terça-feira, 9 de setembro de 2014

Degradação florestal no Brasil preocupa especialistas

09/09/2014 por Elton Alisson, da Agência Fapesp
País precisa monitorar o problema e identificar as causas da diminuição de cobertura vegetal em outros biomas, além da Amazônia, avaliam pesquisadores em workshop internacional em Brasília. Foto: Imagem de satélite: Nasa Earth Observatory

Agência Fapesp – O Brasil avançou muito nos últimos 25 anos no monitoramento do desmatamento da Floresta Amazônica por meio de ações como a implementação do Programa de Cálculo do Deflorestamento da Amazônia (Prodes), em 1988, e do Sistema de Detecção do Desmatamento em Tempo Real (Deter), em 2004 – ambos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Agora, precisa olhar com mais atenção para outro problema ambiental tão grave quanto o desmatamento: a degradação florestal, que afeta não só a Amazônia, mas também outros biomas brasileiros.
A avaliação foi feita por um grupo de pesquisadores de instituições como Inpe, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Nasa (a agência espacial dos Estados Unidos), Instituto Max Planck (na Alemanha) e Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) durante o Workshop on Monitoring Forest Dynamics: carbon stocks, greenhouse gas fluxes and biodiversity, realizado entre os dias 2 e 4 de setembro na Universidade de Brasília (UnB).
“Precisamos interpretar os dados do desmatamento na Amazônia, mas também olhar para outros processos da dinâmica florestal como a degradação florestal, que também tem impactos nas funções ecológicas, no armazenamento de carbono e na conservação da biodiversidade”, disse Mercedes Bustamante, professora do Departamento de Ecologia da UnB e organizadora do evento.
De acordo com os participantes do encontro, a degradação florestal difere do desmatamento, que se caracteriza pelo corte raso de árvores e responsável pela alteração significativa da paisagem da Amazônia brasileira, quando parcelas da floresta são convertidas em áreas de pastagem.
Já a degradação é definida pela perda da capacidade da floresta de realizar suas funções originais, como contribuir para o balanço climático, hídrico e de carbono, em razão do corte seletivo de árvores de interesse comercial e de queimadas intencionais, entre outros fatores.
“A degradação fica em uma posição intermediária entre a floresta intacta e a que foi transformada em área de pastagem. É uma floresta que ainda não foi desmatada completamente”, resumiu Michael Keller, cientista do US Forest Service dos Estados Unidos e pesquisador visitante da Embrapa Monitoramento por Satélite.
“Uma floresta degradada já não possui o mesmo estoque de carbono e a biodiversidade que tinha antes de ser afetada, mas, se for feito um manejo bem feito no prazo de 20 a 30 anos, ela pode se regenerar e até mesmo se aproximar de suas características originais”, explicou.
Outra diferença significativa entre os dois processos, segundo os pesquisadores, é que o desmatamento é mais evidente e inequívoco e pode ser observado mais facilmente pelos satélites usados no monitoramento ambiental.
A degradação, por sua vez, é mais sutil. Trata-se de um processo de longo prazo e deve ser acompanhada continuamente para que suas causas sejam identificadas.
“É preciso o acompanhamento de longo prazo não só das mudanças na cobertura da floresta, mas dos processos que causam essas alterações ambientais”, disse Bustamante.
“Sem isso, não é possível estimar qual será a trajetória das florestas degradadas e comparar com informações de estudos em campo para avaliar se vão se regenerar, se ganharão ou perderão carbono ou se podem evoluir para o desmatamento”, disse.
Degradação da Amazônia
No fim de agosto, o Inpe divulgou pela primeira vez o mapeamento de áreas de degradação florestal na Amazônia Legal nos anos de 2011, 2012 e 2013, feito pelo projeto Mapeamento da Degradação Florestal na Amazônia Brasileira (Degrad).
O objetivo da iniciativa é identificar, por meio de imagens de satélite, as áreas expostas à degradação florestal progressiva pela exploração seletiva de madeira, com ou sem uso de fogo, mas que ainda não sofreram o corte raso.
Os dados do levantamento apontam que a taxa de degradação na região nesses três anos foi a menor registrada desde o início da série histórica do projeto, em 2007, e acompanha a tendência de queda de desmatamento por corte raso na floresta verificada pelo Prodes após 2005.
“É preciso investir em um sistema de monitoramento em escala nacional que abranja e leve em conta as particularidades dos diferentes biomas brasileiros que também possuem tanta relevância na regulação do clima, conservação da biodiversidade e diversas funções ecossistêmicas como a Amazônia”, afirmou Bustamante.
É mais fácil monitorar e identificar a degradação da Amazônia em comparação com outros biomas brasileiros, porque ela tem uma vegetação mais fechada e, por isso, as clareiras provocadas por derrubada de árvores, por exemplo, podem ser notadas mais facilmente.
Já o Cerrado tem vegetação mais aberta, com maior sazonalidade de árvores, arbustos e gramíneas, dificultando a identificação das áreas degradadas.
“A grande ênfase no monitoramento de degradação florestal no Brasil tem sido na Amazônia, mas a Embrapa está desenvolvendo, em parceria com o Inpe e a Universidade Federal de Goiás, um sistema de classificação das terras do Cerrado”, contou Keller.
O Serviço Florestal Brasileiro (SFN) está avançando no desenvolvimento do Inventário Florestal Nacional do Brasil (IFN-BR), contou Joberto Freitas, pesquisador da instituição, durante palestra no evento.
A ideia é que os dados do inventário sejam integrados com os de sensoriamento remoto para monitorar a degradação florestal nos diferentes biomas.
“Muitos países, como os Estados Unidos, utilizam sistemas de monitoramento integrado como esse que o Brasil pretende desenvolver e esse é o caminho que o país deve seguir”, avaliou Keller.
“O monitoramento da degradação utilizando dados integrados funciona muito melhor do que quando apenas baseado em dados de satélite ou só por meio de inventários de florestas”, afirmou.
REDD+
Além do controle florestal, o monitoramento da degradação é importante para o Brasil e outros países em desenvolvimento definirem estratégias de promoção de aumento de cobertura vegetal e pedirem compensações financeiras por isso, como previsto pela Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC).
O organismo internacional ligado ao IPCC instituiu um mecanismo, denominado REDD+ ou REDD plus, que permite a remuneração de países em desenvolvimento por seus resultados no combate ao desmatamento e à degradação florestal.
A questão é que ainda não se sabe de que forma os países poderão comprovar o controle da degradação florestal, uma vez que não há uma linha de base para distinguir as suas causas – que podem ter origem em uma perturbação natural, como um período de seca intensa, ou na ação humana.
Além disso, não há uma definição clara de degradação florestal entre os próprios países signatários da UNFCCC .
“Do ponto de vista de alguns cientistas e países, a degradação é a perda no longo prazo da capacidade da floresta de continuar exercendo suas funções”, disse Thelma Krug, pesquisadora do Inpe e vice-presidente de uma força-tarefa do IPCC sobre inventários nacionais de gases de efeito estufa.
“Por outro lado, há cientistas e países que dizem que, se a função da floresta for recuperada plenamente, isso não seria degradação”, ponderou.
Segundo Krug, não há intenção de definir o conceito nas negociações climáticas internacionais para não dificultar o processo. “Se um determinado país não se vir refletido na definição de degradação ou de desmatamento em uma negociação, não é possível obter consenso.”

Rodrigo Pizeta é Especialista em Gestão Ambiental


Concentração de gases de efeito estufa na atmosfera atinge novo recorde

09/9/2014  - por Redação da Agência Lusa
a taxa de crescimento dos níveis de dióxido de carbono na atmosfera entre 2012 e 2013 representa o maior aumento anual em 30 anos. Foto: Shutterstock


A concentração de gases de efeito estufa na atmosfera atingiu novo recorde em 2013, devido a crescentes níveis de dióxido de carbono, anunciou hoje (9), em Genebra, a Organização Meteorológica Mundial (OMM).
No relatório anual sobre as concentrações de gases de efeito estufa, a agência das Nações Unidas indica que a taxa de crescimento dos níveis de dióxido de carbono na atmosfera entre 2012 e 2013 representa o maior aumento anual em 30 anos.
“Nós sabemos, sem sombra de dúvida, que o nosso clima está mudando e que as condições meteorológicas estão se tornando cada vez mais extremas devido às ações humanas”, disse o secretário-geral da OMM, Michel Jarraud, citando o exemplo do uso dos combustíveis fósseis.
Nesse sentido, Jarraud deixou o apelo: “Temos de reverter essa tendência e cortar as emissões de dióxido de carbono e outros gases de efeito estufa em toda a linha”.
“Estamos ficando sem tempo”, alertou o secretário, em comunicado.
De acordo com o relatório divulgado hoje, as concentrações de dióxido de carbono, metano e óxido nitroso alcançaram novos índices. Em 2013, o dióxido de carbono na atmosfera subiu 142% face ao que era na época pré-industrial (1750), enquanto as de metano e óxido nitroso subiram, respectivamente, 253% e 121%.
O oceano absorve hoje em dia cerca de um quarto das emissões totais de dióxido de carbono e a biosfera fatia idêntica, limitando assim o crescimento desse gás na atmosfera.
Porém, a absorção de dióxido de carbono pelos oceanos acarreta graves consequências, de acordo com os especialistas: “O ritmo atual de acidificação dos oceanos parece não ter precedentes em pelo menos 300 milhões de anos”. A absorção de quantidades significativas desse gás pelos mares do planeta modifica o ciclo dos carbonatos marinhos e desencadeia uma acidificação da água do mar.
Os oceanos absorvem atualmente cerca de quatro quilos de dióxido de carbono por dia e por pessoa.

“O dióxido de carbono permanece durante centenas de anos na atmosfera e por maior período de tempo no oceano. O efeito acumulado das emissões do passado, presente e futuro desse gás terá repercussões tanto no aquecimento global quanto na acidez dos oceanos”, advertiu Jarraud.

Rodrigo Pizeta é Especialista em Gestão Ambiental

Uma visão econômica da mudança climática

08/9/2014 por Roberto Castello Branco, para Plurale
A pesquisa científica revela a ocorrência de consideráveis flutuações de temperatura durante 100.000 anos, alternando-se fases de intenso calor e frio. Nos últimos sete mil anos houve, contudo, notável estabilidade, o que teria contribuído para viabilizar o desenvolvimento de nossa civilização. Já entre 1900 e 2010 a temperatura média da Terra se elevou em 0,8 graus centígrados.
Enquanto as mudanças climáticas passadas teriam sido causadas por fenômenos naturais, a mudança recente está sendo crescentemente provocada pelo homem.
A concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera passou de 280 partes por milhão (ppm) em 1750 para 390 ppm nos dias de hoje. Se nada for feito para conter a escalada os modelos projetam de 700 a 900 ppm para o final deste século, o que resultaria em elevação da temperatura média na Terra em 3 a 5 graus centigrados. Refletindo o grau de incerteza existente, estimativas apontam perdas que variam de 1 a 10% do PIB global em 2100 – cerca de US$ 870 bilhões a US$ 8,7 trilhões a valores atuais.
A fonte primordial da mudança climática ou aquecimento global é a queima de combustíveis fosseis, baseados em carbono, que conduz à emissão de CO, responsável por 77% dos gases de efeito estufa (GEEs). Estes se acumulam na atmosfera e devido à lenta absorção lá permanecem por muitos anos.
O aquecimento global é provocado pelo estoque acumulado de GEEs e não pelos fluxos correntes de emissões. Enquanto os países desenvolvidos produziram no passado 80% dos gases acumulados, hoje a maior parte das emissões vem de economias emergentes, que muito provavelmente serão responsáveis por parcelas crescentes no futuro.
O aumento da concentração de GEEs na atmosfera leva ao aquecimento da terra e dos mares. Tais efeitos acabam se retroalimentando na atmosfera, oceanos, geleiras e sistemas biológicos. Em última instância, o consenso é que profundos impactos nas atividades biológicas e humanas sensíveis ao clima podem vir a se manifestar no longo prazo.
O problema do aquecimento global não deve ser dramatizado, nem tampouco tratado com barreiras ao investimento e crescimento econômico. A mudança climática começa e termina com as atividades do ser humano. A concepção de políticas eficientes para mitigá-la está nas ciências sociais, dependendo essencialmente da boa compreensão de seus aspectos econômicos e do papel dos mercados.
Fundamentalmente, o aquecimento global tem origem no problema que os economistas batizaram de externalidade: os emissores de GEEs não pagam pelos custos ambientais gerados, que acabam sendo compartilhados pelo resto do mundo. Isto surge porque um recurso – o meio ambiente – não é precificado e consequentemente usado em excesso.
A prescrição é estabelecer um imposto sobre a emissão de carbono que iguale os benefícios de emissões adicionais, que ocorrem no presente, aos seus custos, que se manifestam ao longo do tempo.
A solução está sendo implementada em vários países através de dois instrumentos principais: a taxação do carbono e as chamadas “cap-and-trade policies”. Estas compreendem a fixação de limites para emissões e permissões para quem os excedeu comprá-los de quem emitiu menos.
Outras iniciativas incluem padrões de eficiência energética para veículos, prédios e instalações industriais, subsídios para o desenvolvimento de fontes de energia renovável e incentivos para o reflorestamento.
A simplicidade conceitual mascara a complexidade da solução. O desenho e a implementação de políticas de mitigação do aquecimento global enfrenta muitos desafios e questões ainda não resolvidas.
Como convencer as gerações presentes em investir recursos que beneficiarão majoritariamente gerações futuras? Como descontar os fluxos de retornos futuros para compará-los com os custos dos investimentos? Como a incerteza a respeito da magnitude de danos ambientais futuros afeta as estratégias hoje adotadas? Como estimular a pesquisa e o ritmo de progresso tecnológico em fontes energéticas alternativas?
A cooperação internacional é muito relevante pois estamos tratando de uma externalidade global, já que em termos de impacto sobre o meio ambiente tanto faz uma tonelada de carbono emitida no Brasil quanto na Índia. O fato de que o custo da redução das emissões é incorrido totalmente pelo país que investe e os retornos são compartilhados com o resto do mundo dificulta a coordenação entre nações .
Outro elemento complicador reside no que os economistas chamam de incentivos para o “free rider: os benefícios do consumo de combustíveis fosseis são imediatos e concentrados enquanto que os custos sociais tendem a se manifestar num futuro distante e são amplamente dispersos. Todo mundo gosta de uma carona de graça.
Os custos sociais do aquecimento global e os benefícios de sua mitigação não são uniformes, o que leva a diferentes percepções entre países sobre o valor dos investimentos necessários.
Políticas de mitigação oferecem combinações de risco-retorno para economias emergentes – cuja prioridade número um é compreensivelmente o crescimento da renda – distintas daquelas para países desenvolvidos. Em consequência, a emissão de GEEs por dólar de PIB na União Européia e EUA é bem inferior às dos BRICs, sendo o Brasil o mais bem comportado neste grupo de emergentes.
A costumeira adoção por governos de economias emergentes – entre eles o do o Brasil – de subsídios aos preços de derivados de petróleo, como a gasolina, para maximizar ganhos políticos de curto prazo têm entre outras contrapartidas negativas o estímulo direto à emissão de CO2, ao baratear artificialmente o preço de um combustível fóssil. Isso evidencia também quão maléfica pode ser a intervenção estatal na questão ambiental.
Estima-se que entre 1900 e 2010 as emissões globais de carbono se expandiram à taxa média anual de 2,6%. Dado que a economia global cresceu à taxa média de 3,7% ao ano, houve redução da quantidade de CO2 por dólar de PIB ao ritmo de 1,1% ao ano, fenômeno conhecido como descarbonização.
A rápida expansão de economias emergentes e a crescente demanda por energia daí decorrente concorrem para o aquecimento global. Por outro lado, o aumento da renda e da riqueza nessas economias tende a elevar o valor atribuído à proteção ao meio ambiente. Isso se reflete na modificação da posição da China traduzida recentemente na priorização do combate à poluição ambiental e o uso mais intensivo de energia eólica e solar.
As mudanças estruturais associadas à dinâmica do crescimento econômico elevam a participação na atividade econômica de setores menos intensivos em energia – como a tecnologia da informação e de serviços como saúde, educação, e finanças – relativamente à indústria manufatureira tradicional, se apresentando como fonte relevante de descarbonização.
A dinâmica do crescimento econômico está associada à realização contínua de ganhos de eficiência que implicam no uso de menor quantidade de energia por unidade de produto.
Finalmente, a descarbonização é provocada por mudanças nas fontes de energia para combustíveis menos intensivos em carbono, como o gás natural, e fontes renováveis e não fosseis (hidráulica, nuclear, eólica, solar, biomassa, geotérmica).
No âmbito corporativo, o desafio é conciliar investimentos em projetos que reduzam emissões de GEEs com o objetivo de maximização de lucros para os acionistas. Um caso de sucesso é o processamento a seco do minério de ferro, que diminui simultaneamente custos de investimento e operacionais e a emissão de carbono.
A precificação do carbono é a solução de mercado para induzir mudanças substantivas na matriz energética global. O homem reage a incentivos e os avanços na tecnologia têm produzido feitos extraordinários nos últimos 150 anos. O bom uso do instrumental de teoria econômica proporcionará a criação dos estímulos capazes de gerar respostas efetivas ao aquecimento global.


Rodrigo Pizeta é Especialista em Gestão Ambiental