução das emissões de CO², quando se troca os caminhões por trens, no transporte de mercadorias. A substituição da energia nuclear por fontes renováveis, como a solar ou eólica, é outro caso clássico.
Em vários textos, que se converteram em clássicos, Commoner analisou a contaminação atmosférica em diversos países, desenvolvidos e subdesenvolvidos, mostrando que a variável mais importante para explicar a qualidade ambiental não era a população e sim a tecnologia utilizada. Países com população escassa podiam ser muito contaminantes; e países muito povoados não estavam fadados a devastar a natureza, pois podiam utilizar tecnologias que não afetavam negativamente o ambiente (Commoner, Barry “Rapid Population Growth and Environmental Stress” e “Population, Development, and Environment: Trends and Key Issues in the Developed Countries”, ambos publicados no International Journal of Health Services, Volume 21, 1991 e Volume 23, 1993). A população podia ser uma variável importante no crescimento da toxidade, mas o impacto da tecnologia utilizada era muitas vezes superior. Barry Commoner questionava o catastrofismo que costuma caracterizar a versão ecologista conservadora, referindo-se à melhora da condição das águas em diversos rios norte-americanos, resultado da regulação do fluxo de seus cursos.
Esta consciência levou Commoner a analisar por que algumas tecnologias eram mais utilizadas que outras. E isso o conduziu ao estudo da estrutura econômica e energética de um país. Concluiu que a estrutura de poder que sustenta cada tipo de produção é causa da degradação ambiental. Preocupava-o muito, por exemplo, a enorme concentração da propriedade das energias não-renováveis, que coincidia com a das renováveis. Daí surgia um grande problema.
As teorias do Decrescimento
Um paralelo semelhante pode ser traçado agora com algumas das teorias do “Decrescimento”. Num momento em que muitas economias não crescem, causando enormes danos, como desemprego elevado, aparecem teses econômicas para as quais o crescimento é, por natureza, maléfico, pois consome recursos que seriam finitos, cuja desaparição causará danos gravíssimos. Em contrapartida, o Decrescimento seria uma evolução positiva, forçando-nos todos a ser mais austeros no consumo. Como bilhões de seres humanos já vivem em condições de enorme austeridade, não fica claro que devem fazer seus países, exceto desincentivar que se consuma mais. A solução, portanto, seria aplicável aos países de grande consumo, comumente conhecidos como “países economicamente desenvolvidos”. É aí que se concentra a proposta de reduzir o consumo considerado desperdício de recursos finitos e insubstituíveis.
O problema é que esta proposta (tal como Barry Commoner criticava a Paul Ehrlich) assume erroneamente que há apenas um tipo de consumo e atividade econômica; e uma maneira de crescer economicamente. Não compreende, portanto, que o “crescimento” é uma categoria contábil, cujo caráter, genérico, diz muito pouco. Pode-se crescer economicamente produzindo prisões e tanques de guerra; e pode-se crescer construindo escolas e investigando as curas para o câncer. Pode-se crescer construindo mais arranha-céus ou transformando as edificações já existentes, para que economizem energia e se tornem mais habitáveis. Ser anti-crescimento, sem qualificar o que se quer fazer, expressa um certo imobilismo, que prejudicará os mais frágeis na sociedade. É o que já observamos agora, quando as sociedades estão decrescendo.
A questão não está, portanto, em contrapor crescimento a decrescimento – mas em que tipo de crescimento, para que e para quem. As necessidades da população mundial são gigantescas. Exigir que o mundo deixe de crescer é negar a possibilidade de melhorar. Nem é preciso dizer que já existem recursos suficiente para permitir vida digna a todos os cidadãos do mundo. Tornar real esta possibilidade exigirá uma enorme redistribuição dos recursos – necessária, porém insuficiente, porque será preciso produzir mais e melhor, para satisfazer necessidades definidas democraticamente.
Esta redistribuição não passa necessariamente por uma redução do crescimento nos países desenvolvidos, como algumas vozes das campanhas pelo decrescimento sugerem. Na verdade, o tema relevante não é o crescimento, mas o tipo do crescimento. Substituir o transporte individual pelo coletivo, ou mesmo o carro movido a combustíveis fósseis pelo elétrico, não pressupõe crescimento menor, mas de outra natureza.
É isso que alguns defensores do decrescimento parecem ignorar. É necessário redefinir o que se entende por crescimento, mas parece-me errado assumir que há uma única forma de crescer e concluir, com isso, que o crescimento econômico é intrinsecamente negativo. Como também parece errado assumir que a inteligência humana – posta a serviço das necessidades da população, ao invés de ampliar a acumulação do capital – não possa redefinir os recursos materiais, de maneira que enriqueçam a qualidade ambiental do planeta, em vez de degradá-la. Já há muitos exemplos desta possibilidade, como bem documentou Barry Commoner.
Uma última observação. Nada do que disse deve ser interpretado como diluição de meu compromisso com a necessidade de tomar medidas radicais para prevenir a degradação ambiental. Aplaudo o esforço dos movimentos ambientalistas para conscientizar a cidadania sobre o grave problema criado pelo crescimento atual – pouco respeitoso, quando não hostil, à natureza, onde vivem as populações.
Mas este mesmo compromisso exige que eu seja crítico com as vozes que me parecem desejar nostalgicamente um mundo passado, negando a possibilidade do progresso. Há muitos anos, debati com Ivan Illich, criticando sua postura oposta à universalização dos serviços de Saúde — por considerar que negavam ao ser humano sua característica de ser autônomo, criando dependências em relação ao sistema médico. Este olhar para trás pode converter-se facilmente em mera atitude regressiva. É aqui que, temo, pode chegar este discurso anti-crescimento.

É preciso exigir outro tipo de crescimento – que responda às necessidades humanas e não à necessidade de acumular capital. Mas isso é muito diferente de paralisar o crescimento – o que seria um erro profundo.

RODRIGO PIZETA ESPECIALISTA EM GESTÃO AMBIENTAL: 
Projetos de Gestão integrada de resíduos sólidos
Perícia ambiental
Planejamento Ambiental
Gestão Ambiental nas empresas Consultor IS0 140001
Elaboração e Gerenciamento de projetos ambientais
Especialista em Formatação de Circuitos Turísticos Autosustentáveis 
+ 55 (27) 9944 8003 — arvore.ae@gmail.com

Pré-sal brasileiro é ouro em pó – Entrevista com Carlos Lessa

por Patricia Fachin, do IHU On-Line 21/10/2013
igepri.org



“Se o preço do barril de petróleo extraído continuar sendo o do padrão da Organização dos Países Exportadores de Petróleo – OPEP, de cem dólares, no campo de Libra teremos algo em torno de quatro trilhões de reais em vinte anos de produção”, estima o economista.
O governo federal brasileiro optou por leiloar o campo de Libra, a maior reserva petrolífera brasileira, por duas razões: “uma delas é geopolítica, ou seja, o país quer aparecer ao capital financeiro mundial como bem comportado. Para quê? Para atrair mais capital de curto prazo para o Brasil. A segunda razão é manter a política do tripé que foi instalada pelos tucanos e preservada pelos governos Lula e Dilma”, avalia o economista Carlos Lessa em entrevista concedida à IHU On-Line por telefone.
Lessa questiona o argumento da presidência da Petrobras, de que a empresa não tem capital financeiro para explorar o campo de Libra. “A Petrobras foi sendo espremida pelo governo nos últimos anos. O caixa da empresa era próximo a 70 bilhões de reais; hoje está reduzido a seis ou sete bilhões. (…) Mais do que isso: o Tesouro Nacional não queria construir o trem bala? Quer construir essa obra e não tem recurso para tocar para frente um campo de petróleo, que irá dobrar as reservas brasileiras? Nenhum país do mundo faz partilha de um campo já conhecido”. E dispara: “O argumento da Graça (Graça Silva Foster) é sem graça. É uma desgraça. Não consigo entender como isso está acontecendo se a presidente Dilma disse, em discurso quando candidata à presidência da República, que não iria privatizar o pré-sal”.
De acordo com o economista, a venda financiada de automóveis financia o consumo da gasolina no país, porque a Petrobras tem prejuízo com a venda nacional. Apesar disso, enfatiza, o governo não irá alterar o valor do produto. “Se mexer nisso perde a eleição, porque todas as famílias se endividaram comprando automóvel, e se o preço da gasolina pular para cima, Dilma não se reelege. Então, o governo tem de estabilizar a economia de qualquer jeito, mesmo que tenham que entregar a herança, ou seja, o pré-sal”.
Carlos Lessa é formado em Ciências Econômicas pela antiga Universidade do Brasil e doutor em Ciências Humanas pelo Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade de Campinas (Unicamp). Em 2002, foi reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ e, em 2003, assumiu a presidência do BNDES.
Confira a entrevista:
IHU On-Line – Economicamente, o que as reservas do pré-sal representam para o Brasil, especialmente o campo de Libra? Qual é o valor econômico desses poços?
Carlos Lessa – Se o preço do barril de petróleo extraído continuar sendo o do padrão da Organização dos Países Exportadores de Petróleo – OPEP, de cem dólares, no campo de Libra teremos algo em torno de quatro trilhões de reais em vinte anos de produção. Além disso, o campo de Libra equivale a 60% das reservas que têm as quatro maiores petroleiras do mundo, em torno de 25 milhões de barris cada uma delas. Espera-se que o campo de Libra venha a gerar em torno de 14 a 15 milhões de barris de petróleo.
A Petrobras, no Brasil todo, não chega a ter 14 milhões de barris. Então, só o campo de Libra dobra as reservas da empresa. Portanto, retirar a Petrobras desse processo de exploração do campo de Libra é um crime que lesa a pátria, porque este é um recurso absolutamente estratégico, o qual converte o Atlântico Sul, do ponto de vista geopolítico, em uma zona muito delicada, por uma razão muito simples: os EUA consomem, por ano, 27 a 28% da produção de petróleo do mundo inteiro, porque a produção petrolífera do país é insignificante. Hoje os EUA são um país sem petróleo, mas o maior consumidor do produto. Portanto, o petróleo do Atlântico Sul é a saída para eles. Mas imagina o Brasil entregando a sua riqueza estratégica maior de uma forma servil? O petróleo que tem no pré-sal é o melhor tipo de óleo do mundo, enquanto o petróleo da Venezuela, que é muito abundante, é pesado. Então, o pré-sal brasileiro é ouro em pó.
IHU On-Line – Quais são as razões que fizeram o governo optar pelo Leilão de Libra?
CarlosLessa 225x300 Pré sal brasileiro é ouro em pó   Entrevista com Carlos Lessa
Carlos Lessa. Foto: www.aepet.org.br
Carlos Lessa – As razões são falta de brasilidade e coragem. Agora, as razões formais levantadas são outras. A primeira delas é que os 15 bilhões a serem recebidos dos grupos que participarão da concessão do leilão representam mais que o dobro das reservas de caixa da Petrobras. A empresa foi descapitalizada ao longo dos últimos oito anos por conta de uma política suicida de vender a gasolina dentro do país a um preço menor do que o preço que o país importa. A Petrobras só se mantém lucrativa porque descobre poços e reavalia reservas, porque a gasolina dá prejuízo.
A Petrobras não pode entrar como concorrente na exploração do campo de Libra, porque quem descobriu o campo foi a própria empresa. Esse campo já havia sido cedido a uma concessionária estrangeira, que o devolveu porque não encontrou nada. A Petrobras tem uma vantagem enorme em relação a todos os outros concorrentes: ela tem a melhor sinergia possível do Atlântico, tem uma equipe de geólogos altíssima e, por isso mesmo, é alvo de espionagem sistemática. Essa onda de espionagem denunciada recentemente tinha duas questões prioritárias: fiscalizar a Petrobras e também as relações do Brasil com a Bolívia e a Venezuela.
É óbvio que o Brasil tem como financiar a exploração de Libra, e não precisa colocar o campo a funcionar imediatamente. O país precisa aumentar a produção de petróleo, mas não precisa aumentar muito. O fato é que é um crime a Petrobras descobrir o campo de Libra e ter de partilhar a exploração. Soube que o Ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, disse que o Brasil tem de fazer partilha, porque 1% das ações da Petrobras está em mãos de empresas estrangeiras, já que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso as vendeu na Bolsa de Nova York. Só que o contra-argumento é o seguinte: ao entregar Libra, o Brasil está entregando 100% do petróleo na mão dos estrangeiros. O argumento do ministro Lobão é maluco. Aí se diz que o Brasil reservou poderes para fiscalizar a exploração através da Petrosal. Mas quem será o presidente da Petrosal? Como o Brasil perde o seu futuro econômico sem sequer haver uma consulta à população?
IHU On-Line – Mas o argumento da presidência da Petrobras é de que a empresa não tem condições financeiras de explorar o campo de Libra. Qual é a situação financeira da Petrobras?
Carlos Lessa – Não é verdade. O capital da Petrobras foi sendo espremido pelo governo nos últimos anos. O caixa da empresa era próximo a 70 bilhões de reais; hoje está reduzido a seis ou sete bilhões. Mas, apesar disso, o Brasil tem reservas colossais, como o Banco Central, de 300 milhões de dólares. Mais do que isso: o Tesouro Nacional não queria construir o trem bala? Quer construir essa obra e não tem recurso para tocar para frente um campo de petróleo que irá dobrar as reservas brasileiras? Nenhum país do mundo faz partilha de um campo já conhecido. O país poderia fazer uma concessão caso quisesse ser um país petroleiro, mas eu pessoalmente quero dizer que não há pior destino nacional do que ser exportador de petróleo. Basta olhar pelo mundo o que acontece com esses países: são sociedades atrasadas, com desequilíbrios sociais brutais, gastam boa parte do que ganham com armamento, enfrentam guerras religiosas e são objeto de intervenção de outros Estados, como Iraque, Líbia.
IHU On-Line – Então, o que o Brasil deve fazer com essas reservas?
Carlos Lessa – O Brasil tem que controlar seus recursos estratégicos, independente de qualquer coisa, e não basta ter controle apenas em cima de uma Petrosal. O argumento da Graça (Graça Silva Foster) é sem graça. É uma desgraça. Não consigo entender como isso está acontecendo se a presidente Dilma disse, em discurso quando candidata à presidência da República, que não iria privatizar o pré-sal.
Economicamente, a postura do governo é uma besteira. Nenhum país exportador de petróleo conseguiu se dar bem na história mundial, com exceção da Noruega. O Brasil deve explorar essas reservas no ritmo em que a Petrobras consiga explorar, ou seja, capitalizar a empresa para isso. Como capitalizar? Há várias maneiras. Deixa eu ser Ministro da Fazenda por um mês para ver como se capitaliza a Petrobras. Como ela está com uma imensa reserva de petróleo, devem ter muitos grupos financeiros dispostos a se associarem a ela.
IHU On-Line – E a empresa deve buscar alguma parceria financeira?
Carlos Lessa - Não seria necessário, pelo seguinte: a Petrobras não pode se comprometer a investir 50 milhões de dólares a mais, considerando os programas que ela já está executando. Mas se ela começar a encontrar petróleo – e ainda vai encontrar mais petróleo rapidamente, e Libra deve estar produzindo muito em dois, três anos -, seu valor será multiplicado. E a Petrobras não precisa voltar todo o campo de produção imediata, ela precisa ter um ritmo de extração que corresponda à necessidade brasileira de desenvolvimento. Ou seja, gerar emprego para todos os brasileiros, melhorar as condições habitacionais, melhorar o sistema educacional, que está uma porcaria, fazer a cobertura médica. A realização de todos os nossos sonhos depende de o nosso país crescer 5, 6, 7% ao ano. Com a Petrobras, a economia do petróleo e um pouco de competência, o Brasil cresce sem dificuldade nenhuma.
IHU On-Line – Voltando às razões que fizeram o governo optar pelo leilão de Libra, concorda que motivos econômicos por conta das contas externas foram determinantes para a decisão?
Carlos Lessa - Este governo opta pelo leilão por duas razões: uma delas é geopolítica, ou seja, o país quer aparecer ao capital financeiro mundial como bem comportado. Para quê? Para atrair mais capital de curto prazo para o Brasil. A segunda razão é manter a política do tripé que foi instalada pelos tucanos e preservada pelos governos Lula e Dilma.
Eu e muitos amigos iremos para a frente do hotel onde será realizado o leilão. Todos estaremos de terno preto e ficaremos lá, de pé, assistindo. Irei lá porque os meus netos foram às manifestações de junho reivindicar um país melhor. Me sinto mal, como idoso, em vender as empresas do Brasil, porque meus netos serão prejudicados.
IHU On-Line – Qual a situação das contas externas do país? Alguns críticos ao Leilão de Libra dizem que o Leilão servirá para melhorar as contas externas. Como avalia esse apontamento?
Carlos Lessa – Não os levo a sério, porque eles querem que o país cresça menos, faça menos obras públicas e que se paguem mais juros para as aplicações financeiras. Na verdade, a única coisa que está salvando o governo Dilma são alguns projetos importantes que ela encaminhou, mas os empurrou com músculos moles, lentamente.
Hoje, a venda financiada de automóvel subsidia o consumo da gasolina. Sabe que a Petrobras está importando o litro da gasolina a R$ 1,72 e está vendendo a R$ 1,42? Então você acha que o governo vai mexer nisso? Claro que não! Se mexer nisso perde a eleição, porque todas as famílias se endividaram comprando automóvel, e se o preço da gasolina pular para cima, Dilma não se reelege. Então, o governo tem de estabilizar a economia de qualquer jeito, mesmo que tenham que entregar a herança, ou seja, o pré-sal.
IHU On-Line – Há alguns anos havia um entusiasmo em relação aos rumos da economia brasileira por conta do crescimento de 7% do PIB. Hoje, fala-se em declínio. O senhor concorda com essa análise? Quais as razões?
Carlos Lessa – Quem tinha essa expectativa? Eu nunca tive! Eu sempre chamei o crescimento brasileiro, nos últimos anos, de “voo de galinha”. Nós desperdiçamos a grande chance das matérias-primas de alimentos terem subido muito de preço no início dos anos 2000. Nós tivemos uma bonança externa espetacular, mas ao invés de elevar a taxa de investimento da economia, desperdiçamos isso de mil e uma formas. Mas agora a sociedade está mudando.
Olha, não quero ser profeta de apocalipse, não quero ver as coisas piores do que são; quero apenas dizer o seguinte: o Brasil tinha que estar colocando as barbas de molho em relação à crise mundial. Ela está aí, e não se apresentou toda. Eu estive na Grécia há dez dias e, andando do hotel até o museu, em quatro quarteirões na principal avenida da Atenas moderna, todas as lojas estavam fechadas e quebradas. Havia só uma loja aberta, na qual entrei. Quem me atendeu foi um senhor idoso, dono do estabelecimento. Elogiei a loja e ele informou que não tinha compradores. Também vi em Roma pessoas de terno dormindo na rua. A Europa está em uma situação muito ruim. Para você ter noção, eu vi em Atenas uma reunião de um partido nazista na rua. Eram 40, 50 pessoas reunidas, propondo a violência como solução: violência não se sabe contra quem, nem a favor de quem.
E o Brasil está simplesmente se movendo como se a globalização estivesse indo bem e pudesse dar sustentabilidade ao país. Vou dizer uma coisa: o que mais me escandalizou nessa viagem que fiz é a extensão com que se usa a expressão BRIC – Brasil, Rússia, Índia e China. Não existe isso, o que existe são quatro países imensos, com problemas muito diferentes e sem nenhuma possibilidade de atuar juntos. Aliás, eu sempre disse isso nos últimos meses, e hoje mesmo os jornais estão dizendo que o Brasil está brigando com a China porque a China está apoiando os Estados Unidos em uma proposta internacional em relação aos serviços. O Brasil e a China são contrários, corretamente. Mas a China é parceira dos Estados Unidos; o que existe no mundo é um G2. Sabe por que o Brasil gosta da ideia de BRIC? Para dizer “olha como sou grande, como sou forte, como sou emergente”. É emergente, mas o PIB brasileiro cai sem parar. O país está desindustrializando.
IHU On-Line – E a razão desse declínio da economia é a desindustrialização?

Carlos Lessa – Esse declínio está relacionado ao fato de o Brasil não ter nenhum projeto nacional, porque adotou a proposta do Consenso de Washington, no período do Collor de Melo, o qual foi mantido pelos tucanos e petistas. Na verdade, o Brasil não tem projeto nenhum, a não ser de se integrar à globalização. Aliás, a sensibilidade financeira brasileira ao que acontece fora do mundo é assustadora. Ontem, as bolsas de valores do mundo subiram, porque teve uma conversa inicial boa entre os republicanos e os democratas. Sabe qual a bolsa que mais subiu? A Bovespa. É a que mais baixa também quando tem qualquer coisa fora. Sabe por quê? Porque o Brasil está inteiramente aberto ao jogo financeiro internacional, e agora vai abrir mão da soberania nacional entregando a maior riqueza do país, ou seja, o monopólio estatal do petróleo que foi mantido pela Constituição de 1988 e foi modificado por uma emenda constitucional, a qual nunca foi submetida a plebiscito popular.

RODRIGO PIZETA ESPECIALISTA EM GESTÃO AMBIENTAL: 
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Pantanal recebe parceria internacional em prol da educação ambiental

Por Projeto Bicho do Pantanal 28/10/2013



Projeto Bichos do Pantanal lança suas atividades em Cáceres e inaugura parceria entre pesquisadores de Mato Grosso e a Universidade do Kansas.
Com o lema “Conexão com a Natureza: Conhecer para preservar a vida”, o projeto Bichos do Pantanal, patrocinado pela Petrobras, por meio do Programa Petrobras Ambiental, e realizado pelo Instituto Sustentar de Responsabilidade Socioambiental, lança o seu projeto de educação ambiental em Cáceres, no Mato grosso. 
O lançamento de um edital para contratação de monitores de educação ambiental e também uma parceria que promoverá o intercâmbio de ensino entre professores e pesquisadores de Cáceres e docentes da universidade do Kansas, no EUA, são outras ações do projeto que serão divulgadas durante a cerimônia.
Educação Ambiental
O foco dessa etapa do projeto Bichos do Pantanal é trazer a natureza para a sala de aula seguindo metodologias já comprovadas como eficazes na melhora do desempenho escolar. Uma das propostas é o programa Rio das Palavras (Rivers of Words), no qual professores podem estimular as crianças a criarem arte e poesia a partir da inspiração despertada pelo Rio Paraguai. Outra proposta é a escolha de um animal símbolo do Pantanal para que as crianças pesquisem e aprendam todas as conexões que o ecossistema possui com aquela espécie. “Existem muitas possiblidades e propostas de educação ambiental, o mais importante é que vamos construir os programas em parceria com os professores, educadores e gestores de Cáceres”, afirma Douglas Trent, pesquisador-chefe e mentor do projeto Bichos do Pantanal.
Apesar de ser uma das cidades polo do Pantanal, muitas das crianças de Cáceres sequer conhecem o rio Paraguai. “Eu mesma já levei alunos da zona rural do município que nunca tinham visto o rio. É uma dura realidade, mas como estamos em uma região muito pobre, muitas alunos só conhecem o Pantanal que conseguem visitar de bicicleta nas imediações da cidade”, afirma Nelci Eliete Longhi, secretária de Educação de Cáceres. “Agora poderemos levar muitas dessas crianças para o Pantanal e também levar o Pantanal para a sala de aula”, conclui Nelci.
O foco do projeto não é apenas apresentar o ecossistema Pantanal nas 49 escolas de educação infantil e ensino fundamental de Cáceres, mas também sensibilizar professores e alunos para a importância da preservação desse bioma.
A gestora do Projeto Bichos do Pantanal pela Petrobras, Leyla Maciel, também vai participar da cerimônia de lançamento da projeto Escolas Bichos do Pantanal. O foco dessa aliança são os programas Conexão com a Natureza e Escolas Verdes que juntos vão atingir cerca de 10 mil crianças e jovens matriculadas na rede municipal de ensino de Cáceres.
Também estarão presentes na cerimônia Francis Maris, prefeito de Cáceres, e William Dent, mentor do Sebrae nacional e um dos maiores especialistas do mundo em empreendedorismo, ex-presidente da Associação das Escolas Verdes da América do Norte (North American Association for Environmental Education – NAAEE) e coordenador de educação ambiental do projeto Bichos do Pantanal.
Sensibilizar a população sobre a importância do Pantanal e reforçar a mensagem de como a preservação do meio ambiente pode ser uma ferramenta para melhorar a qualidade de vida local são alguns dos resultados esperados. O treinamento dos monitores ambientais vai ser ministrado por Idárci Esteves Lasmar, mestre em didática e especialista em sistemas educacionais pela Universidade de Israel.
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“Nosso objetivo é divulgar informações sobre as riquezas naturais da região, para que esse conhecimento se torne um suporte de apoio para a população local valorizar o patrimônio natural onde vive”, afirma Jussara Utsch, coordenadora-geral do Bichos do Pantanal. “Nós vamos levar a educação ambiental para as escolas buscando novas soluções de ensino, como despertar na criança o interesse pela natureza que está próxima, como as comunidades de formigas e as árvores. A partir dai, vamos estender esse conhecimento até esses alunos serem inseridos em toda a complexidade do ecossistema Pantanal”, explica Douglas Trent.

O projeto vai criar uma rede de suporte de atividades que resultem no desenvolvimento sustentável da região. O treinamento de guias especializados para o turismo de observação da vida silvestre e técnicas de manejo para a pesca amadora, com práticas de pesque e solte que garantam a sobrevivência dos animais, são outras atividades que serão desenvolvidas em Cáceres pelos técnicos e parceiros do projeto Bichos do Pantanal. “Uma em cada dez pessoas do mundo trabalha vinculada ao turismo. Os maiores índices de crescimento do setor são representados pelo ecoturismo, especialmente em relação à observação de espécies de vida silvestre. Por isso, vamos focar no desenvolvimento de atividades que deem suporte ao ecoturismo como uma forma da população local ter novas fontes de renda com ações em favor da preservação do Pantanal”, afirma Douglas Trent.
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Eficiência na energia, sem horário de verão

por Washington Novaes* 28/10/2013


Diz o noticiário (Agência Estado, 20/10) que será de R$ 400 milhões a economia de energia (0,5%) que o País fará com o horário de verão, nas duas horas de pico do consumo (19 às 21 horas), até 16 de fevereiro. Serão 2.065 MW no Sudeste e no Centro-Oeste, mais 630 MW no Sul, “sobretudo de usinas térmicas”. A razão invocada pelo Ministério de Minas e Energia é o baixo volume de água retido em reservatórios de usinas hidrelétricas.
No País todo, diz a Empresa de Pesquisa Energética, o consumo per capita de energia é de 2.500 MWh, que, multiplicados por mais de 200 milhões de pessoas, se traduzem em 532 mil GWh. Na geração de energia em 2011 – segundo conferência do professor José Goldemberg (Problemas Brasileiros, setembro/outubro 2013) – a hidreletricidade respondia por 86%; pequenas centrais hidrelétricas (PCHs), por 4%; térmicas a gás, por 3%; nuclear, por 3%; eólica, biomassas, a óleo (biocombustível, gás/óleo), por 1% cada; e usinas a carvão mineral, também por 1% cada.
A ABEEólica, que congrega as usinas movidas por ventos, afirma que o setor já tem hoje 2,7 GW e chegará a 16 GW até 2021 (o que nos poderia dispensar das usinas movidas a carvão mineral, as mais poluidoras entre todas). É preciso acrescentar que, até aqui, a área federal tem desestimulado os projetos nessa área das eólicas, a ponto de haver impedido, recentemente, sua participação em leilão para novas usinas -, depois de vir a público que dezenas de usinas já instaladas no Nordeste não entravam em atividade porque o governo federal, a quem cabia a obrigação, por contrato, não construíra as linhas para levar a energia das turbinas até as linhas de transmissão. Também há fontes, já citadas em outros artigos neste espaço, segundo as quais estamos perdendo nas linhas de transmissão até 17% da energia gerada – a área federal dá números menores.
A inconveniência das térmicas a carvão, além da poluição gerada, está também no preço – a ponto de, no mais recente leilão de novos projetos, nenhuma das três que concorriam pôde ir adiante, já que seu preço, de R$ 170 por MWh, era superior ao teto do edital, de R$ 140 (Folha de S.Paulo, 11/9).
Seria o horário de verão indispensável mesmo? Não haveria outros caminhos para evitar os contratempos para mais de 100 milhões de consumidores? No debate com o professor Goldemberg mencionado há poucas linhas, Mário Ernesto Humberg (Pensamento Nacional das Bases Empresariais) citou estudo segundo o qual seria viável reduzir o consumo de energia no País em 30%. O próprio professor Goldemberg lembrou, em outra ocasião, que hoje mais de 50% do consumo de energia nos shopping centers brasileiros vai para sistemas de ar-condicionado, que, por sua vez, servem para enfrentar o aquecimento gerado pelo sistema de iluminação em estabelecimentos absolutamente fechados para o ambiente externo, que não se servem em nada da iluminação natural. Um círculo vicioso de desperdício.
É assim mesmo. Há pouco tempo o autor destas linhas, ao participar de um evento no auditório da Oca, no Parque do Ibirapuera, às 10 horas de uma manhã luminosa, de céu azul, fez questão de contar: havia centenas de luminárias acesas no salão, exatamente porque não entrava no ambiente nenhuma iluminação natural. E teve oportunidade também, na época em que foi secretário de Meio Ambiente, Ciência e Tecnologia do Distrito Federal (1991-1992), de participar de um episódio demonstrativo.
O Distrito Federal importava na época, de usinas em outros Estados, 97% da energia que consumia e, na prática, exportava renda – num lugar com crescimento vertiginoso da população, por causa das migrações, e que precisava também por isso gerar renda e empregos em alta densidade. A secretaria propôs, por essa razão, implantar um programa de conservação de energia e eficiência energética. Começando pelo setor público, que consumia cerca de 20% da energia total. Se conseguisse reduzir em 25% o consumo, seriam 5% do consumo total que deixariam de ser providos pela energia gerada fora.
Criado um grupo de trabalho com vários secretários e dirigentes de empresas para conceber e implantar o programa – que começaria pelo edifício anexo ao Palácio Buriti, onde havia várias secretarias -, na primeira reunião, logo que expostos os objetivos, um dirigente da empresa distrital de energia afirmou que não cumpriria o programa porque “seria linchado por funcionários e fornecedores”, com a redução do faturamento da empresa (proporcional à redução do consumo). Foi preciso criar um caminho adicional para que o governo levasse para a empresa, sob a forma de aporte de capital, o equivalente à redução do faturamento.
Iniciada a implantação no anexo do Buriti, verificou-se que, em projeto recente, o arquiteto optara pelo comando centralizado de energia por pavimento. Para acender uma única luminária era preciso acender todo o pavimento, houvesse ou não necessidade. A única forma foi desligar manualmente luminárias, porque um estudo da iluminação demonstrara que a luz que vinha do exterior era três vezes maior que a necessária naquele lugar. Mas com o desligamento e outras providências foi possível reduzir em 40% o consumo de energia no anexo. Só que com a saída do secretário de Meio Ambiente todo o programa foi esquecido.
O episódio serve para mostrar quanto desperdício pode ser evitado ou combatido – sem obrigar a população a fazer sacrifícios. E a necessidade de caminhar em direção a outros programas de implantação de energias renováveis, de microgeração distribuída (como se está fazendo no Paraná, gerando energia a partir de dejetos de animais) e outros caminhos. Só nos edifícios brasileiros a economia seria enorme, pois eles respondem por 47% do total da energia elétrica consumida no País (urbanista Mônica Welker, UFRJ, revista Eco 21, setembro 2013).
Com mudanças na matriz energética e programas de conservação de energia não precisaremos de horário de verão.

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TERRAMÉRICA – Sol na mineração

por Marianela Jarroud* 07/10/2013
National Geographic


A energia solar pode abastecer uma parte da demanda elétrica da mineração chilena.
Painéis fotovoltaicos de projetos de pesquisa desenvolvidos pela Universidade de Antofagasta. Foto: Cortesia David Pasten

Santiago, Chile, 7 de outubro de 2013 (Terramérica).- A mineração no norte do Chile, primeiro produtor mundial de cobre, busca saciar sua avidez por energia com uma fonte renovável e sempre disponível: o Sol. A luz solar é abundante no deserto de Atacama, que concentra a maior radiação do planeta: entre sete e 7,5 quilowatts/hora por metro quadrado, segundo estudos da Universidade do Chile.
Se ali fossem instalados painéis fotovoltaicos que cobrissem uma área de 400 quilômetros quadrados, seria possível atender todo o consumo elétrico nacional. Entretanto, no momento quase toda a eletricidade do norte do Chile é consumida pela indústria da mineração em constante expansão, que já absorve 90% da geração. O restante vai para usos residenciais, comerciais e públicos.
Na região de Tarapacá, limítrofe com a Bolívia, foram levantados projetos solares no valor de US$ 1,4 bilhão. Entre eles, o parque voltaico Atacama Solar vai gerar 250 megawatts em uma superfície de mil hectares e custo de US$ 773 milhões. Na mesma região, o Complexo Solar Pica pretende injetar 90 megawatts no Sistema Interligado do Norte Grande, com investimento de US$ 228 milhões.
Em Antofagasta, um pouco mais ao sul, 1.700 quilômetros ao norte de Santiago, a estatal Corporação Nacional do Cobre (Codelco) inaugurou, em junho do ano passado, a Calama Solar 3, a primeira usina fotovoltaica industrial do país, destinada a fornecer energia elétrica para as áreas onde opera a mina Chuquicamata. A usina tem potência instalada de um megawatts e permitiu reduzir as emissões de dióxido de carbono em 1.680 toneladas por ano, de acordo com a Codelco.
O interesse das empresas mineradoras pelo Sol aparece quando estas veem fracassar, um após outro, planos energéticos tradicionais para abastecer seu crescimento, na maioria das vezes por decisões judiciais que consideram seus impactos ambientais. Os custos de energia subiram sete vezes na última década. E a mineração deve mostrar alguma redução de emissões de gases-estufa.
“As mineradoras demandam diversos tipos de energia, entre eles a energia elétrica e térmica” (aquecimento e transporte), disse ao Terramérica o acadêmico Edward Fuentealba, do Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade de Antofagasta. “As tecnologias solares atualmente podem abastecer a demanda térmica, o que significa substituir o diesel ou o gás, o que é rentável”, acrescentou. O Chile precisa importar quase todo combustível fóssil que consome.
A Solarpark, a empresa espanhola que construiu Calama Solar 3, assegura que se trata da usina fotovoltaica mais produtiva do mundo por unidade de potência instalada. A companhia já construiu Calama Solar 1 e 2, cada uma com nove megawatts, e iniciou, em março, a instalação em Tarapacá da usina Pozo Almonte Solar, de 25 megawatts, para fornecer durante o dia 13% da energia que a mineradora Doña Inés de Collahuasi necessita. Segundo a empresa, seu funcionamento evitará a emissão de 50 mil toneladas de dióxido de carbono (CO2) por ano.
Apesar do entusiasmo, a energia solar tem limitações porque não está disponível nas 24 horas do dia, explicou Fuentealba. “Hoje, pode abastecer a demanda elétrica em uma porcentagem limitada, inferior a 20%, seja com tecnologias fotovoltaicas ou de concentração”, que utilizam lentes ou outros dispositivos ópticos para concentrar grande quantidade de radiação em uma pequena superfície de células geradoras.
O armazenamento é o problema “quanto a ofertar energia nas horas sem luz solar”, afirmou Fuentealba. Porém, nos próximos anos, “temos a certeza de que podemos aumentar essa porcentagem para ir substituindo combustíveis fósseis até termos um sistema dependente apenas de energias limpas”, acrescentou.
O subsecretário de Energia do Chile, Sergio del Campo, informou ao Terramérica que está em estudo armazenar energia solar em sais fundidos, nitratos de sódio e de potássio, que são produzidos no norte. Isso permitiria um fornecimento elétrico contínuo, já que parte do calor capturado seria usado para esquentar os sais fundidos até cerca de 570 graus e acumulá-los em um grande tanque que funciona durante a noite para produzir vapor, que movimenta uma turbina geradora de eletricidade.
“Esse armazenamento poderia representar até 80% de produção de energia no ano, podendo chegar a 90%”, pontuou Del Campo. No longo prazo, “a energia solar, com preço semelhante ao do carvão, poderia ser uma alternativa real para o norte”, destacou.
Juan Carlos Guajardo, diretor-executivo do Centro de Estudos do Cobre e da Mineração (Cesco), acredita que a solução para a escassez energética das mineradoras está no Sol. A demanda não atendida de eletricidade dessas empresas foi o que elevou os custos, e os dois problemas só podem ser abordados com soluções de grande envergadura, que garantam uma oferta abundante, ressaltou ao Terramérica.
A geração termoelétrica, a carvão ou diesel, e a hidrelétrica poderiam dar essa resposta. Mas os problemas ambientais ou sociais mantêm paralisados esses projetos ou os derrubam. Envolverde/Terramérica

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Lição ambiental

Por Xico Graziano 07/10/2013



Logística reversa: a expressão soa difícil, mas contém um bom princípio. Introduzido na gestão ambiental, estabelece uma corresponsabilidade: quem gera resíduo também deve cuidar da sua reciclagem. Tarefa para a verdadeira sustentabilidade.
Alguns exemplos ilustram o assunto. Veja na iluminação doméstica. Desde as ameaças do apagão de 2001, as antigas lâmpadas incandescentes, aquelas com filamentos que produzem luz (e calor) quando acesas, foram condenadas por causa do seu elevado consumo de energia. Acabaram substituídas por novos produtos, mais econômicos e bem mais longevos, embora mais caros: as lâmpadas fluorescentes. Os cidadãos se sentiram mais “ecológicos” ao promover a troca da tecnologia.
Acontece que, embora menos perdulárias em energia, as lâmpadas fluorescentes apresentam metais pesados em seu conteúdo vaporoso, característica que as torna inimigas do meio ambiente. Essa toxicidade exige que seu descarte seja cuidadoso, evitando especialmente contaminar as águas, superficiais ou subterrâneas. Por isso, quando uma lâmpada dessas parar de funcionar, ela deve ser levada a um ponto certo de coleta, para ser corretamente reciclada. Pergunto: você conhece algum lugar amigável desses?
De minha parte, nunca vi. Ninguém liga para o recolhimento de lâmpadas usadas. A situação é grave, pois a cada ano se fabricam 250 milhões de unidades fluorescentes e somente 6% delas, no descarte, entram no circuito da reciclagem. As demais se misturam com o lixo comum, enterradas nos aterros sanitários depois de terem os seus vapores mercuriais vazados no estouro dos invólucros envidraçados. Poluição somada ao desperdício.
Noutros ramos de consumo se detecta facilmente semelhante problema. O Brasil tornou-se recordista mundial na geração per capita do chamado “lixo eletrônico”. Joga-se a ermo, anualmente, cerca de 1 milhão de toneladas de celulares, televisores, aparelhos de som, computadores, juntamente com seus transformadores, codificadores, placas, circuitos e tantos componentes mais. Além do volume, estupendo, nos circuitos eletrônicos utilizam-se metais como cádmio, chumbo, berílio e também compostos químicos que, se queimados, liberam toxinas perigosas. Pergunto novamente: onde dispor corretamente os velhos aparelhos?
Difícil. Aqui e acolá, é verdade, se descobrem lugares para o descarte ambientalmente correto de baterias. Com aparelhos velhos, uma ou outra loja os aceitam. Tudo o que se faz, porém, representa pouco perante o tamanho da problemática, que só faz crescer. Basta vasculhar as gavetas das escrivaninhas domésticas para se encontrar porcaria eletrônica encostada, principalmente carregadores de celular, petrechos que nunca se acoplam no telefone novo recém-adquirido. Dá até dó ver aquela bagunça eletrônica emaranhada.
Embalagens de eletrodomésticos, cheias de isopores, recipientes plásticos de cosméticos e xampus, vasilhames de produtos alimentares, vassouras e rodos de limpeza domiciliar, por onde se observa se percebe essa incrível geração de resíduos sólidos, típica da sociedade de consumo. Os poderes públicos, com honrosas exceções, pouco atuam na coleta seletiva, entregando o problema às cooperativas de catadores, aos coitados moradores de rua. Desse dilema nasceu a logística reversa.
Incluída na Política Nacional de Resíduos Sólidos (2010), a legislação brasileira consolidou-a como boa prática ambiental. Mas, como sempre, a sistemática demora a sair do papel. As empresas resistem a montar estratégias e estruturas para retirar do mercado os restos das mercadorias que fabricam. Existe, todavia, uma exceção: trata-se do setor de agrotóxicos. É surpreendente.
Fruto de profícuo entendimento na cadeia produtiva, intermediado pelo Governo de Fernando Henrique Cardoso, empresas, produtores rurais, distribuidores comerciais, sindicatos, cooperativas e associações apoiaram a Lei 9.974 (2000), que estabeleceu a obrigatoriedade das empresas fabricantes de recolherem as embalagens dos produtos vendidos aos agricultores. Pouco tempo depois, as multinacionais criavam o Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (INPEV), entidade destinada a gerenciar o sistema, avançando pioneiramente na agenda da logística reversa. Pasmem: dos agrotóxicos.
Antes, a situação no campo andava complicada. Sem saber como proceder com os frascos vazios, os produtores rurais os enterravam, queimavam, jogavam nas bibocas, e até inadvertidamente os reutilizavam como recipientes para servir água aos animais, pondo em risco a saúde dos bichos, a sua própria e a do meio ambiente. Construída a solução, articulados com as cooperativas e com os revendedores, a ela aderiram. Em massa.
Hoje os agricultores compram seus pesticidas e os utilizam, fazem a chamada “tríplice lavagem” dos recipientes vazios – necessária para eliminar resíduos tóxicos – e os retornam para as 414 unidades de recolhimento espalhadas pelo território nacional. Estas direcionam as embalagens usadas para nove centrais de reciclagem, incluindo uma fábrica de aproveitamento (“ecoplástico”) de resina, montada em Taubaté (SP). Marcha à ré na rota da poluição no campo.
Exemplar, a experiência brasileira bateu o recorde mundial no recolhimento de embalagens vazias de agrotóxicos, recolhendo, em 2012, 94% do volume de recipientes. Esse índice supera longe o de países desenvolvidos, como Alemanha (76%), França (66%), Japão (50%), Austrália (30%) e Estados Unidos (30%). Feito sensacional da moderna agricultura brasileira.
A lição ambiental que vem da roça serve para a cidade. Basta querer fazer. Lâmpadas queimadas, ou lixo eletrônico, deveriam ser entregues na porta dos vendedores. Ou dos fabricantes. Eles que se virem.


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