quarta-feira, 31 de julho de 2013

Quem será o vilão? O homem ou tubarão?

                                                                  Tubarão Branco
Tubarão Cabeça Chata
Tubarão Tigre
Os ataques de tubarões são um misto de duas coisas, fatalidade e negligência. Fatalidade por que pode acontecer com qualquer um, pois é um problema que não se pode prever, nem saber onde e quando ocorrerá. Negligência por parte dos banhistas quando não há o respeito às placas de sinalização e negligência das autoridades que quando não querem perder turistas e dinheiro, não colocam sinalização ou não fazem campanhas educativas com turistas e moradores locais.
No caso recente de Pernambuco foi negligência da banhista, pois há placas sinalizando os riscos e ela passou e foi para o fundo. Fora as dezenas de documentários e reportagens já feitos no local.
Agora o Governo de Pernambuco libera a captura e morte dos animais, que é um crime e um absurdo, já que eles (tubarões), também são vítimas. O vilão é o HOMEM que interveem num ambiente em equilíbrio, fazendo portos e obras, como o porto de Suape ao sul de Pernambuco, acabando com uma enorme área de manguezal, retirando da rota os peixes que servem de alimento para os tubarões, fazendo com que eles venham para praia. A importância de ecossistemas como manguezais é ignorada. Estes ambientes, além de funcionarem como protetores de costas (amenizando ondas e tempestades tropicais), são locais de alimentação e berçário para muitas espécies. A destruição do manguezal causou um grande impacto ambiental no ecossistema ali existente. Mas isso ninguém fala. É preciso que aconteça uma tragédia desse porte para que tenhamos noção do estrago, uma pena que muitos, por ignorarem tudo isso, ainda vão continuar culpando o pobre animal. Lembrando que mudanças climáticas, aumento no número de banhistas e surfistas, navios de pesca passando e deixando rastros de comida (resto de pesca) e etc..., podem ser fator de aumento de ataques e presença deles.
 Eles atacam somente porque os confundem com tartarugas . Eu mergulho no litoral do espírito santo desde os 13 anos, quase 20 anos, nunca vi um ataque ou eles se aproximando da gente durante a caça submarina. Só tem  apenas registro de um ataque no Espírito Santo, como aqui o meio está em equilíbrio e tem comida, eles não chegam até a praia.
As duas principais espécies que mais ocorrem e atacam banhistas em Recife PE, são: o Tubarão Cabeça Chata (Carcharhinus leucas) e Tubarão Tigre (Galeocerdo cuvier), sendo que a primeira espécie citada anteriormente, considerada segundo especialistas, como a mais feroz existente nos mares, mais que o temido Tubarão Branco (Carcharodon carcharias), famoso nos filmes, lembrando que em alguns estados e em outros países sobem os rios a procura de comida. Existem cerca de 370 espécies existentes, só no Brasil, tem registro de 20 espécies confirmadas em todo litoral do país.

O grande vilão com certeza ainda é o HOMEM... Vamos preservar e não mata-los, a natureza de uma maneira ou de outra cobra o que tomamos dela!

Marcos Gustavo Leitão Andrade. Mergulhador (Pesca Submarina), residente em Vila Velha ES, Natural de Duque de Caxias ? RJ, graduado pela Universidade Presidente Antônio Carlos - Unipac Araguari MG. Trabalha na URBIPLAN - Consultoria e Projetos em Planejamento Urbano e Transportes / SEDU - Secretaria de Estado da Educação ES. Biólogo Especialista em Educação Ambiental CRBio-02: 78.374/02 Técnico em Aquicultura CREA-ES: ES-011098/TD


segunda-feira, 29 de julho de 2013

Inventário Turístico é determinação da Lei Geral

Segundo o Mtur, o Inventário da Oferta Turística consiste no levantamento, identificação e registro dos atrativos turísticos, dos serviços e equipamentos turísticos e da infra-estrutura de apoio ao turismo como instrumento base de informações para fins de planejamento, gestão e promoção da atividade turística, possibilitando a definição de prioridades para os recursos disponíveis e o incentivo ao turismo sustentável.
No Projeto de Inventário da Oferta Turística do Programa de Regionalização do Turismo - Roteiros do Brasil,  o Mtur destaca os seguintes objetivos específicos do processo de inventariação:
• Formatar e implementar uma metodologia única para a inventariação da oferta turística no País, capaz de ser compreendida por todos os setores e  agentes envolvidos no processo;
• Apoiar, de forma descentralizada, a gestão, distribuição e atualização periódica das informações turísticas, fornecendo às Unidades da Federação e aos municípios instrumentos para a coleta e sistematização das informações;
• Disponibilizar, aos visitantes, planejadores e gestores, dados confiáveis a respeito da oferta turística brasileira por meio de um Sistema de Informações Turísticas;
• Permitir a análise do significado econômico do turismo e seu efeito multiplicador no desenvolvimento municipal;
• Criar uma rede de recursos humanos, capaz de gerir nas UFs e municípios o processo de inventariação da oferta turística;
• Formatar e disponibilizar um instrumento padrão de pesquisa da oferta turística;
• Permitir o diagnóstico de falhas, pontos críticos e de estrangulamento, desajustes entre a oferta e a demanda existentes;
• Possibilitar a hierarquização e priorização dos atrativos e conjuntos existentes;
• Servir de equipamento de consulta para empresários com interesses na atividade turística das regiões turísticas;
•  Funcionar como equipamento de pesquisa para estudantes e pesquisadores da área;
• Coletar informações que subsidiem a elaboração de roteiros turísticos;
• Permitir a identificação e a classificação de municípios turísticos e com potencial turístico.
O principal motivo para que  um gestor municipal se interesse em elaborar o Inventário Turístico repousa nas possibilidades de usar as informações para planejar, projetar e principalmente conhecer, aperfeiçoar e divulgar as potencialidades turísticas do lugar.
O processo de inventariação consiste na aplicação de questionários específicos ( cerca de 70 modelos diferentes), criados e disponibilizados pelo Mtur em 2011 no 6º Salão do Turismo.


É um trabalho que deve ser executado por profissionais capacitados pois requer uma serie de detalhamentos e de conhecimentos específicos. 



Cada empreendimento deve ser visitado, todas as informações dos questionários precisam ser preenchidas corretamente e depois de tudo pronto os gestores deveriam lançar as informações em um sistema de banco de dados que permita sua compilação e a geração de relatórios que visem facilitar o planejamento e os investimentos no setor de turismo e até infraestrutura do município.

O problema maior é que, muitas vezes, por falta de conhecimento ou de pessoal qualificado, os gestores locais limitam a formatação do inventário turístico de suas cidades a simples listas com nome, endereço e telefone dos empreendimentos e atrativos.
Se seu município ainda não tem inventário turístico ou tem, porém não atende a nova metodologia do Mtur, vale a pena investir e conferir como estão os que acreditaram no planejamento é na promoção estruturada de suas Cidades, como Santa Teresa - ES que recebeu seu inventário atualizado recentemente e foi feito pelo IACI (www.institutointegracao.org.br) em parceria com a ARVORE.

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Lixo no lugar certo!

Lugar de lixo não é na praia! Vamos preservar o que é nosso!
Caríssimos leitores, aqui no Espírito Santo, estamos no final das férias escolares, acredito que em seu estado também. Durante esse período, pude observar um grave problema que ocorre não somente aqui no litoral capixaba, mas como em todas as praias e balneários espalhados pelo país, a quantidade de lixo deixado pelos turistas nas areias e locais públicos próximos à praia.
A questão fica mais visível quando chega o entardecer, quando os turistas deixam a praia e vão para os locais onde estão passando a estadia de férias, é muito lixo, a prefeitura municipal de certas cidades litorâneas tem um serviço especial de coleta, realizado por garis e até um trator com um equipamento para limpeza da faixa de areia e pistas do entorno das praias, mas isso não dá conta de retirar todo o lixo de nossas praias.
O lixo sólido como garrafas pet, latas de alumínio, pratinhos de plástico ou papelão, copos descartáveis, guimbas de cigarro,espetinhos de churrasco, embalagem de protetores e bronzeadores, fraldas descartáveis, restos de côco verde e até o mais novo vilão das praias, as famosas pipas ou raias, que a criançada usa para brincar, muitas vezes com cerol.
O problema é quea maioria desses produtos vão parar dentro dos mares, desencadeando um enorme impacto ambiental, causando a mortalidade de dezenas de espécies de animais marinhos e destruição de muitos recifes de corais. Fazendo com que haja desequilíbrio na cadeia alimentar desse bioma. Muitas tartarugas confundem a rabiola das pipas com algas que elas costumam comer, peixes e outros animais ficam presos em linhas de pipa e acabam morrendo, os recifes de coral também acabam sendo destruídos quando uma linha dessas passa arrastando pelo fundo. Todo esse lixo presente no fundo do mar é jogado para fora dele através de seu movimento de maré, trazendo todo material que fica depositado nas areias da praia. Aí teremos a poluição ambiental e visual, além da má qualidade de água e balneabilidade do local. Tornando o local impróprio para banho e lazer.
Já na areia os acidentes podem acometer os próprios turistas, uma linha de pipa com cerol causaria um grave ferimento em membros inferiores, ao andar descalço na areia, um palito de churrasquinho, poderia ferir seriamente uma pessoa, ao perfurar seus pés ou outro local do corpo.
É preciso que os turistas tenham consciência e toda vez que forem à uma praia, recolham seu lixo, coloquem em uma sacola plástica e depositem em uma lixeira, que em muitos casos estão presentes na orla da praia, geralmente as prefeituras municipais instalam manilhas com areia dentro, onde ao realizar a limpeza os garis recolhem todo  lixodepositado ali. Com relação ao cigarro, os fumantes podem utilizar garrafas pet com um pouco de água em seu interior e jogar as guimbas de cigarro dentro, com posterior descarte numa lixeira adequada. Como é muito pequeno não tem como ser catado um por um e acabam enterrados na areia da praia.
Com a mudança de hábitos e agindo dessa forma poderemos ter um uso sustentável daquela praia, as mesmas medidas servem para locais onde haja cachoeiras, rios e lagos. Mencionando que uma boa parte do lixo deixados em rios e córregosirão parar nos mares.
É isso aí vamos preservar para que nossos filhos e netos possam também ter o prazer de curtir uma praia limpa de boa qualidade, trazendo na bagagem boas recordações. 
Marcos Gustavo Leitão Andrade. Mergulhador (Pesca Submarina), residente em Vila Velha ES, Natural de Duque de Caxias ? RJ, graduado pela Universidade Presidente Antônio Carlos - Unipac Araguari MG. Trabalha na URBIPLAN - Consultoria e Projetos em Planejamento Urbano e Transportes / SEDU - Secretaria de Estado da Educação ES. Biólogo Especialista em Educação Ambiental CRBio-02: 78.374/02 Técnico em Aquicultura CREA-ES: ES-011098/TD

sábado, 13 de julho de 2013

7 bilhões de pessoas em Agosto de 2012


A população global já ultrapassou de 7 bilhões de pessoas em Agosto de 2012. Considerando que a maioria dessas pessoas vivem em centro urbanos, e o panorama não mudará em tão pouco tempo, estaremos expostos a todo tipo de problemas e não haverá solução milagrosa a curto espaço de tempo.
No pior cenário possível uma pandemia dizimará milhares ou talvez milhões de pessoas em poucas horas não dando tempo de reação. Os laboratórios produzem vacinas de todos os tipos para controlar e evitar doenças mas qual é o verdadeiro preço deste tipo de vida?
Muitos se mudaram para os subúrbios, optando por uma vida saudável, mas a infraestrutura não chegando a todos acarretará o retorno gradual destas pessoas por absoluta falta de serviços.

O adensamento Urbano custa fortunas as pessoas e empresas, perde-se tempo e a saúde em trânsitos engarrafados nas cidades e o transporte coletivo é deficitário e sucateado. O empilhamento de moradias não resolverá o problema, uma vez que serviços devem estar próximos aos moradores, espaços recreativos devem estar à disposição das pessoas, os habitantes devem morar próximo de seu local de trabalho.
As cidades devem se preparar para o grande êxodo causado pela crise mundial, cidades fantasmas surgem a cada dia pelo fechamento de postos de trabalho e por conseguinte o serviço e comércio é afetado. Mas é justamente aí que aparece o espaço para repensar o “novo” onde a especulação imobiliária e os interesses saem em busca de espaços mais valorizados. Comunidades surgirão em forma de autogestão pois o poder público não tem interesse em cidades falidas, e “novos” desbravadores, novas formas de relacionamento tomarão posse desse espaço que será revitalizado, e a comunidade deverá afastar aqueles que a abandonaram, surgindo então uma nova cidade que apresentará suas ideias e criará seus representantes, trocando o velho pensamento pela novas ideias dos novos colonizadores.
Do espaço abandonado surgirá a solução para o adensamento das grandes cidades.

Fonte: talbua.com

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Empreendimento Sustentável


Quando poucos têm acesso a serviços e gêneros de primeira necessidade, a sustentabilidade fica totalmente comprometida.
A sustentabilidade abrange vários níveis de organização, desde a vizinhança local até o planeta inteiro por isso a distribuição de renda deve ser justa, a responsabilidade social deve ser praticada por empresas, governos e a sociedade civil. Não confundir responsabilidade social com caridade, a responsabilidade social causa a inclusão do indivíduo na sociedade que ele se avizinha, a caridade é um socorro imediato para o desafortunado resolver sua necessidade momentânea.
Para um empreendimento humano ser sustentável, tem de ter em vista quatro requisitos básicos. Esse empreendimento tem de ser:
  • ecologicamente correto
  • economicamente viável
  • socialmente justo
  • culturalmente aceito.
Um exemplo real de comunidades humanas que praticam a sustentabilidade em todos níveis são as ecovilas.
Conheça algumas inciativas de ecovilas pelo mundo.

O que está em questão para consumidores de alimentos ecológicos?

Estamos vivendo um momento crucial para o rumo da produção e consumo de alimentos. Em que pese o processo que torna paulatinamente qualquer coisa em mercadoria (a natureza, a água, as ideias), este mesmo movimento abre espaços para a valorização, via mercados, de características distintivas dos alimentos: a originalidade, o cuidado, o sabor, os traços culturais, a tradição e a relação com a sustentabilidade ambiental.

Estudos recentes têm demonstrado duas versões sobre o fenômeno do consumo nas sociedades contemporâneas e que são possivelmente complementares. Alguns sustentam que consumo é o ápice da ação alienada, espaço da realização individual e egocêntrica de um “cidadão” que age para obter prazeres ditos consumistas. Outros, com interpretações mais otimistas, apontam que é possível ver transformações relevantes para as quais grupos coletivos conseguem ter sucesso ao “pressionar” produtores a modificarem processos de produção e criar demandas por atributos considerados valiosos, especialmente quando se trata de alimentos: qualidade, pureza, sabor, originalidade (Portilho, Castaneda, 2012). Embora se reconheça que este ainda é um consumidor escasso ou minoritário, conforme mostra Guivant (2003), atualmente seu potencial político não pode ser menosprezado.
Quais aspectos estão em questão para estes consumidores ativos e engajados e qual a importância de seus argumentos para modificações das práticas produtivas? Um dos fenômenos de destaque quando se observam mudanças nos padrões de consumo diz respeito aos alimentos ecológicos. Portanto, o que dizem consumidores de alimentos ecológicos sobre o que desejam e que características aparecem como essenciais para eles?
As informações sobre preferências e gostos de consumidores que analisamos a seguir são oriundas de uma pesquisa de caráter antropológico realizada por um dos autores entre 2008 e 2009 no município de Chapecó, estado de Santa Catarina (Radomsky, 2010). Na época, como estratégia metodológica, optou-se por acompanhar a construção de uma organização de consumidores de alimentos ecológicos da região cujo objetivo era tornar a oferta de produtos mais ampla no meio urbano e simultaneamente criar mercados para agricultores familiares locais.
O grupo organizou-se em torno de professores e alunos (e seus amigos) de uma universidade comunitária de Chapecó e possuía um núcleo expressivamente engajado que contava com cerca de doze pessoas. Embora pequeno em número, a mobilização era intensa: eram conhecidos dos agricultores e mediadores de sindicatos rurais, cooperativas e da Prefeitura e conseguiram organizar diversos eventos de compras coletivas de alimentos exclusivamente ecológicos, que chegaram a contar com mais de quarenta pedidos.
Percebe-se que um dos argumentos mais fortes de mobilização das práticas de consumo está na qualidade. Porém, não se trata de uma característica isolada como se para o grupo bastasse uma qualidade sem atributos e que não espelhasse elementos da sociedade em que vivemos. Como gostam os antropólogos, valorizaremos as falas das pessoas participantes do grupo, que na época nos brindaram com frases admiráveis.
Um dos “riscos” das compras coletivas – sempre debatidas no coletivo – residia na perda da qualidade dos alimentos que ficassem armazenados durante muito tempo. Isto equivaleria a comprar em supermercados e um dos participantes esclareceu para os demais participantes: “é preciso distinguir mercadorias de alimentos; alimento é uma coisa, outra coisa é sucata alimentar. Mercadoria é feita pra durar na prateleira do supermercado. [...] Até as crianças sabem o que é bom e o que é ruim nos produtos”. Observamos que, mesmo sem verbalizar desse modo, alimento é entendido como dádiva. Em sua percepção, mercadoria é necessariamente ruim, sucata, pois é produção em massa apenas para que possa permanecer com bom aspecto nas prateleiras de supermercados. O aspecto físico do produto-alimento conta menos que sua essência intrínseca. Com alguma ironia, a “sucata alimentar” parece ser uma imagem do mundo em que vivemos em que ela se tornou comum e com objetivo mais eminente de durar na prateleira do que de ser um bem saboroso e fonte de energia.
Em outro momento, a mesma pessoa procurou mostrar como comida não pode ser pensada sem que os atributos culturais estejam igualmente implicados. Diz ele: “temos que resgatar aquele saber, aquele conhecimento desinteressado. Antes o agricultor fazia o vinho para tomar e se ele fosse te vender ele ia na pipa pegar. O salame a gente quer agora, mas tem que preparar e avisar o agricultor”, sublinhando que os produtos demandados pelos consumidores são resultado de um processo de cultivo, criação e trabalho da família. Segue dizendo que “não é qualquer salame. Daí ele [o agricultor] tem que criar o porco, alimentar sem milho híbrido, fazer o salame com a tripa do porco invertida, queremos aquele salame que ficou famoso. Depois o agricultor tem que deixar o produto na fumaça para as moscas não colocarem ovos. E o controle da qualidade? É no cheiro”, gesticulando com os dedos próximos ao nariz enquanto falava, “é assim que eu compro salame”, concluiu.
Este conjunto de características dos alimentos e também dos agricultores que os produzem fornece um sentimento de autenticidade e pureza para o consumidor (o estudo de Pratt, 2007, é exemplar neste sentido). O que aparece na fala é exatamente o que algumas pesquisas mostram sobre a importância da biodiversidade agrícola e dos conhecimentos tradicionais para a produção de alimentos, nos quais a interpelação se direciona para o agricultor trabalhar a favor de uma espécie vegetal (no caso, milho) de variedade local e valorizar o conhecimento que utiliza os sentidos, vale-se dos objetos antigos e dos processos característicos da agricultura camponesa (aproveitando as matérias primas desenvolvidas na propriedade rural). O pertencimento, que nos impele a refletir sobre seu caráter cultural, adquire o caráter relacional, tal como argumentam Heley e Jones (2012), pois é aquele saber que não aparece em outro contexto e tem na experiência sua autenticidade.
Na reunião seguinte, ainda durante nossa pesquisa, ocorre uma instigante conversa sobre os valores. “É, hoje até o paladar foi monetarizado...” fala livremente um dos membros do grupo. “Se tudo está monetarizado”, responde um deles, “temos que usar o dinheiro para valorizar e fortalecer a agroecologia. Temos que ter produtos com valores agregados (salames, queijos, vinhos) para que os de menor preço venham junto [nas compras coletivas, para tornar mais atraente para o agricultor]...”. O primeiro voltou a comentar algo, mas desviando um pouco do assunto, embora sem discordar. E segue o segundo corrigindo sua própria frase, falando ainda do dinheiro e sua relação com a agricultura ecológica: “Valor agregado não, preço agregado, pois são os valores morais que vêm agregados”.
Estamos vivendo um momento crucial para o rumo da produção e consumo de alimentos. Em que pese o processo que torna paulatinamente qualquer coisa em mercadoria (a natureza, a água, as ideias), este mesmo movimento abre espaços para a valorização, via mercados, de características distintivas dos alimentos: a originalidade, o cuidado, o sabor, os traços culturais, a tradição e a relação com a sustentabilidade ambiental.
Este tipo de consumidor, como antes dissemos, é ainda pouco comum, mas tem tido importante papel na politização das atividades econômicas (DuPuis e Goodman, 2005). Percebe-se a crítica à economia capitalista que, de certa forma, sugere um tipo expansivo de aquisição de mercadorias ao tentar suprir o mercado por meio da produção em massa. Com isto, testemunhamos a extração e o uso de recursos naturais sem o cuidado de recomposição e que tem como um dos efeitos a poluição do solo, do ar e dos cursos d’água.         
O consumo de alimentos ecológicos se insere em uma distinta lógica de valores em que se destaca a importância do modo como foi produzido, levando em consideração uma maior harmonia com o ambiente e amparado no contexto sociocultural.
Um aspecto essencial das práticas de consumo de alimentos ecológicos por meio de grupos organizados é que o fenômeno faz necessária a reconstituição das relações de proximidade entre agricultores e consumidores, ensejando formas distintas da percepção sobre alimentos, cooperação e mercados.
Assim, o consumo de produtos agroecológicos, mesmo que ainda de maneira tímida, vem se colocando para o debate atual sobre alimentação e cultura como questionador das práticas habituais de consumo. Diferente do produto massificado vislumbrado como mera mercadoria, quando os consumidores ecológicos se relacionam com o alimento de maneira mais próxima (e até emotiva) desempenham papel crucial para subverter as tão desgastadas relações econômicas impessoais em nossas sociedades.

Referências
DUPUIS, E. M.; GOODMAN, D. Should we go ‘‘home’’ to eat? toward a reflexive politics of localism. Journal of Rural Studies, v. 21, n. 3, p. 359–371, 2005.
GUIVANT, J. Os supermercados na oferta de alimentos orgânicos: apelando ao estilo de vida ego-trip. Ambiente e Sociedade, v. 6, n. 2, p. 63-81, 2003.
HELEY, J.; JONES, L. Relational rurals: some thoughts on relating things and theory in rural studies. Journal of Rural Studies, v. 28, p. 208-217, 2012.
PORTILHO, F.; CASTANEDA, M. Certificação e confiança face-a-face em feiras de produtos orgânicos. Revista de Economia Agrícola, v. 58, p. 11-21, 2012.
PRATT, J. Food values: the local and the authentic. Critique of Anthropology, v. 27, n. 3, p. 285-300, 2007.
RADOMSKY, G. F. W. Certificação participativa e regimes de propriedade intelectual. 2010. Tese (Doutorado em Antropologia Social) – Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2010.

Guilherme F. W. Radomsky é Professor do Departamento de Sociologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul,  Michele L. Lima Ávila é acadêmica do Curso de Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Bolsista PIBIC/CNPq,  Daniela Lesina Soares é acadêmica do Curso de Políticas Públicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

SLOW TRAVEL - DEVAGAR SE VAI MELHOR

A pressa é inimiga da viagem perfeita
Apareça às 7 horas da manhã para tomar café em qualquer hotel turístico das capitais do Nordeste, e você vai encontrar o salão tomado. Todos ali estão de férias, mas talvez tenham acordado ainda mais cedo do que acordariam nas cidades onde moram. Antes das 8, um ônibus passará para levar os grupos em passeios a praias distantes – que chegam a consumir duas horas de viagem para ir, mais duas para voltar. Essa rotina cansativa se repetirá pelos seis ou sete dias que durar o pacote. Não é por acaso que, ao voltar, tanta gente ache que precisa tirar férias para descansar das férias.


A ideia de “aproveitar a viagem” normalmente significa não ficar parado um só instante. É preciso ver, bater ponto, “conhecer”. Fora do Brasil, isso fica ainda mais cansativo. Usamos todas as forças que nos restam para negar a diferença de fuso horário. “Eu não vou dormir em dólar” é a frase mais usada. Todo lugar turístico tem suas “atrações”, e ai de quem deixar uma que seja para trás. É como “ir a Roma e não ver o papa” – o bordão mais usado do mundo das viagens. Precisa ser assim? Claro que não. 
Alugue em vez de hospedar-se. Graças à internet, está cada vez mais fácil alugar apartamentos em grandes cidades e casas no campo por temporada. Quem aluga fica mais tempo e se integra melhor ao lugar que está visitando. Sem falar que os preços são supervantajosos. 
Inspirado no slow food, o movimento prega que a pressa é a maior inimiga das viagens perfeitas
Leia o jornal local. Não há maneira mais intensa de viver o momento longe de casa que compartilhar do que é importante para os moradores do lugar. Mesmo que você não domine o idioma, descobrirá coisas que darão ainda mais significado a sua estada.
Não seja escravo do cartão-postal. Palavra de quem já foi algumas vezes a Roma e nunca viu o papa: não perca o sono, nem cabule refeições, nem se submeta a várias filas por dia só para encaixar o máximo de monumentos e museus em seu dia. Pouquíssimos serão tão inesquecíveis quanto aquele almoço fabuloso que você queria que não acabasse nunca.
Troque o pinga-pinga por bases de exploração.  Em vez de programar aquela viagem comprida com um pernoite em cada lugar, divida sua viagem em duas ou três bases. A partir de cada uma delas você poderá fazer pequenas viagens de um dia só, sem bagagem. São passeios para ter na manga – e só fazer se realmente sobrar tempo.
Tire um dia para se perder. Reserve um dia para passear sem guia de viagem. Nesse dia, você vai usar o que já aprendeu e seguir sua intuição. Garanto que, devagar, devagarzinho, é nesse dia que você vai fazer as melhores descobertas.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

FAO pede mais políticas que criem oportunidades a pequenos agricultores

A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, FAO, está pedindo a criação de mais políticas que gerem oportunidades aos pequenos agricultores.
Segundo a FAO, esses trabalhadores precisam receber mais apoio para que possam vender os excessos de suas colheitas. A agência da ONU diz que integrar os pequenos agricultores ao comércio irá ajudar a reduzir a fome e a pobreza.
Inclusão
Em um relatório sobre o assunto, lançado em Roma nesta quarta-feira, a FAO ressalta a importância da maior integração nos mercados e de cadeias de produção mais inclusivas. Com isso, os pequenos agricultores poderiam adotar novas tecnologias, essenciais para aumentar sua produção.
O Brasil é citado como exemplo no estudo, devido a uma iniciativa que facilita a compra de produtos agrícolas pelo governo. No Programa de Aquisição de Alimentos, a comida comprada de pequenos agricultores é usada em cestas-básicas e na produção de merenda escolar.
Incentivos
Segundo a FAO, esse projeto beneficia 200 mil agricultores brasileiros e distribui comida a 15 milhões de pessoas por ano. A agência nota ainda que o Brasil fornece incentivos ao setor privado para que comprem diretamente de pequenos produtores.
A FAO lembra que geralmente, os pequenos agricultores investem o próprio dinheiro e têm pouco acesso a crédito ou seguros, quando uma situação inesperada acontece, como secas ou cheias.
Cerca de 80% dos alimentos consumidos em países em desenvolvimento são produzidos em plantações de pequeno porte, em especial na África e na Ásia.
* Publicado originalmente no site Rádio ONU

Alimentos orgânicos não são, necessariamente, mais caros do que os convencionais




Alimentos orgânicos não são mais caros do que os convencionais. Em muitos casos, chegam a ser até mais baratos do que os alimentos produzidos com o uso de agrotóxicos e adubos químicos sintéticos e em vários outros têm preços idênticos aos dos convencionais. Um caso exemplar é o rabanete, que serviu para ilustrar a capa de um caderno especial de um grande jornal de São Paulo, na Semana do Meio Ambiente, no início de junho deste ano. Na foto da capa, o rabanete aparece dentro de uma caixinha própria para embalar joias, como se fosse, como o jornal definiu, um “artigo de luxo”.
Ironicamente, porém, em um levantamento em três pontos de venda feito pelaAssociação de Agricultura Orgânica de São Paulo (AAO), juntamente com oInstituto Kairós de Ética e Atuação Responsável e também com o Instituto 5 Elementos, justo o rabanete convencional estava mais caro do que o rabanete orgânico. No supermercado, o maço de rabanate convencional estava exatos 9% mais caro do que aquele produzido de acordo com os preceitos da agroecologia.
O levantamento foi feito entre os dias 15 e 25 de junho de 2013, em três lugares: na Feira de Orgânicos da AAO, realizada todas as terças, sábados e domingos no Parque da Água Branca, na zona oeste da capital; na feira livre convencional dominical do bairro de Santa Cecília, também na zona oeste, e no supermercado Pão de Açúcar da Avenida Angélica, no distrito da Consolação. Entre as redes de hipermercados estabelecidas no Brasil, esta é a que mais investe na comercialização e no marketing de produtos orgânicos.
A pesquisa de preços ficou a cargo da engenheira agrônoma voluntária da AAO, Ira Helal, e a apresentação dos resultados foi feita pela representante do Instituto Kairós, Ana Flávia Borges Badue, durante evento promovido dia 27 de junho, voltado principalmente a jornalistas, no auditório da Escola de Astrofísica, no Parque do Ibirapuera, zona sul da capital.
A ideia do evento foi justamente, como relata o presidente da AAO, o produtor agroecológico Guaraci Diniz, dar um panorama da situação atual da agricultura orgânica no Brasil e, principalmente, desfazer alguns mitos que, de tanto serem reproduzidos nos meios de comunicação, acabam virando verdade.
Um dos principais é justamente este: o de que alimentos orgânicos são “caros”.
No levantamento feito nos três pontos de venda – e é bom destacar que este levantamento não difere muito da pesquisa frequente de preços que muitos consumidores se dispõem a fazer, em busca de economia – selecionaram-se 56 itens de referência disponíveis em duas  bancas de frutas, verduras e legumes de duas produtoras  da feira da AAO, a fim de comparar seus preços com os produtos convencionais da feira livre convencional e também com os do supermercado.
Entretanto, apenas 36 itens puderam ser comparados. Quanto aos 20 restantes, ou não eram ofertados nos pontos de venda convencionais; ou estavam fora de temporada ou não havia formato de venda compatível para comparação. “Só aí já se percebe a perda da diversidade alimentar a que estamos sujeitos quando optamos por comprar nosso alimento em supermercados e feiras livres”, diz Ana Flávia.
Efetivamente, dada a padronização obrigatória da maior parte dos FLV encontrados nos supermercados e feiras livres (que se abastecem principalmente na Ceagesp, em São Paulo, o maior entreposto distribuidor de alimentos da América Latina e que também segue essa rígida padronização), fica difícil vender vegetais cultivados em baixa escala, como os ofertados diretamente aos consumidores pelos produtores rurais, característica típica das feiras orgânicas. Entre os vegetais que não puderam ser comparados estavam, por exemplo, a azedinha, a serralha, a mostarda e a taioba – alimentos típicos da roça, riquíssimos em nutrientes, porém praticamente inexistentes nas gôndolas dos supermercados.
No levantamento, a tese de que os orgânicos, ao menos setor de FLV (frutas, verduras e legumes) não são necessariamente mais caros do que os convencionais se confirmou. Em alguns casos, principalmente quando se compararam os preços da feira orgânica com os do supermercado, os alimentos convencionais eram até mais caros. Além disso, principalmente nos supermercados havia diferença notória de tamanhos de produtos em relação aos ofertados na feira da AAO. Nos supermercados, por exemplo, conforme relata Ira Helal, os maços ou unidades de coentro, alface, acelga, couve manteiga, cenoura, rabanete, brócolis, cheiro-verde e cebolinha, entre outros, são bem menores dos que os da feira orgânica. “Ou seja, além de pagar mais caro pela unidade dos convencionais, o consumidor está levando para casa menos produto e ainda menos saudável do que o orgânico. Paga mais, e leva menos”, define a agrônoma.
Veja alguns dados observados:
  1. Na comparação de preços entre a feira orgânica da AAO e a feira livre convencional do bairro Santa Cecília, 31% dos alimentos comparados (orgânicos X convencionais) tinham preço idêntico; em 20% os alimentos convencionais eram mais caros em relação aos orgânicos da AAO e, em 49%, os orgânicos da AAO eram mais caros do que os produtos convencionais idênticos. Ou seja, se o consumidor optar pelos orgânicos da feira da AAO, em pelo menos 51% dos produtos comparados ele vai comprar pelo mesmo preço do convencional ou até abaixo do preço do convencional;
  2. Na comparação dos preços da feira orgânica com os do supermercado Pão de Açúcar da Av. Angélica, a relação muda bastante. Em 11% dos produtos, os preços dos orgânicos e dos convencionais eram idênticos; em 36%, os orgânicos da AAO eram mais caros do que os convencionais do supermercado e, em 53%, os itens da agricultura convencional eram mais caros do que os orgânicos da AAO. Novamente a comparação: se o consumidor optar pelos orgânicos da feira da Água Branca em vez dos FLV do supermercado, poderá obter, em 64% dos casos, preço idêntico ou mais barato do que o preço dos alimentos convencionais.
Ou seja, já não dá mais para generalizar e falar que produtos orgânicos são SEMPRE mais caros. E fica claro que a compra em feiras orgânicas, diretamente do produtor, é a forma mais econômica de consumir alimentos provenientes de uma agricultura limpa, que prima pela preservação dos recursos naturais. Além disso, Ira Helal, em seu levantamento, lembra de algumas questões importantes na relação produtor/consumidor. “Ao comprar diretamente do produtor – como na feira orgânica –, o consumidor tem ricas informações sobre o alimento diretamente de quem o produziu, e não por meio de uma etiqueta (obrigatória) nos FLV embalados dos supermercados”, diz. “Ele pode saber sobre o sistema de produção, a história do sítio, condições de cultivo e transporte, melhor maneira de preparar o alimento, numa relação direta e enriquecedora”, diz Ira Helal. Nem mesmo na feira livre convencional essas informações são fáceis de obter, já que os feirantes são intermediários dos intermediários; não são produtores. “Na feira de Santa Cecília, apenas dois produtores fazem venda direta”, completa Ira Helal. Sem deixar de mencionar que, optando pela compra direta, o consumidor estimula mais ainda a cadeia de produção de alimentos saudáveis e também ajuda na manutenção econômica do pequeno produtor, perfil de quem trabalha nas feiras orgânicas.
É possível saber onde há uma feira orgânica mais próxima de sua casa acessando o site do Instituto de Defesa do Consumidor, o Idec (www.idec.org.br/feirasorganicas), que fez um mapa interativo e sempre atualizado de todas as feiras orgânicas existentes no País, e também de grupos de consumo.

terça-feira, 9 de julho de 2013

Agricultura familiar contribui com empregos e baixas emissões

Brasília, 14 de junho de 2013 – Apesar de oito em cada dez propriedades rurais brasileiras serem consideradas pequenas e dedicadas à agricultura familiar, o setor “ainda é o ponto fraco da corda”, segundo o diretor-executivo do IPAM, Paulo Moutinho.
Ao analisar a produção familiar em diferentes biomas, técnicos do Ministério do Desenvolvimento Agrário, Embrapa, Incra, Ministério do Meio Ambiente (MMA) e de instituições da sociedade civil reunidos no Seminário do IPAM “Caminhos para uma Agricultura Familiar sob bases Ecológicas: produzindo com Baixa Emissão de Carbono”, corcordaram em vários pontos: os recursos para a agricultura familiar são muito menores e falta capacitação para uma produção mais sustentável.
Jorge Artur Oliveira produz hortaliças, frutas e cria gado leiteiro em um sítio de 28 hectares em Braslândia, região do entorno de Brasília. É adepto do sistema agroflorestal, comercializando sua produção diretamente ao consumidor em feiras organizadas por cooperativas: “Não existe incentivo específico para a agroecologia e os incentivos para a agricultura familiar não abrangem os micro e pequenos produtores, que são de fato os principais atuantes dos sistemas agroecológicos”. Como outros 4,3 milhões de pequenos agricultores, ele precisa ultrapassar outra barreira: conseguir adaptar-se às transformações provocadas pelas mudanças climáticas.
Segundo o pesquisador da Embrapa, Eduardo Assad, o total de chuvas não está mudando, mas a máxima diária sim. Isto causa impactos como o aumento da erosão, perda de fertilizantes (levados pelas chuvas) e inundações em áreas produtivas. “Os mais afetados são os pequenos produtores. Eles precisam estar perto da água, porque não usam sistemas de irrigação”, explica. Os modelos mais recentes apontam para redução das áreas de baixo risco, o que vai dificultar a concessão de crédito rural. “Os modelos só indicam impactos positivos para a cana-de-açúcar e tabaco”, afirma Assad, que é ex-Secretário de Mudanças Climáticas do MMA.
Parte da solução
De acordo com Valter Bianchini, Secretário de Agricultura Familiar do MDA, o governo está “em fase final da elaboração de um Programa Nacional de Agroecologia e Agricultura Orgânica, construído por representantes da sociedade civil, mais de 10 ministérios e organizações ligadas ao tema”.  Além de buscar formas que integrem lavoura, pecuária, florestas, preservem os respectivos biomas, o manejo de solos, a preservação dos rios, a presidente Dilma Rousseff anunciou na semana passada a criação de uma nova agência de extensão rural, que pode ajudar a garantir produtividade e renda.
A preocupação com a agricultura familiar faz sentido. Com 24,3% do total de terras destinadas à produção, os agricultores familiares se dividem em várias categorias: são ribeirinhos, pescadores, quilombolas, assentados, indígenas, populações tradicionais. Também são os que mais empregam (75% dos 16,5 milhões de trabalhadores no campo) e têm uma participação de 38% no total do valor bruto da produção agropecuária – percentual que se mantem estável há 10 anos.
Não existem estimativas oficiais, mas segundo o professor Paulo Kageyama, da Escola Superior de Agricultura da USP (Esalq), a percepção é que a maioria dos agricultores familiares produz sem agrotóxicos e não usa transgênicos por causa do custo. “A produção convencional custa quatro vezes mais do que a orgânica e o retorno não é tão maior”, diz. “O problema é a agricultura familiar querer copiar o agronegócio. Há muito menos pragas quando não se usa monocultura, menos perda da biodiversidade e mais qualidade no produto”, afirma.
Os pequenos também tiveram uma contribuição significativa na queda do desmatamento no país, segundo Moutinho. Nos últimos oito anos, os assentamentos da Amazônia, que englobam 78% da área total dos assentamentos do país, têm seguido a mesma tendência de redução no corte e derrubada de florestas.  “Neste período, o desmatamento dentro dos assentamentos foi reduzido em 70%, numa proporção similar à redução do desmatamento da região, que foi de 66%”, afirma Moutinho, com base em análise realizada pelo IPAM em parceria com o Incra.
“A redução do desmatamento recente que vem acontecendo no Brasil até 2012 representa cerca de 2,2 bilhões de toneladas de CO2 (dióxido de carbono) que deixaram de ir para a atmosfera. Isto é mais do que todos os mecanismos do Protocolo de Quioto conseguiram reduzir. Mais do que o ETS europeu (sistema de comercio de carbono) conseguiu fazer,” de acordo com Moutinho.
“E uma boa parte disto vem da agricultura familiar, não no sentido de volume total, mas do que a gente chama de resíduo do desmatamento, que não é pouco – 4 mil km² não é pouco – mas pode ser uma contribuição grande da agricultura familiar acabar definitivamente com as taxas de desmatamento na Amazônia”, conclui.
Os especialistas acreditam que a produção familiar já produza com baixas emissões de gases que provocam o efeito estufa, mas a comprovação ainda está por vir. De acordo com Assad, não há medição de emissões em áreas de agricultura familiar.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

SLOW FOOD - Da qualidade da comida para a Qualidade de Vida


Slow Food, representada por um pequeno caracol é uma associação internacional fundada pelo jornalista italiano Carlo Petrini (veja discurso (em italiano) numa iniciativa da Terra Madre (http://www.youtube.com/watch?v=pcxTsto5lGA).
“O seu objectivo inicial era apoiar e defender a boa comida e o prazer gastronômico. Com o tempo esta iniciativa tem vindo a ser ampliada para abranger o conjunto da nossa qualidade de vida e, como consequência, a própria sobrevivência do planeta em que vivemos. O Slow Food acredita que a gastronomia está indissociavelmente ligada à política, à agricultura e ao ambiente entre outras coisas.
O “Slow Food” foi o primeiro dos movimentos “Slow” a surgir. Nasceu em 1986, em Barolo, Itália, com 62 membros fundadores a criar o Arcigola, o antecessor do Slow Food, e em 1989, em Paris, constituí-se o movimento internacional Slow Food, por oposição ao conceito de Fast Food e ao estilo de vida acelerado.

É, portanto, um movimento que valoriza o que é de origem “Local” em oposição ao “Global”, não negando, também, a Globalização que deverá ser pautada pela justiça, pela equidade, pela humanização e pela regulamentação. É, na realidade, um contributo para que seja imposto um modelo de desenvolvimento sustentável onde prevalece o respeito pela biosfera e pela sociosfera  defendendo a sustentabilidade dos recursos da natureza e a defesa dos valores culturais humanos. De acordo com o movimento e orgulhando-se de ir do local para o global existem, oficial e atualmente, mais de 100.000 membros, em 129 países, que constituem 800 Convivia (grupos da organização), além de escolas, hospitais, instituições e autoridades locais, juntamente com 1.600 Comunidades do Alimento, 5.000 produtores de alimentos, 1.000 Chefs e cozinheiros e 400 acadêmicos de 150 países.” (in Publitiris).


Slow Food organiza eventos nacionais e internacionais como o Salone del Gusto, a maior feira de comida e vinhos de qualidade do mundo, organizada bienalmente no Centro de Exposições Lingotto em Turim; a Cheese, uma feira bienal organizada na região de Piemonte e a Slowfish, uma exibição anual em Gênova dedicada à pesca sustentável. Também em Turim, organiza a cada dois anos o evento Terra Madre, que reúne mais de 5 mil pequenos produtores agrícolas, chefs de gastronomia e pesquisadores de todo o mundo.



Em síntese, As suas principais iniciativas são:
- Os Convívium (nome que designa os grupos e representantes locais da filosofia Slow Food desenvolvendo projetos e atividades diversas); o Terra Madre (projeto que ressalta a interconexão política e econômica nos países desenvolvidos e subdesenvolvidos e que apoia ativamente as economias locais de pequeno porte para que sejam sustentáveis);
- As Comunidades do Alimento (apoio a comunidades que produzem vários produtos, até diferentes entre si, mas todos ligados a uma área geográfica delimitada ou a uma etnia indígena, ou então produtos semelhantes mas que são de territórios diferentes);
- A Fundação para a Biodiversidade (apoia projetos que defendem espécies animais, vegetais e tradições alimentares, financia o projeto fortalezas, principalmente em países em desenvolvimento, onde o que está em jogo é a própria sobrevivência das pessoas, comunidades e culturas);
- A Universidade de Ciências Gastronômicas (primeira instituição acadêmica dedicada ao estudo da gastronomia);
- A Arca do Gosto (cataloga alimentos em vias de extinção);
- As Fortalezas (pequenos projetos de ajuda direta e local ao produtor em qualquer ponto do globo); 
- A Editora Slow Food (livros, revistas, merchandising para partilhar a filosofia);
- Um Prêmio Internacional e diversos Eventos (de caráter lúdico, pedagógico, social e ambiental, desde jantares no bairro a feiras internacionais).

“Ao treinar os nossos sentidos para compreender e apreciar o prazer que o alimento proporciona, também abrimos os nossos olhos para o mundo.” in Manual slow food.

Em suma: Que tipo de alimento é slow?: ALIMENTO BOM, LIMPO E JUSTO (Good, Clean and Fair Food)
BOM …Significa saboroso e apetitoso, fresco, capaz de estimular e satisfazer os sentidos, capaz de juntar as pessoas e trazer bons momentos passados em companhia ou mesmo sozinho, bons momentos passados na sua produção, confecção ou degustação.
LIMPO…Significa produzido sem exigir demais dos recursos da terra,dos seus ecossistemas e meio-ambiente e sem prejudicar a saúde humana.
JUSTO…significa respeitar a justiça social, o que significa pagamento e condições justas para todos os envolvidos no processo, desde a produção até a comercialização e consumo.

domingo, 7 de julho de 2013

SLOW TRAVEL / SLOW TOURISM

SLOW TRAVEL, um novo conceito de Turismo

O Slow Tourism contraria o estilo de turismo que se afirmou no século passado, ou seja, os charters turísticos, os all-inclusive, as excursões programadas e planejadas, os horários impostos, etc.

 “O conceito de “Slow Travel” é uma tendência crescente. A segunda metade do século XX pode ser definida como o período de afirmação do turismo, mas também a etapa em que se iniciou o processo de massificação dos destinos e a perda de originalidade dos territórios. A construção desenfreada, as cargas turísticas excessivas, a sobrecarga dos recursos naturais e culturais, tudo foi possível em nome de um desenvolvimento rápido e de uma avidez de consumo. Como resultado, deparamo-nos hoje com territórios descaracterizados, onde a cultura local desapareceu, ou foi profundamente alterada, espaços onde as populações locais viram defraudadas as suas expectativas e, em vez do suposto desenvolvimento estruturante, os destinos viram todas as suas oportunidades de sustentabilidade comprometidas. O turismo massificado é impessoal, onde o turista é um número e não vivencia o destino mas sim um “faz de conta” folclorizado.



O século XXI está associado à afirmação de um novo conceito de desenvolvimento, o sustentável, associado a um desenvolvimento capaz de responder às necessidades do presente sem o comprometimento da satisfação das necessidades das gerações futuras.” (In Publitiris).

O “Slow Travel” pode ser definido  como a oportunidade do visitante em se tornar parte integrante do destino, contactando com a população e com o território, num ritmo adequado à apreensão da cultura local. Este movimento silencioso contraria o estilo de turismo que se afirmou no século passado, ou seja, os charters turísticos, os all-inclusive, as excursões programadas e planeadas, os horários, etc. O “Slow Travel” valoriza a estada prolongada, com tempo suficiente para ir mais além do que o “must see”. Contactar com espaços locais, de pequena dimensão, com os produtores, com os mercados, com as populações, visitar aquela pequena igreja ou restaurante que não constam dos guias, ou seja, explorar, descobrir, usufruir, são os princípios do “Slow Travel”. O “Slow Travel” é uma “forma de estar” que surge como um contra-ciclo ao que é estipulado pelos grandes operadores turísticos.

Tornar-se parte do local que se visita, apreciar as esplanadas, conversar com quem ali vive, procurar entender as pessoas, os modos de viver, os espaços. Escolher os locais com que mais nos identificamos e passar lá horas. Conhecer a pé, de bicicleta, de comboio. Participar nas atividades locais, contribuir para o seu desenvolvimento.

O “Slow Travel” não está vocacionado unicamente para os espaços rurais, apesar destes possuírem especificidades para a sua prática. Os espaços urbanos podem e devem ser alvo da interpretação segundo os padrões do “Slow Travel”, potenciando a sustentabilidade, as economias locais e uma verdadeira nova experiência ao visitante. E de acordo com o Global Trends Report, publicado no World Travel Market de 2008, este será um movimento que se afirmará nos próximos anos. A atual conjuntura econômica e o debate sobre as alterações climáticas vêm reforçar o potencial de crescimento deste mercado, sugerindo aos destinos a aposta de produtos que os valorizem. Uma vez que se assume como um movimento alternativo aos padrões turísticos atuais, o “Slow Travel” não é uma moda, mas sim um estilo de vida baseado nos novos padrões comportamentais assumidos por uma sociedade responsável.

sábado, 6 de julho de 2013

SLOW CITIES - CITTASLOW

Viver Bem No Ritmo Certo - Movimento de Equilíbrio para um Mundo Sustentável e Solidário

Rede Internacional de Cidades onde a qualidade de vida é importante

Cittaslow" (slow cities) é um movimento fundado em Itália em 1999. A fonte de inspiração para as Cittaslow foi a organização internacional Slow Food.

O movimento funciona, em cada país, através da criação de uma rede nacional, atenta às características e especificidades de cada território.

Itália, Alemanha, Polônia, Noruega, Inglaterra, França, Espanha, Austrália, Canadá, Japão, Portugal e mais vinte países já fazem parte da Rede de 166 Cittaslow.

A categoria ‘Slow City’ constitui um selo de qualidade e uma marca que funciona tanto como uma distinção, como também como um compromisso e um ponto de referência para habitantes, turistas e investidores que esperam da cidade credibilidade no que diz respeito a sustentabilidade para as pessoas e para a natureza. “Destas cidades querem-se comunidades com identidade própria, identidade esta que seja reconhecida por quem chega e profundamente sentida por quem dela faz parte . Cultiva-se aqui o sentido de ligação entre os produtos e os consumidores, entre pessoas e meio ambiente protegido, entre residentes e visitantes (que  devem se sentir residentes durante a estadia). As cidades slow querem-se ajustadas à escala humana, com os centros históricos preservados e os edifícios novos harmonizados. Devem ser criados lugares de convivência comum da cidade, espaços de lazer e de cultura. A cidade tem que ser para todos e, para isso, as acessibilidades têm de prever a presença de todos por igual. O comércio tradicional, o atendimento personalizado e confiável é encorajado. As cidades e vilas devem ter menos trânsito e menos barulho. As possibilidades são infinitas e sempre inacabadas: espaços verdes, cafés, teatros, cinemas, pousadas, mercados com produtos locais, zonas exclusivamente pedonais, festivais de promoção da região, lojas de comércio justo, promoção dos bairros mais antigos, etc.. O desafio é implementar a filosofia, adaptando à realidade de cada país os cerca de 78 critérios instituídos pela organização mundial, para que uma cidade seja considerada uma “Slow City”. Sempre presente é a preocupação com as diferentes gerações.

O processo de candidatura junto com todos os habitantes da cidade e as suas organizações podem tomar iniciativas e são chamados a implicar-se, num diálogo que se quer participado, inteligente, solidário e criativo. 

Após vencer a candidatura, uma comissão externa à cidade verificará periodicamente a manutenção da designação e o atingir de novos critérios e soluções como Cittaslow.



Exemplo Cittaslow - Ludlow foi a primeira Cittaslow do Reino Unido, assim reconhecida em 2003. Ludlow é uma cidade no sul da região de Shropshire, perto do País de Gales, com cerca de 10.000 habitantes. Situa-se numa colina junto a uma curva do rio Teme. Entrar nesta cidade é ser recebido como residente, como parte integrante. Se percorrer o centro de Ludlow a pé pode encontrar mais de 500 edifícios referenciados. Nesses edifícios antigos moram pessoas e funcionam comércios, pode entrar e apreciá-los. O centro é dinâmico, encontra padarias com fabricação tradicional,  restaurantes recomendados internacionalmente, lojas de artesanato local, lojas de design, livrarias e bancos. Muitas destas lojas têm-se mantido, por muitas gerações, nas mesmas famílias. O atendimento personalizado e conhecedor dos produtos tem sido preservado. Junto ao castelo podemos encontrar um impressionante mercado de produtos cultivados e criados à volta da cidade. Existe também um centro de artes que promove cinema, teatro, música e conferências. Todas as organizações são convidadas a envolver-se nas decisões que envolvem a cidade.
Em 2004 foi criado um Eco-Parque periférico. Todos os edifícios de negócios ali construídos têm de cumprir soluções ecológicas, nomeadamente quanto à emissão de gazes com efeito de estufa (tem de ser 50% inferior à dos edifícios comuns). Pretende-se aplicar uma arquitetura sustentável. Um grande estacionamento, servido por um ônibus, cria uma alternativa ao carro próprio no acesso à cidade. Em Ludlow, decorrem todos os anos pelo menos quatro festivais: um de carros antigos; outro de artes com peças de Shakespeare, concertos, debates e animação de rua; um festival de gastronomia e um festival medieval. Todos estes enredos, e muitos outros, se podem descobrir em cittaslows. Lugares bons para viver e para visitar... lentamente.” 
In Publitiris, adaptado.