sábado, 29 de agosto de 2015

Smart Cities: a tecnologia em favor da mobilidade

Tecnologia é o eixo condutor do encontro. Foto: Connected Smart Cities
Por Du Dias, do Mobilize Brasil – 
Empresas, entidades, órgãos governamentais e especialistas se encontram para debater a construção de cidades inteligentes a partir do uso da tecnologia. 
Teve início nesta semana, em São Paulo, o Connected Smart Cities, evento organizado pela empresa Setor para debater soluções inteligentes para as cidades brasileiras. Durante os 3 dias de evento se reúnem empresas de serviços e tecnologia, especialistas, prefeituras, órgãos governamentais e profissionais engajados na otimização dos municípios, buscando inspiração para soluções em mobilidade; urbanismo; meio ambiente; energia; tecnologia e inovação; saúde; segurança; educação e empreendedorismo.
O Fórum conta com a participação de especialistas dos eixos temáticos explorados no evento e apresenta iniciativas realizadas em cidades consideradas inteligentes no Brasil e ao redor do mundo, procurando maneiras de adaptar conceitos, além de criar novos, para tornar os nossos municípios cada vez mais inteligentes. Vale destacar que o conceito de cidade inteligente adotado se refere especialmente à utilização de tecnologias digitais da informação e comunicação (TIC), ou seja, um ambiente físico no qual as tecnologias de comunicação e de informação, além de sistemas de sensores, estão embutidos nos objetos físicos e nos ambientes nos quais vivemos, viajamos e trabalhamos para gerar e analisar dados.
Na abertura do evento foi destacada a importância fundamental da conectividade entre pessoas e dispositivos na aplicação do conceito de Smart City. Com conectividade total seria possível beneficiar cidadãos, governos, instituições e empresas nas mais diversas dimensões: estratégica, tecnológica, de governança, legal e operacional. Estes benefícios estariam relacionados à coleta, organização e sistematização de dados das mais diversas áreas para criar soluções e ações específicas, já que entende a cidade como uma complexa rede de informações. Para isso, no entanto, seria necessária uma série de adequações e investimentos em infra-estrutura que vão desde o cabeamento de fibra ótica à construção de centros operacionais altamente tecnológicos.
Neste primeiro dia foram apresentados os indicadores do ranking Connected Smart Cities, que premiou as cidades brasileiras que mais se alinham ao conceito – Rio de Janeiro; São Paulo; Belo Horizonte; Brasília; Curitiba; São Caetano do Sul; Vitória; Florianópolis; Porto Alegre e Recife. Também foi realizada a apresentação do grupo de trabalho da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI). Entre os palestrantes estiveram presentes o gerente de projetos da Secretaria de Telecomunicações do Ministério das Comunicações, Thales Marçal; Alessandro Campos, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e Luis Otávio Reis do BNDES, entre outros.
No segundo dia do evento o Mobilize Brasil acompanhou as discussões do eixo temático de Urbanismo, sobre a transformação do modelo atual de gestão da cidade para um modelo de cidade inteligente e sustentável.
– O presidente da Urban System, Thomaz Assumpção traçou uma relação entre a visão econômica de desenvolvimento e seu reflexo na questão urbanística;
– O diretor de projetos da Granja Marileusa, Flávio Oliveira apresentou o projeto da Granja e a metodologia utilizada no seu desenvolvimento;
– O presidente da Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura (ASBEA), Eduardo Nardeli destacou entre outros pontos a importância das redes sociais na difusão e monitoramento da sustentabilidade;
– O presidente do Centro de Tecnologia de Edificações (CTE), Roberto de Souza relacionou a construção de cidades sustentáveis com os empreendimentos sustentáveis;
– O diretor adjunto da ARUP, Pablo Lazio falou de como as cidades inteligentes nasceram do desafio de lidar com as questões climáticas;
– O secretário de projetos estratégicos da Companhia de Desenvolvimento Urbano da região do Porto do Rio de Janeiro, Jorge Arraes falou majoritariamente do Porto Maravilha.

No segundo painel dentro do eixo de Urbanismo, a temática em discussão foi como tornar as cidades verdadeiramente humanas.
– Saulo Nunes, diretor de incorporação da Odebrecht, apresentou o projeto Parque da Cidade – segundo ele o empreendimento imobiliário mais sustentável da América Latina;
– Renato Conde, da Rocco Vidal Perkins destacou que a busca por cidades inteligentes deve ser diretamente relaionada com busca por melhor qualidade de vida;
– Fernando de Melo Franco, da prefeitura de São Paulo, compartilhou informações sobre o desenvolvimento do sistema municipal de informações;
– O vice-presidente do SECOVI-SP, Cláudio Bernardes apresentou dados que relacionam a riqueza à felicidade, destacando o interesse público no planejamento urbano;
– Elias de Souza, da Deloitte apontou para a necessidade de pensar o conceito de Smart Citys não apenas para as grandes metrópoles, mas também para pequenas cidades;
– O britânico Daniel Cook da RICS ponderou sobre as ações que precisam ser tomadas no futuro em vista do aumento na concentração de renda e do cenário internacional de instabilidade.

Rodrigo Pizeta é especialista em Gestão Ambiental



Mobilidade que não sai do papel

Vitor Leal, do Greenpeace Brasil, participou da mesa de debate na Câmara dos Deputado. Foto: © Alan Azevedo / Greenpeace

Por Redação do Greenpeace Brasil –
Câmara estuda prorrogar prazo de entrega do Plano de Mobilidade. Estender a data não é a única preocupação; sem apoio técnico, municípios não são capazes de desenvolver e entregar planejamento adequado e de qualidade.
A Câmara dos Deputados discutiu na terça-feira (25), em audiência pública da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania, o prazo exigido para a apresentação dos Planos de Mobilidade Urbana pelos municípios brasileiros. Segundo o Projeto de Lei (PL) 7898/14, de autoria do deputado Carlos Bezerra (PMDB/MT), um novo período de mais três anos seria concedido para a elaboração e apresentação do plano de mobilidade. O Greenpeace foi um dos convidados a participar do debate.
Em abril de 2015, apenas 30% dos municípios acima de 500 mil habitantes estavam com o plano concluído ou em construção. A situação é ainda pior se olharmos para as cidades com mais de 50 mil habitantes: 95% não conseguiram finalizar o plano.
Mesmo sendo uma demanda que se iniciou em 2013, com a alta dos protestos no País inteiro pela melhoria do transporte público, a maioria das cidades ainda não começou a trabalhar nisso. É o caso da capital gaúcha Porto Alegre, que iniciou seu planejamento apenas nesse segundo semestre de 2015.
“A primeira bofetada que o cidadão recebe quando sai de casa é o transporte público”, brincou o deputado Raul Jungmann, um dos requerentes e presidente da audiência pública. Melhorar a mobilidade nas cidades é de fato necessário.
Para Vitor Leal, da campanha de Clima e Energia do Greenpeace Brasil, “se não tivermos plano de mobilidade urbana, os investimentos serão em infraestrutura para o carro: pontes e viadutos, duplicação e recapeamento de vias… Se não há transporte público de qualidade, as pessoas que podem utlizarão automóvel e as que não podem continuarão a penar nos ônibus”. Segundo ele, todos sofrem os impactos dos congestionamentos, das colisões de trânsito e da poluição atmosférica.
No entanto, o processo de construção dos Planos de Mobilidade Urbana não está claro e apresenta problemas. “O plano não tem um formato específico de saída. Em alguns lugares sai como decreto, em outros segue em frente como um Projeto de Lei… isso precisa ficar mais claro tanto para sociedade como para o gestor público. Só assim garantimos sua implantação”, pontuou Leal.
Paulo César da Silva, professor do Programa de Pós-Graduação em Transporte da Universidade de Brasília (UnB), destacou a baixa capacidade técnica dos municípios em elaborar esse planejamento. “Existe uma carência de informação e desconhecimento da realidade causada pelo enfraquecimento dos mecanismos do Estado. É uma navegação no escuro”.
Grande maioria dos municípios que não apresentou seus planos de mobilidade urbana tem menos de 250 mil habitantes. “Criamos equipes que intervêm nos municípios com seminários e oficinas. Nosso objetivo é a capacitação dessas cidades”, explicou o secretário nacional de Transporte e Mobilidade Urbana, Dario Lopes.
Ctrl C, Ctrl V
Outro problema apontado pelos palestrantes é o ‘copia e cola’ de Planos de Mobilidade Urbana. “Algumas consultorias que são contratadas em diversas cidades apenas replicam os planos de um município para outro. Ou seja, não têm conexão com a realidade local”, disse Leal.
Isso acontece porque cidades que não entregaram seus planos ficam, em teoria, na ilegalidade, uma vez que não podem receber dinheiro da União para obras de transporte. Sendo assim, muitas administrações públicas fazem seu planejamento de qualquer maneira para não serem desconsideradas posteriormente.
Consequentemente, a preocupação não fica apenas sobre o prazo da entrega dos Planos de Mobilidade Urbana, e sim na qualidade desse material. “A extensão do prazo é uma postura de criar um ambiente mais propício. Mas só isso não vai resolver”, disse Lopes. Para ele, os planos são muito específicos de município para município, e aquele que não tiver um planejamento adequado vai sofrer depois.
O PL 7898/14 foi aprovado da Comissão de Desenvolvimento Urbano no último dia 20 e agora é avaliado pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania, que deve marcar novas audiências públicas para as próximas semanas. (Greenpeace Brasil/ #Envolverde)

Rodrigo Pizeta é especialista em Gestão Ambiental

Especialistas dizem que proposta brasileira na COP21 pode ser mais audaciosa


Por Alana Gandra, da Agência Brasil – 
Coordenador de estudo técnico que ofereceu várias opções para a proposta brasileira na Convenção das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP21), que ocorrerá a partir de 30 de novembro, em Paris, o professor Emílio La Rovere, admitiu que a posição do país poderá se mostrar mais audaciosa até o prazo final de 1º de outubro.
Professor de Planejamento Energético do Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe-UFRJ), La Rovere participou hoje (24), no Museu do Meio Ambiente do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, de debate sobre a posição do Brasil na COP21. A proposta brasileira está sendo discutida no governo, após receber contribuições da sociedade civil organizada, de governos estaduais e prefeituras. A palavra final será dada pela presidenta Dilma Rousseff.
O professor da Coppe afirma que o próprio governo já deu sinais do que será a proposta brasileira nas declarações conjuntas firmadas com a China, Estados Unidos e Alemanha. O ponto mais importante, segundo ele, é o compromisso de ter, até 2100, emissões de gases de efeito estufa (GEE) 0. Visando a atenuar os efeitos do aquecimento global, foi definido que, se até o final deste século houver emissões, elas serão compensadas pelo plantio de árvores, “que é necessário para fazer a temperatura parar de subir”.
Como as discussões em Paris estão voltadas mais para 2030, o Brasil já sinalizou que, até lá, pretende zerar o desmatamento ilegal; recuperar 12 milhões de hectares de florestas desmatadas; e elevar a participação das energias renováveis no total da energia gerada no país, excetuando a energia hidrelétrica, de 28% para 33%. Na parte de consumo de eletricidade, La Rovere destaca que o compromisso do governo brasileiro é dobrar a participação atual das fontes renováveis, excetuando hidrelétrica, de 9,5% para até 20%, até 2030.
Até 1º de outubro, será discutido como vai ser a oferta de redução de emissões do Brasil, se ele apresentará um número absoluto sobre isso e quais são as condições que o país pedirá de contrapartida, como, por exemplo, financiamento em condições privilegiadas para poder cortar essas emissões.
O potencial de recursos naturais renováveis dá ao Brasil possibilidade de ser mais audacioso em sua proposta final na COP21 e se tornar um líder, afirma La Rovere. Com essa liderança, diz ele, o Brasil pode, inclusive, ampliar sua competitividade e ele espera que haja um anúncio até “1º de outubro, que vá além do anunciado até agora”.
Na avaliação do economista e presidente da Câmara Técnica de Sustentabilidade da Prefeitura do Rio de Janeiro, Sérgio Besserman, a proposta brasileira para a COP21 “não faz feio”, mas é “medrosa”. A seu ver, ela poderia ser mais “audaciosa, sem custo e sem atrapalhar o desenvolvimento econômico e social”. Besserman diz que o Brasil está muito na defensiva, embora esteja cumprindo o “dever de casa” com sucesso. “Já é um avanço. Vamos chegar lá (na COP21) bem, do ponto de vista do desmatamento na Amazônia, que se reduziu bastante.”
O ex-ministro do Meio Ambiente e atual deputado estadual (PT-RJ) Carlos Minc considera a proposta brasileira boa. Minc destaca, ainda, a unanimidade dos debatedores em relação a pontos em que o Brasil ainda pode avançar. O corte do subsídio à energia fóssil (gasolina e diesel) é um deles. Na opinião de Minc, outro ponto de consenso é o replantio, o que demandará “política específica, com apoio, terras e tecnologia”. O país deve dar ênfase também ao transporte metroviário e ferroviário e à política de resíduos, transformando o metano dos lixões em energia renovável. (Agência Brasil/ #Envolverde)
Rodrigo Pizeta é especialista em Gestão Ambiental

Síria e Iraque são também guerras pela água. E outras virão



 Síria e Iraque são também guerras pela água. E outras virão. 
27/8/2015, Moon of Alabama


Foreign Affairs traz artigo cuja leitura recomendo sobre as guerras pela água entre Turquia, Síria e Iraque: Rivers of Babylon.

Turquia construiu muitas, muitas barragens por todo o país, para produzir eletricidade, mas também para irrigação. Quando viajei pelo leste da Turquia nos anos 1990s muitos novos projetos, partes do Southeastern Anatolia Project (tu. GAP), eram visíveis; e água recentemente retida em barragens era fornecida às regiões secas do sudeste mediante canais abertos. Muita daquela água era perdida por causa da evaporação, mas também por que as novas plantações usavam espécies que exigem água intensiva numa região quente e em muitos pontos desértica.

A água agora oferecida a fazendeiros turcos antes corria pelo Eufrates e Tigre, para a Síria e Iraque. Três anos secos na Síria, 2006-2009, induziram muitos fazendeiros a deixar as terras secas e mudar-se para as cidades, onde só poucos deles encontravam trabalho:


À altura de 2011, fracasso de colheitas por causa da seca empurrara cerca de 1,5 milhão de ex-agricultores a emigrar das próprias terras; essa legião de desenraizados virou fonte de recrutas para o Exército Sírio Livre e outros grupos como o Estado Islâmico (também chamado ISIS) e para al-Qaeda. Testemunhos recolhidos por repórteres e ativistas nas zonas de conflito sugerem que a falta de qualquer ajuda do governo durante a seca foi o fator central de motivação para a rebelião antigoverno. Além disso, estudo de 2011 mostram que as hoje fortalezas dos rebeldes em Aleppo, Deir al-Zour, e Raqqa estavam entre as áreas mais duramente atingidas pelo fracasso das colheitas.


A situação no Iraque é similar, se não pior. Grandes regiões perderam a base de sua agricultura e os agricultores pedem soluções e mais apoio.


Em Karbala, Iraque, agricultores estão em desespero e já consideram abandonar suas terras. Em Bagdá, as periferias mais pobres dependem da Cruz Vermelha até para a água de beber. Em algumas ocasiões, a Cruz Vermelha teve de fornecer 150 mil litros por dia. Mais para o sul, as áreas centrais do Irã, as maiores áreas alagadas de todo o Oriente Médio, estão desaparecendo, depois de terem sido re-inundadas depois que Saddam Hussein foi deposto. Em Chibayish, cidade nas áreas alagadas que um dos autores desse artigo visitou recentemente, os búfalos e os peixes estão morrendo. Atualmente, a agricultura ali sustenta no mínimo 60 mil pessoas. Esses e mais centenas de milhares de outros enfrentarão dificuldades muito maiores, se os recursos d'água continuarem a definhar.


A falta de água não é a única razão para as guerras na Síria e Iraque. Mas torna esses países mais propensos a conflitos internos e mais vulneráveis a intromissão de atores externos.

Mas os governos de Síria e Iraque podem fazer pouco para ajudar seus agricultores. Embora haja acordos sobre um fluxo mínimo de água a ser preservado entre Turquia, Síria e Iraque, não há meios pelos quais Síria e Iraque possam realmente pressionar a Turquia para que desimpeça o fluxo de água e preserve o fluxo fixado nos acordos.


Embora acordos vigentes entre Síria e Turquia devam garantir fluxo de 500 metros cúbicos por segundo, 46% dos quais vão para o Iraque, durante o verão os fluxos podem ser muito menores. Segundo Jasim al Asadi, hidrologista de Nature Iraque, quando o Eufrates alcança Nasiriyah no sul do Iraque, é necessário um fluxo mínimo de 90 metros cúbicos por segundo, para uso municipal, industrial e agrícola. Às vezes, o fluxo cai para 18 metros cúbicos por segundo – razão pela qual não surpreende que as áreas alagadas estejam diminuindo rapidamente. Antes da construção da maior barragem nos anos 1970s, o fluxo médio no Eufrates era de 720 metros cúbicos por segundo. Agora, é de cerca de 260 quando entra no Iraque.


Quase dois terços do fluxo que o Iraque recebia já não chegam. Não há meio para substituí-lo. Além disso, a pouca água que está fluindo atualmente pode acabar rapidamente:


As barragens na Turquia, que já ultrapassam 140, têm muito maior capacidade de armazenamento que as que ficam a jusante. E quando as novas barragens turcas estiverem completadas em poucos anos, cerca de 1,2 milhão a mais de hectares serão irrigados dentro da Turquia – aumento de oito vezes, em relação ao que há hoje.[1]
...

Dada a relativamente melhor saúde hídrica da Turquia, seria razoável supor que o país pararia de construir barragens que tanto dificultam a sobrevivência dos países vizinhos à jusante dos rios. Mas o país fez exatamente o oposto, e planeja concluir 1.700 novas barragens e açudes dentro de suas fronteiras.


A matéria de Foreign Affairs nada diz sobre outro projeto turco que desvia ainda mais água para longe de seus vizinhos do sul. Em 1974 a Turquia invadiu e desde então ocupou o norte de Chipre. Os moradores gregos nativos daquelas áreas ocupadas foram dizimados em processo de 'limpeza' étnica, e 150 mil turcos foram transferidos da Turquia e implantados naquela terra grega.

E a Turquia construiu agora aquedutos para fornecer água do território turco às áreas ocupadas da ilha:


Um aqueduto recentemente concluído que cruza pelo fundo do Mediterrâneo levará 75 milhões de metros cúbicos de água fresca anualmente, da Turquia para o norte, i.e. para a parte turca da dividida ilha de Chipre. 
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A água que chegará pelo aqueduto tornará os turcos cipriotas, que já recebem subsídios de Ancara para sua sobrevivência econômica, ainda mais dependentes da Turquia. Um cenário é, assim, que por estarem mais intimamente ligados ao continente, os cipriotas turcos terão menos liberdade quando negociarem a reunificação com os compatriotas cipriotas gregos, o que tornará difícil alcançar alguma solução.


Outro projeto turco, que vai e vem ao longo dos anos, são planos para construiraquedutos e gasodutos até Israel: Israel espera fornecer gás à Turquia e a Turquia forneceria água a Israel. Água que, além de outras utilidades, faria terrível falta na Síria e no Iraque.

Precisamos de um processo de solução global, com instrumentos para fazer valer os acordos, para regular os fluxos naturais de água através de fronteiras. A alternativa é grave ampliação das guerras entre países que usam água extensivamente em seus próprios territórios, enquanto países localizados à jusante dos rios morrem de sede.

A situação de Turquia, Síria, Iraque não é a única guerra pela água que há hoje no mundo. Paquistão e Índia lutam pela Caxemira ocupada pela Índia, onde estão as nascentes do sistema do rio Indo. O Indo é a água que mantém vivo o Paquistão, e a Índia tem usado o controle que tem sobre a Caxemira para pressionar o Paquistão. A próxima guerra entre Índia e Paquistão pode estar a uma seca de distância; e pode ser guerra nuclear.

Outra guerra pela água está fermentando entre Uzbequistão e Tadjiquistão. A Etiópia está construindo uma megabarragem no Nilo que ameaça o principal suprimento de água do Egito. Nada garante que o Egito permita que a construção chegue ao fim. Todos esses casos já levaram ou levarão a guerras entre países ou a guerras civis por causa da água (da falta dela). 

O fluxo de água entre países é uma das poucas questões que carecem de governança global. Um livro de regras e um corpo judicial global que determine que todos os povos ao longo de um curso de água devem beneficiar-se dele. Megaprojetos como o GAPna Turquia teriam de ser julgados por aquele corpo judicial e suas regras teriam de ser apoiadas em poderes coercitivos significativos.

É isso ou, se não for isso, haverá muitas guerras, muito intensas, de disputa pelo acesso à água. *****

Rodrigo Pizeta é especialista em Gestão Ambiental