sábado, 10 de maio de 2014

ESPECIAL: Educação ambiental é responsabilidade de toda a sociedade

por Pamella Indaiá, do Blog Educação 09/05/2014
Vigente desde 27 de abril de 1999, a Lei nº 9.795 institui, entre outras providências, a Política Nacional de Educação Ambiental. Segundo o decreto, “entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade”. O texto define que a educação ambiental deverá constar em currículos das instituições de ensino públicas e privadas. Além disso, há especificações para a educação ambiental não formal, com a realização de ações e práticas voltadas à sensibilização da coletividade.
A legislação reforça, ainda, que é responsabilidade de toda a sociedade, não apenas das escolas, mobilizar-se para promover a atuação individual e coletiva voltada à prevenção, identificação e solução de problemas ambientais. “No Brasil, a ameaça à biodiversidade está presente em todos os biomas, em decorrência, principalmente, do desenvolvimento desordenado de atividades produtivas. A degradação do solo, a poluição atmosférica e a contaminação dos recursos hídricos são alguns dos efeitos nocivos observados. Na maioria dos centros urbanos, os resíduos sólidos ainda são depositados em lixões a céu aberto”, diz o texto de justificativa do Programa Nacional de Educação Ambiental – ProNEA.
De acordo com o diretor administrativo do Instituto Moleque Mateiro de Educação Ambiental – IMM, Francisco da Motta Schnoor, transformar os paradigmas socioambientais atuais para que haja maior harmonia entre a sociedade e o meio que a cerca é ainda um desafio. “Com a legislação da educação ambiental formal e informal, começamos a ter cobranças tanto da sociedade quanto do governo para que isso aconteça. Hoje, é necessário que as crianças comecem, desde cedo, a ter algumas noções básicas da relação sociedade-natureza, do porquê estarmos nesse momento e de como podemos melhorar o que está deteriorado. Já são mais de dez anos da lei, que aos poucos vai se tornando cada vez mais forte e necessária, ainda mais quando a sociedade começa a fazer parte desse debate e a se conscientizar”, salienta.
Na educação ambiental, segundo Schnoor, é preciso vincular sociedade e natureza. “Fazemos parte do meio ambiente, fazemos parte dessa cadeia e temos que nos unir a ela para juntos criarmos uma maneira mais harmônica de caminhar. Hoje, o mundo está bastante mutável, a internet mudou a velocidade da informação, então, o professor precisa estar aberto, o tempo todo, para o diálogo com os alunos, com a sociedade onde a escola está inserida, para que seja possível acompanhar essa mudança”. Para o especialista, é muito importante que a educação ambiental acompanhe a realidade local. “Temos um modelo de educação nacional, mas é preciso criar uma forma interativa de ensinar, buscar as crianças a partir da realidade delas. Nenhuma educação pode passar longe da realidade do indivíduo, porque só assim conseguimos despertar o interesse, a curiosidade pelo aprendizado”, pondera.
Implementação da temática ambiental (SE)
Desde a criação da Secretaria do Verde e Meio Ambiente de Aracaju (SE), em 2013, a temática ambiental é colocada em prática em diversas áreas do município. A inserção da educação ambiental nas escolas acontece de forma gradual, utilizando 30% da carga horária do programa pedagógico que já era reservada para atividades com a comunidade. “Buscamos a conscientização geral para o plantio e a manutenção de árvores, para a horta coletiva, limpeza na escola, coleta seletiva no bairro e todos os aspectos ambientais relacionados à convivência e à comunidade. Nós acreditamos que um trabalho efetivo nas escolas municipais será fundamental para a conscientização, para uma mudança de comportamento e para alcançarmos a harmonia entre o homem e o meio que o cerca”, afirma o secretário do Meio Ambiente de Aracaju, Eduardo Lima de Matos.
O público jovem é o alvo das ações realizadas pela secretaria municipal. Matos acredita que esse trabalho irá representar uma mudança positiva para Aracaju, pois a cidade enfrenta problemas com a destinação de resíduos, destruição de cobertura florestal e corte irregular de árvores. “A ideia é utilizarmos uma linguagem pedagógica simples e clara, de acordo com cada faixa etária. Esperamos formar ‘guardiões ambientais’, crianças e adolescentes que irão a diversos pontos da cidade para disseminar o conhecimento. Esse é um trabalho lento, mas de base fundamental. Estamos, realmente, construindo um clima propício para o que almejamos: uma consciência para a proteção do meio ambiente”, disse.
Conscientização sobre a realidade local (CE)
Com a proposta de desenvolver projetos de reflorestamento e criação de bancos de sementes de espécies nativas, em 2013, a Escola Agrícola de Ensino Fundamental Deputado Leorne Belém, localizada em Quixeramobim (CE), desenvolveu o projeto Recompondo a nossa Caatinga, uma vez que o bioma da região sofre com desmatamentos e repetidas queimadas. De acordo com a diretora da escola, Fátima Almeida Oliveira, o objetivo do projeto é fortalecer o sentido de pertencimento da população local e revitalizar a vegetação nativa da região para que o ambiente preservado não sofra desertificação.
Uma das maiores provocações para a educação ambiental da região é conscientizar, principalmente, os produtores rurais sobre as diferenças entre desmate, raleamento ou rebaixamento de caatinga. “Conhecer para preservar” é o lema da escola para tratar a extinção da fauna e da flora, segundo a diretora. “Toda a comunidade escolar apresenta comprometimento com as questões ambientais. Temos quintal agroecológico, pomar e destino certo do lixo. A área do projeto é local de visitação e de observação, onde se realizam experiências diversas. A preservação é uma prática cotidiana e levamos palestras para outras escolas. O aluno é orientado pelo professor de agricultura e aprende aqui para implantar no sítio. Sempre realizamos aulas de campo, fóruns e seminários, a reflexão é uma ação constante em nossa escola”, salienta.
Origem, uso e preservação da água (PR)
Na Secretaria de Educação do Estado do Paraná, 2014 é o “Ano Pedagógico da Água”. A ação educativa busca gerar reflexões para trabalhar o tema água na escala local, de acordo com o município e a bacia hidrográfica correspondente. Para iniciar as atividades, o livro O Paraná e suas águas será distribuído na rede pública estadual de ensino e os educadores serão orientados sobre o uso do material. “Incentivamos a discussão em sala de aula para que alunos possam entender qual é a qualidade da bacia em que ele está localizado, de onde vem a água que ele bebe. Além disso, na publicação, abordamos aspectos legais, institucionais da água e orientamos os professores de diversas disciplinas para que o tema seja visto de maneira transversal na escola”, explica o coordenador de Recursos Hídricos, Mauri César Barbosa Pereira.
Para Pereira, a origem da água que abastece todo o Estado e o destino final do esgoto é algo que a população em geral ainda desconhece. “O tema água, quando pensado nas relações de causa e efeito, que ocorrem no território de determinada bacia hidrográfica, pode ser didaticamente compreensível e assimilável, especialmente quando abordado da forma pedagógica adequada. Dessa maneira, podemos corrigir práticas, alterar costumes sobre o consumo, desperdício de água e, principalmente, induzir ações sobre práticas que conservem ou melhorem a qualidade das águas”, afirma.
Protagonismo jovem (SP)
Na cidade de Paraibuna (SP), o Instituto H&H Fauser promove, em parceria com escolas da rede pública, o Programa de Jovens, Meio Ambiente e Ação Social, que busca a inclusão de adolescentes e jovens por meio da educação ecoprofissional e da formação integral. O curso é realizado durante dois anos, sendo que no primeiro são promovidas oficinas sobre turismo sustentável, agroindústria artesanal, consumo, lixo, e arte, além de produção e manejo agrícola florestal sustentável. Já no segundo ano, os alunos fazem a iniciação científica júnior e escolhem uma área para elaborar um projeto de “ecoempreendimento”.
Segundo a coordenadora pedagógica do Programa de Jovens de Paraibuna, Larissa Neli Faria, a formação possibilita o protagonismo e o envolvimento do jovem com questões sociais. “Na iniciação cientifica júnior, o próprio estudante consegue articular com os setores público e privado. Estes demandam um problema ambiental, social e histórico que será solucionado com a ação do jovem, que recebe instruções para ir atrás dos recursos necessários para criar políticas públicas”, disse.
O município de Paraibuna está localizado na região da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica e da Reserva da Biosfera do Cinturão Verde de São Paulo e o programa busca ter como foco prioritário a conservação desse ambiente. “Na formação, pontuamos que eles [jovens] são parte dessas reservas e que estão inseridos nelas. Mostramos quem são eles nesse contexto e qual o papel deles como cidadãos. Abordamos a dimensão de eles serem parte de uma área verde que deve ser preservada e como eles, sendo protagonistas e ativos, podem modificar a realidade da comunidade”, destaca Faria.

Rodrigo Pizeta é especialista em Gestão Ambiental



terça-feira, 6 de maio de 2014

Resíduos sólidos – embalagens pós-consumo

por Diálogos Capitais 31/04/2014

Para discutir o cenário atual da Política Nacional de Resíduos Sólidos, bem como os avanços da lei e o que ainda precisa ser feito para garantir a destinação correta dos resíduos pós-consumo, com foco nas embalagens, o Compromisso Empresarial para Reciclagem (CEMPRE), a revista CartaCapital e o Instituto Envolverde promoverão no dia 07 de maio o seminário Diálogos Capitais: Resíduos Sólidos – Embalagens pós-consumo” no Auditório do Grupo Pão de Açúcar, em São Paulo.
Em 2014, a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) completa 4 anos. De lá para cá, o Brasil avançou em diversos aspectos no que diz respeito ao gerenciamento integrado dos resíduos urbanos, mas ainda há muitas coisas por fazer. Para isso acontecer, é preciso que todos os elos da cadeia – sociedade, empresas e poder público – exerçam a responsabilidade compartilhada dos resíduos pós-consumo no Brasil.
O evento contará com a participação da Ministra do Meio Ambiente Izabella Teixeira, que analisará os esforços do setor público e privado na implantação da PNRS. Na sequência, os consultores técnicos Nicia Mafra e Filipe Brumatti de Souza apresentarão resultados preliminares do relatório “Investimentos do setor empresarial para o incremento da reciclagem de embalagens pós-consumo (fração seca do lixo urbano)”, realizado pela Coalizão Embalagens liderada pelo CEMPRE. Para debater o cenário atual das embalagens pós-consumo no Brasil, o seminário contará com os painéis: Avaliação de resultados e próximos passos e Responsabilidade Compartilhada, o setor privado.

Para compor as mesas de discussão estão confirmados: Victor Bicca, presidente do CEMPRE e diretor de Sustentabilidade da Coca-Cola Brasil para a Copa da Fifa; André Vilhena, diretor executivo do CEMPRE; Roberto Laureano, representante do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis; Simão Pedro Chiovetti, secretário municipal de Serviços da Prefeitura de São Paulo; Paulo Pompilio, diretor do Grupo Pão de Açúcar; Fernando Von Zuben, diretor de Meio Ambiente da Tetra Pak, entre outros. 

Rodrigo Pizeta é Especialista em Gestão Ambiental

A três meses do prazo, Brasil ainda tem 2 mil lixões em funcionamento

por Redação do EcoD 05/05/2014

O Brasil não deveria mais ter lixões a céu aberto em funcionamento a partir de 3 de agosto, conforme determinação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), em vigor desde 2010. Contudo, a três meses do prazo, a meta não deverá ser cumprida, pois ao menos 2 mil equipamentos desse tipo ainda recebem resíduos em todo o país, segundo estimativa da Confederação Nacional dos Municípios (CNM).
A CNM, inclusive, já pediu ao governo a prorrogação do prazo do Plano Nacional. Entre as cidades que não foram capazes de cumprir a meta nos últimos quatro anos, há três capitais: Porto Velho, Belém e o Distrito Federal. Um estudo feito pela Associação Brasileira de Limpeza Públicas e Resíduos Especiais (Abrelpe) mostra que 40% de todo o lixo produzido no Brasil têm destinação inadequada.
Como os lixões não têm tratamento ambiental, a decomposição dos resíduos sólidos contamina o solo e, consequentemente, lençóis subterrâneos de água. Além do vazamento do chorume, o lixo produz gases poluentes e facilita a reprodução de insetos transmissores de doenças.
A PNRS prevê que as cidades desenvolvam planos de gestão do lixo em que os catadores sejam incluídos de forma digna no sistema de coleta seletiva por meio de cooperativas. Prefeitos de municípios que não conseguiram se adaptar à lei federal temem entrar na mira do Ministério Público a partir de agosto. Eles podem ser processados por Crime Ambiental.
Prazo adiado?
Para evitar que isso ocorra, a CNM tem pedido para o governo federal adiar o prazo referente ao encerramento das atividades dos lixões, alegando que as cidades não tiveram tempo, nem receita suficiente para construir aterros sanitários e planos de coleta seletiva. O Ministério do Meio Ambiente, por sua vez, já sinalizou que não pretende mudar a data.
A situação mais crítica no país é do Lixão da Estrutural, em Brasília, o maior da América Latina, um terreno com o tamanho de 170 campos de futebol e uma montanha de lixo de 50 metros de altura onde cerca de 2 mil catadores de material reciclável trabalham 24 horas por dia.
Questão “secundária”
O governo do Distrito Federal pretende fechar o equipamento até o fim do ano, quando deve entrar em funcionamento um aterro sanitário em Samambaia, a 20 quilômetros da capital federal. Outros três aterros devem ser construídos em parceria com os governos de seis municípios vizinhos. Depois de ser fechado, o terreno terá que passar por um processo de recuperação. Duas propostas estão sendo estudadas. O custo deve variar entre R$ 300 milhões e R$ 420 milhões, em um trabalho que pode levar até 30 anos.
O diretor-presidente da Abrelpe, Carlos Silva Filho, concorda que a sociedade, em geral, está mais interessada em discutir temas relacionados à destinação adequada do lixo. Para ele, porém, os políticos demoraram a se dar conta da importância do tema: “Muitos administradores públicos têm a visão de que a questão dos resíduos sólidos é uma questão secundária.
Na visão deles, desativar um lixão e implementar a coleta seletiva não tem capital político, não traz voto, nem tira. E isso fica em segundo plano”, afirmou Silva Filho ao jornal O Globo. Ele cobra mais engajamento da sociedade. “A lei prevê avanços que devem ser conjugados entre indústrias, municípios e cidadãos. Se o cidadão produz menos lixo, separa o material, também ajuda.”
Belém, no Pará, é outra capital que chegará a agosto sem cumprir a meta da PNRS. Cerca de 1,6 mil catadores trabalham no Lixão do Aurá, que deve ter as portas fechadas dentro de um ano, segundo o secretário municipal de Saneamento, Luiz Otávio Mota Pereira: “Acho que antes da lei dos resíduos sólidos, muitos administradores estavam empurrando com a barriga e não se preocupavam com o assunto. Mas chega uma hora que temos que levar isso a sério. É o que estamos fazendo”, garantiu Pereira.
A prefeitura de Porto Velho, em Rondônia, também deve levar um ano para encerrar as atividades do Lixão da Capital, atualmente único local utilizado para destinação dos resíduos sólidos.


Rodrigo Pizeta é Especialista em Gestão Ambiental


ONGs criticam falta de transparência no mercado de carbono europeu

por Fabiano Ávila, do CarbonoBrasil05/05/2014

Esquema de comércio de emissões da União Europeia não revela a origem dos 132,8 milhões de créditos de carbono internacionais que foram negociados em 2013
A Comissão Europeia (CE) divulgou na última sexta-feira (2) que as empresas sob o esquema de comércio de emissões (EU ETS) compraram 132,8 milhões de créditos de carbono internacionais, sendo 66,4 milhões de Reduções Certificadas de Emissões (RCEs) do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) e 66,4 milhões de Unidades de Emissão Reduzida (ERUs), provenientes da Implementação Conjunta (IC).
Diferente de anúncios passados, a CE não revelou desta vez os projetos de origem desses créditos, uma decisão que levantou críticas das ONGs que acompanham o mercado: Sandbag, Associação de Investimento e Mercado Climático (CMIA) e Carbon Market Watch.
“A falta de transparência torna impossível saber de onde vieram os 132,8 milhões de créditos que entraram no EU ETS em 2013. A CE alega que apenas créditos de países menos desenvolvidos participaram do mercado em 2013, mas na prática projetos ineficientes da China ainda estão sendo permitidos e provavelmente constituem a maior parte dos créditos utilizados no EU ETS, enfraquecendo os esforços climáticos europeus”, afirmou Eva Filzmoser, diretora do Carbon Market Watch.
Os projetos de redução de gases do efeito estufa chineses já são questionados há anos, sendo que, teoricamente, alguns deles foram banidos do EU ETS em 2011. No caso, indústrias chinesas e indianas superfaturavam deliberadamente suas emissão de gases do efeito estufa e depois recebiam créditos por destruí-los.
Mas as ONGs alertam que mesmo projetos que não são de gases industriais podem ter problemas, já que os dados sobre eles são difíceis de serem conseguidos, uma vez que China e Índia ainda são bastante fechados quando o assunto é monitoramento internacional.
“A UE deve agir agora para reformar o EU ETS, mas para que essa reforma seja eficiente é crucial que os investidores e a sociedade civil tenham completo acesso às informações do mercado. Esperar até 2020 para realizar as mudanças necessárias, como a CE está propondo, significará que teremos baixos preços para o carbono pelo resto da década, facilitando o uso de carvão na Europa”, explicou Bryony Worthington, diretor da Sandbag.
Esse é outro problema levantado pelas ONGs, o abuso na aceitação dos créditos internacionais está derrubando o preço do carbono. Assim, as industrias europeias acabam preferindo poluir e comprar créditos do que investir em tecnologias limpas de produção.
Para as ONGs, apesar do EU ETS limitar a quantidade de créditos internacionais que podem ser comprados por cada empresa, essa quantidade ainda é grande o suficiente para resultar no excesso de permissões de emissão européias (EUAs) no mercado, jogando seu preço para baixo.
“O excesso de EUAs está estrangulando o mercado (…) Tanto do ponto de vista econômico quanto ambiental não podemos esperar até o fim da década para que o EU ETS seja reformado”, declarou Miles Austin, presidente daCMIA.

Atualmente, as EUAs estão sendo negociadas em €5,3/t, as RCEs em €0,17/t e as ERUs em €0,10/t.

Rodrigo Pizeta é Especialista em Gestão Ambiental

Nível do Sistema Cantareira volta a cair

por Marli Moreira, da Agência Brasil 05/05/2014
Nível dos reservatórios do Sistema Cantareira voltou a cair para 10% patamar mais baixo da história. Divulgação/Sabesp
O nível dos reservatórios do Sistema Cantareira voltou a cair, passando de 10,1% , ontem (4), para 10% hoje (5), patamar mais baixo da história. De acordo com a medição diária da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), em igual data do ano passado, o volume de chuvas estava em 62,3 milímetros (mm) por mês. Nos cinco primeiros dias de maio de 2013, o índice pluviométrico tinha acumulado 0,1 mm e no mesmo período deste ano, nenhuma gota foi registrada.
Por este sistema é feita a distribuição de água para cerca de 9 milhões de pessoas na região metropolitana de São Paulo. A mesma fonte de captação alimenta as bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, no interior do estado.
Por determinação da Agência Nacional de Águas (ANA) e do Departamento de Águas e Energia Elétrica de São Paulo, a retirada de água do Sistema Cantareira foi reduzida de 24,8 metros cúbicos por segundo (m³/s) para 22,4 m³/s. Uma nova avaliação deverá ser feita no próximo dia 15.
Desde o dia 17 de março, a Sabesp vem tocando obras para viabilizar a retirada de água da reserva estratégica, que fica em uma área mais profunda do que a da atual captação, nas represas Atibainha, em Nazaré Paulista, e Jaguari/Jacareí, em Bragança Paulista. Pelo cronograma, este aproveitamento deve começar em julho, elevando a oferta em torno de 200 bilhões de litros, volume suficiente para garantir o abastecimento por quatro meses.

Rodrigo Pizeta é especialista em Gestão Ambiental

Nova Caledônia cria oficialmente a maior área protegida do mundo

por Fernanda B. Müller, do CarbonoBrasil 05/05/2014
Iniciativa com 1,3 milhão de quilômetros quadrados faz parte da estratégia de países insulares do Pacífico para a gestão de áreas de grande importância ecológica e econômica
O governo da Nova Caledônia, um arquipélago pertencente à França, situado na Melanésia, sudoeste do Pacífico, anunciou oficialmente a criação de uma Área Marinha Protegida (AMP) de 1,3 milhão de quilômetros quadrados – equivalente a três vezes o território da Alemanha.
A área protegida chamada Parque Natural do Mar de Corais engloba ambientes marinhos extremamente ricos em biodiversidade, já declarados desde 2008 como Patrimônio Mundial da Humanidade, uma designação oferecida pela UNESCO para locais de grande importância cultural ou natural.
O parque visa proteger o ambiente marinho, manter os serviços ambientais oferecidos pelos ecossistemas e contribuir com o desenvolvimento sustentável das atividades marítimas, declarou o governo em seu portal na internet.
Além disso, o governo ressalta que a criação do parque contribui significativamente para o fortalecimento da rede de AMPs francesas, que passam a abranger 16% das águas sob jurisdição do país.
Nos próximos meses, um comitê de gestão será estabelecido com a missão de elaborar um plano de manejo do parque em até três anos. O plano determinará os diferentes usos permitidos em cada área do parque.

Jean Christophe, da ONG Conservação Internacional (CI), que vem apoiando vários países insulares do Pacífico em seus esforços de conservação, enfatiza que a área da nova AMP abrange formações geológicas únicas, como montes marinhos e bacias sedimentares, além de um dos maiores recifes de corais do mundo.
Entre as ameaças presentes na região, Christophe cita a pesca ilegal, o crescente trânsito de embarcações para a Austrália, e as perspectivas de mineração e exploração de petróleo em alto mar.
O anuncio dos planos (Veja a proposta) – agora confirmados – da Nova Caledônia já havia sido feito durante o 43° encontro do Fórum das Ilhas do Pacífico, em agosto do ano passado em Rarotonga, Ilhas Cook.
A iniciativa faz parte do Pacific Oceanscape Framework, uma parceria entre os países insulares da região que visa proteger, gerenciar, e sustentar a integridade cultural e natural em uma área equivalente a 10% da superfície do oceano.
Os dezesseis países participantes da iniciativa, idealizada pelo presidente de Kiribati em 2009 com apoio da CI, se comprometeram em criar a maior rede de AMPs da Terra.


Assim, a CI também tem trabalhado com as Ilhas Cook e Kiribati na criação de AMPs de grandes proporções. No caso das Ilhas Cook, cerca de 1,2 milhões de km2 devem ser protegidos. Já em Kiribati, a Área Protegida das Ilhas Phoenix, criada em 2008 – a maior AMP do mundo na época -, abrange um dos últimos ecossistemas coralíneos intocados do mundo.

“A Nova Caledônia quer cumprir o seu papel neste processo de engajamento internacional, regional e local pela gestão sustentável dos nossos oceanos”, disse o porta-voz do governo em nome do presidente Harold Martin no encontro do Fórum das Ilhas do Pacífico no ano passado.

Rodrigo Pizeta é especialista em Gestão Ambiental

ESPECIAL:“Erradicar a fome não é uma opção, é uma necessidade imperiosa, se queremos ter um futuro”

por Redação do IHU On-Line 05/05/2014
“A crise alimentar provocou, em 2008, revoltas em mais de 50 países. Hoje, o aumento nos preços dos alimentos está novamente contribuindo para a instabilidade política no mundo”, afirma o diretor da Cátedra de Estudos sobre a Fome e a Pobreza – CEHAP da Universidade de Córdoba, Espanha, José Esquinas-Alcázar.
“A fome e a pobreza são o caldo de cultivo no qual crescem problemas que tanto preocupam o Ocidente, como a migração ilegal e a violência internacional. Quando, em consequência da fome e da pobreza, o valor da vida humana em muitos países pobres é quase desprezível e quando o risco de embarcar num barco é menor que o de ficar em casa, a decisão está tomada”, destaca o professor José Esquinas-Alcázar.
“A FAO anunciou, em 2007, que o aumento dos preços de alimentos poderia levar a um aumento nos conflitos globais. De fato, a crise alimentar provocou, somente em 2008, revoltas em mais de 50 países e a consequente queda de vários governos. Hoje, o aumento nos preços dos alimentos está novamente contribuindo para a instabilidade política em diferentes partes do mundo”, complementa.
O pesquisador lembra que mesmo o Fórum Econômico Mundial de Davos incluiu há alguns anos a insegurança alimentar entre os riscos mais graves à humanidade, pois não afeta mais apenas aqueles que sofrem diretamente com o flagelo da fome. Por estarmos em um mundo interconectado pela informação e pela tecnologia, em que o capital e a divisão do trabalho se organizam em escala global, no qual somos todos interdependentes um dos outros e dependentes da natureza, a segurança alimentar se torna um dos principais pilares da paz e da segurança mundial. “Nossos destinos estão unidos, e o destino é comum: ou nos salvamos todos ou podemos perecer juntos. O que no passado não soubemos fazer ou queríamos fazer movidos pela caridade ou pela solidariedade, hoje teremos que fazer, mesmo que seja por egoísmo inteligente”, frisa ele na entrevista a seguir, concedida por e-mail à IHU On-Line.
Jose Esquinas-Alcázar é doutor em Engenharia Agrônoma pela Universidade Politécnica de Madri, na Espanha, além de mestre em Horticultura e doutor em Genética pela Universidade da Califórnia, Estados Unidos. Trabalhou na Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura – FAO por 30 anos, lidando com temas como recursos genéticos, biodiversidade agrícola, cooperação internacional, ética na alimentação e agricultura. Atualmente é professor titular da Universidade Politécnica de Madri e diretor da Cátedra de Estudos sobre a Fome e a Pobreza – CEHAP da Universidade de Córdoba, Espanha.
O professor José Esquinas-Alcázar fará a conferência de abertura no XV Simpósio Internacional IHU. Alimento e Nutrição no contexto dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, às 18h30min desta segunda-feira, 05-05-2014. Também presidirá a mesa-redonda Sociobiodiversidade: A riqueza planetária para a Segurança alimentar e nutricional, às 9 horas do dia 06-05-2014.
Confira a entrevista:
IHU On-Line – Por que ainda morrem 40 mil pessoas por dia no mundo em consequência da fome? Não produzimos uma quantidade suficiente para alimentar a população mundial ou é a distribuição de alimentos que é feita de maneira desequilibrada?
José Esquinas-Alcázar - O que realmente é paradoxal e indignante é que a fome não é consequência, como acreditam muitos, da falta de alimentos. Hoje, segundo dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura – FAO, há alimentos no mundo para alimentar folgadamente a população mundial. Os alimentos estão no mercado internacional, mas não chegam às mesas nem às bocas dos que têm fome. Em outras palavras, o problema não é a produção de alimentos, mas o acesso aos mesmos. O problema é, essencialmente, de índole política. Isto foi reconhecido explicitamente há mais de 50 anos por um grande presidente dos Estados Unidos. Em 1963, John F. Kennedy, em seu discurso no primeiro Congresso Mundial de Alimentos, disse: “Em nossa geração temos os meios e a capacidade de eliminar a fome da face da Terra. Necessitamos, para tanto, apenas de vontade política”. Se há 50 anos já existiam os meios e a capacidade para acabar com a fome, imagine hoje! No entanto, continua faltando vontade política para isso.
Os dados falam:
No mesmo dia em que morrem de fome 40 mil pessoas, por exemplo, o mundo gasta quatro bilhões de dólares em armamentos, ou seja, 100 mil dólares por morto, o que teria permitido alimentar o morto, ao preço dos alimentos nos países em que morrem, durante mais de 100 anos. Em 1953, outro grande presidente norte-americano, Dwight D. Eisenhower, em seu discurso “Oportunidades para a paz”, denunciava: “Cada fuzil fabricado, cada barco de guerra construído, cada bomba que se joga, significam, em última instância, um roubo daqueles que têm fome e não têm comida”.
Observemos também como se encontraram rapidamente fundos ingentes para que os bancos pudessem fazer frente à atual crise financeira; 2% dos fundos empregados desde 2010 no mundo, para salvar bancos, teriam bastado para resolver o problema da fome no mundo.
O orçamento ordinário da FAO, a Organização das Nações Unidas cujo objetivo principal é acabar com a fome no mundo, para dois anos é o equivalente ao que dois países desenvolvidos gastam com comida para cachorros e gatos em uma semana. O orçamento ordinário da FAO de 10 anos é o equivalente ao que o mundo gasta em armamentos em apenas um dia.
Observe a energia, decisão e eficácia com que a humanidade e, sobretudo, os países desenvolvidos enfrentaram recentemente pandemias muito menos mortais que a fome, mas contagiosas, como a gripe aviária, a febre suína ou, mais recentemente, a gripe A. No entanto, o número de mortos pela gripe A, no mundo, durante estes anos foi da ordem de 17 mil pessoas; menos da metade dos que morrem em um só dia de fome.
Embora seja verdade que a fome não é contagiosa, ela é sumamente perigosa. A fome constitui uma bomba-relógio, que pode explodir a qualquer momento e não podemos permitir-nos a miopia política de ignorar isso.
IHU On-Line – Que estratégias de cooperação e ética podem ser desenvolvidas para eliminar a fome?
José Esquinas-Alcázar - As estratégias aplicadas no século passado baseadas nas receitas únicas, no produtivismo, no mercado mundial e na padronização demonstraram sua falta de eficácia. Permita-me desenvolver alguns pontos para um novo enfoque, baseado na experiência e na ética:
1) Não existem soluções únicas, nem receitas universais
A situação de cada país, considerando sua história e cultura, suas condições edafoclimáticas [relacionadas ao clima, relevo, humidade do ar, tipo de solo, vento e precipitação pluvial] e socioeconômicas, a evolução da sua população, ou seu grau e tipo de desenvolvimento, são diferentes e, portanto, diferentes devem ser as soluções para os seus problemas agrícolas e alimentares.
Tentar impor um único tipo de agricultura é irresponsável e irrealista, e, além disso, com frequência chegou a situações de não sustentabilidade ecológica e degradação social. A diversidade de sistemas agrícolas deve ser protegida e incentivada como um valor positivo e um importante amortecedor em épocas de mudanças.
2) Reconhecimento do valor dos diferentes usos da agricultura
A agricultura não pode ser considerada como mero exercício econômico. A agricultura, além de produzir alimentos – ração, fibras, biocombustíveis, medicamentos e plantas ornamentais –, tem outras funções essenciais: social, ambiental, de estabilidade cultural, etc., de difícil contabilidade econômica e que muitas vezes são consideradas como “externalidades” do sistema. Esta é uma das causas pelas quais os preços e os “valores” dos produtos agrícolas não necessariamente se correspondem. Isso constitui também uma importante dificuldade para avaliar a relação custos/benefícios das atividades agrárias e da eficácia comparativa entre os diferentes tipos de agricultura. Faz-se necessário, por isso, introduzir em nosso sistema econômico os indicadores, correções e elementos necessários para poder integrar nas análises e avaliações agrícolas todos os custos e benefícios, incluindo, naturalmente, os não “monetários”.
3) Investimento em agricultura e cooperação internacional
Segundo o Banco Mundial, o crescimento do setor agrícola elimina ao menos duas vezes mais a pobreza do que fazem idênticos níveis de crescimento em qualquer outro setor econômico. É importante, portanto, investir em agricultura para combater a fome e a marginalização econômica. Não esqueçamos que a agricultura segue sendo o principal setor produtivo nos últimos anos nos países mais pobres do mundo, o qual emprega mais de 65% da sua população economicamente ativa e é responsável, em média, por mais de 25% do Produto Interno Bruto – PIB.
No entanto, a participação da agricultura na Assistência Oficial ao Desenvolvimento – AOD reduziu-se de 29%, em 1980, para 3% em 2006, e agora se situa em torno de 5%.
A história também nos diz que países como a Índia ou o Vietnã, que protegeram seu desenvolvimento agrícola dos mercados internacionais, conseguiram reduções substanciais na pobreza agrícola.
Investir para conseguir a independência de alimentos foi, justamente, o enfoque que, a partir de 1945, ajudou a Europa do pós-guerra a conseguir a soberania alimentar em menos de 20 anos. Cada país deveria dotar-se dos meios para alimentar a si mesmo. Isto significa que é essencial que a agricultura se converta em uma prioridade internacional e os países mais pobres sejam ajudados a garantir a segurança e a independência de seu próprio abastecimento de alimentos.
A FAO considera que, com o objetivo de alcançar o nível de investimento em agricultura necessário para enfrentar a situação atual de fome e má nutrição, é necessário que:
a) A parte da AOD destinada à agricultura chegue aos 44 bilhões de dólares por ano, voltando, assim, ao nível inicial que permitiu, na década de 1970, evitar a fome na Ásia e na América Latina;
b) Os gastos orçamentários destinados à agricultura em países de baixos ingressos e com déficit de alimentos – que, atualmente, representam cerca de 5% – deveriam ser aumentados para atingir um mínimo de 10%;
c) O investimento privado nacional e estrangeiro, próximo, atualmente, dos 140 bilhões de dólares anuais, deveria subir para 200 bilhões de dólares ao ano.
Estes números podem parecer altos, mas recordemos que os países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE proporcionam uma ajuda equivalente a cerca de 365 bilhões de dólares anuais aos seus agricultores.
4) Combater a especulação nos preços agrícolas. Regulação do mercado de alimentos na Bolsa de Valores
Uma série de estudos atribui à especulação até 30% do aumento dos preços dos cereais no mercado internacional, em 2008. A especulação exacerbada pelas medidas de liberalização dos mercados de futuros de produtos agrícolas em um contexto de crise econômica e financeira permitiu a transformação dos instrumentos de arbitragem do risco em produtos financeiros especulativos que substituem outros investimentos menos rentáveis.
Este problema exige soluções éticas e urgentes, entre as quais deve-se considerar a possibilidade de tirar os alimentos da Bolsa de Valores. Também com o objetivo de reduzir a especulação, é importante evitar os monopólios e monitorar as grandes cadeias de alimentação. Para reduzir a volatilidade dos preços e enfrentar a especulação nos mercados de futuros de produtos agrícolas, pode contribuir a introdução de novas medidas de transparência e regulamentação que permitam aos poderes públicos influir nos preços dos alimentos básicos. Assim como aumentar o armazenamento de produtos agrícolas e alimentares e sua liberação na medida em que os preços disparem.
5) Biocombustíveis
Atualmente, as subvenções e proteções alfandegárias a favor dos biocombustíveis têm o efeito de desviar cerca de 120 milhões de toneladas de cereais do consumo humano para o setor dos transportes. Para reduzir esse impacto, é importante e urgente regular e desacelerar, ao menos temporariamente, a produção de biocombustíveis, especialmente aqueles de primeira geração.
6) Reduzir a distância das cadeias alimentares com a finalidade de reduzir custos energéticos e econômicos
Para isso, pode contribuir a aproximação entre os centros de produção e de consumo, promovendo o aumento da produção local e o consumo de produtos locais e estacionais.
IHU On-Line – Em entrevista ao jornalista Gumersindo Lafuente, publicada pelo jornal El País em junho de 2011, disseste que “a caridade deve ser substituída pelo egoísmo inteligente”. De que forma esta declaração está relacionada com a preservação da Terra?
José Esquinas-Alcázar – A fome e a pobreza são o caldo de cultivo no qual crescem problemas que tanto preocupam o Ocidente, como a migração ilegal e a violência internacional. Quando, em consequência da fome e da pobreza, o valor da vida humana em muitos países pobres é quase desprezível e quando o risco de embarcar num barco é menor que o de ficar em casa, a decisão está tomada.
A FAO anunciou, em 2007, que o aumento dos preços de alimentos poderia levar a um aumento nos conflitos globais. De fato, a crise alimentar provocou, somente em 2008, revoltas em mais de 50 países e a consequente queda de vários governos. Hoje, o aumento nos preços dos alimentos está novamente contribuindo para a instabilidade política em diferentes partes do mundo, incluindo o Meio Leste. Em 2009, o relatório do Fórum Econômico Mundial de Davos incluiu pela primeira vez a insegurança alimentar como um risco importante para a humanidade.
Num mundo tão inter-relacionado e interdependente como o atual, a fome passou de flagelo para os que a sofrem a um perigo para toda a humanidade. Sem segurança alimentar não há, nem poderá haver nunca, paz, nem segurança mundial.
Atualmente, no século XXI, erradicar a fome em nossa pequena Aldeia Global não é uma opção, é uma necessidade imperiosa, se queremos ter um futuro. Estamos em uma pequena astronave, a aeronave Terra. Estamos aí, literalmente, dando voltas, com recursos limitados e perecíveis; com uma interdependência cada vez maior. Se vier a acontecer que essa astronave ou essa nave ou esse barco sofra um buraco, tanto faz se o buraco se deu na Índia, na África, no Brasil, nos Estados Unidos ou na Espanha; todos afundaremos. Nossos destinos estão unidos, o destino é comum: ou nos salvamos todos ou podemos perecer juntos. O que no passado não soubemos fazer ou queríamos fazer movidos pela caridade ou pela solidariedade, hoje teremos que fazer, mesmo que seja por egoísmo inteligente.
IHU On-Line – Como filho de agricultores, que importância concede às pequenas propriedades camponesas na luta contra a fome?
José Esquinas-Alcázar - Não foi por acaso que este ano de 2014 tenha sido declarado pela ONU como o Ano Internacional da Agricultura Familiar. A maior parte dos alimentos que consumimos no mundo procede da agricultura familiar, que é, em geral, uma agricultura baseada em pequenas propriedades.
Como dissemos anteriormente, existem hoje alimentos mais que suficientes para alimentar a humanidade; entretanto, os famintos não têm acesso aos mesmos. Os alimentos estão disponíveis no mercado internacional, mas isso não é suficiente para que cheguem aos que passam fome, especialmente em tempos de carestia alimentar e grande volatilidade dos preços dos alimentos, já que a fome e a pobreza andam muitas vezes de mãos dadas. A falta de acesso deve-se à escassez de alimentos produzidos em nível local, por um lado, e à falta de recursos para comprar os alimentos procedentes de onde há excedentes, por outro. Os sistemas tradicionais de luta contra a fome, através dos programas de distribuição de alimentos e assistência humanitária, proporcionam alimentos ou fundos para obtê-los no mercado internacional. No entanto, a eficácia destas medidas tem sido muito limitada por tratar-se de soluções a curto prazo.
Se levarmos em conta que a maior parte (70%) da população faminta vive em zonas rurais, promover a produção in situ parece ser a solução mais eficiente e talvez a única duradoura. Requerem-se melhorias na produção em nível local para proporcionar um aumento das opções para os agricultores de pequena escala e as comunidades rurais, e para melhorar a qualidade, assim como a quantidade, dos alimentos disponíveis. Isso significa apoiar os pequenos agricultores e suas comunidades no desenvolvimento e melhoria dos seus próprios sistemas agrícolas. Infelizmente, a assistência técnica ao pequeno agricultor e a pesquisa internacional para melhorar a produção nos sistemas agrícolas tradicionais de baixos insumos, incluindo a melhoria genética dos cultivos marginais e variedades locais adaptados a estes sistemas, foram muito escassas e, muitas vezes, inexistentes.
Sistemas agrícolas tradicionais
A FAO, no seu relatório “Os caminhos para o êxito” (nov. 2009) , assinala que uma das melhores e mais rentáveis vias para sair da pobreza e da fome no meio rural é apoiar os pequenos camponeses. Cerca de 85% das propriedades agrícolas no mundo têm menos de dois hectares, e os pequenos agricultores e suas famílias representam cerca de dois bilhões de pessoas, um terço da população mundial.
Além disso, os pequenos agricultores são a base da soberania alimentar e esta deve ser considerada parte essencial da segurança alimentar. Para não criar-se uma dependência dos preços agrícolas internacionais, não se pode fomentar sistematicamente o desmantelamento dos sistemas agrícolas tradicionais. Com frequência, é preciso apoiar seu desenvolvimento e uma evolução paulatina que permita aumentar sua produtividade e sua capacidade de se adaptar às necessidades cambiantes do meio e à sociedade nas quais se desenvolverão.
Na sequência, damos um exemplo ilustrativo das consequências do desmantelamento dos sistemas agrícolas tradicionais:
Em Benin, o desenvolvimento de grandes cultivos de algodão para satisfazer a demanda do Ocidente levou ao deslocamento de milhões de pequenos agricultores produtores de alimentos, que venderam suas terras para passar a ser diaristas, muitos deles nas novas plantações de algodão. Isto, no entanto, não foi percebido como um problema, já que as diárias recebidas lhes permitiram comprar alimentos procedentes do mercado internacional a bom preço e, por isso, muitas vezes em maior quantidade que aqueles que produziam antes em suas pequenas propriedades. No entanto, o aumento dos preços internacionais dos alimentos nos últimos anos deixou-os numa situação de indigência e fome sem precedentes. Agora, já não podem voltar à sua agricultura tradicional, já que, com a venda das suas terras, criaram uma situação de dependência praticamente irreversível .
Muitas vezes, os processos desencadeados com a venda das terras e o desmantelamento dos sistemas agrícolas nacionais passam a ser irreversíveis. Ao perder a capacidade de produzir seus alimentos, os países podem hipotecar sua própria soberania.
IHU On-Line – Em que etapa estão os debates no Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas acerca de uma possível Declaração Universal Sobre os Direitos dos Camponeses?
José Esquinas-Alcázar - Em outubro de 2012, o Conselho de Direitos Humanos da ONU decidiu criar um grupo de trabalho intergovernamental de composição aberta encarregado de negociar, finalizar e apresentar ao Conselho de Direitos Humanos um projeto de declaração das Nações Unidas sobre os direitos dos camponeses e de outras pessoas que trabalham nas zonas rurais.
O grupo de trabalho intergovernamental, presidido pela embaixadora da Bolívia na ONU, em Genebra, em sua primeira reunião, em julho de 2013, considerou um primeiro rascunho da declaração e fez comentários sobre o mesmo. Atualmente, o rascunho está sendo modificado em consulta com os países, com o objetivo de apresentar um novo rascunho na segunda reunião negociadora do grupo de trabalho, prevista para novembro de 2014.
IHU On-Line – Qual é o impacto do capital internacional sobre a biodiversidade agrícola e os recursos genéticos? Por que os dois últimos são importantes?
José Esquinas-Alcázar - O capital internacional e as grandes companhias de produção de sementes estão promovendo um tipo de agricultura industrial baseada na uniformidade, onde um pequeno grupo de variedades vegetais e raças animais uniformes e homogêneos estão substituindo em todo o mundo uma enorme diversidade de espécies alimentares. Alguns acordos internacionais com o comércio, certificação de sementes e direitos de propriedade intelectual, assim como a própria legislação nacional de muitos países, estão contribuindo para este desatino.
A Diversidade Biológica Agrícola (DBA) e mais concretamente os Recursos Genéticos para a Agricultura e a Alimentação (RGAA), também conhecidos com “ouro verde”, constituem a despensa da humanidade, a matéria-prima sobre a qual se baseia o desenvolvimento agrícola e a produção de alimentos. Sem o uso da diversidade genética existente dentro de cada espécie animal ou vegetal, não seria possível o combate das pragas e doenças das plantas cultivadas e dos animais de granja, o aumento da sua produtividade, sua adaptação a condições adversas do ambiente (por exemplo, excessivo frio ou calor, seca ou umidade), nem a melhoria das suas características nutritivas, e se perderia a capacidade destas espécies de se adaptar às mudanças climáticas. Quando se perde a DBA de uma espécie agrícola, priva-se a espécie da sua capacidade de evolução e adaptação ao ambiente, e o ser humano do material básico onde selecionar o material desejado; as consequências podem ser catastróficas.
Um exemplo conhecido e sumamente ilustrativo é a fome que estremeceu a Europa na metade do século XIX e que provocou a morte por fome de milhões de pessoas. O que muitos ignoram é que a sua causa foi a destruição em massa dos cultivos de batatas europeias, atacadas por um fungo, o Phytophtorainfestans, para o qual não se encontrava resistência devido à uniformidade extrema das batatas cultivadas no continente. O problema foi resolvido graças à resistência à doença encontrada no Peru, centro de origem e diversidade da batata.
Outro exemplo mais recente é o do ataque do Helmintosporiusmaydes, que destruiu os milhos comerciais uniformes do sul dos Estados Unidos no começo da década de 1970. O problema foi resolvido graças aos genes de resistência encontrados nas variedades heterogêneas de milhos africanos.
O número de casos, embora nem sempre tão trágicos, se multiplicou durante os últimos anos em muitos cultivos, e a solução passou quase sempre pela identificação de resistência às doenças e às condições adversas entre as variedades heterogêneas tradicionais que seguem sendo cultivadas pelos pequenos agricultores, sobretudo nos países em desenvolvimento. Uma vez identificada esta resistência, os cientistas podem incorporá-la às variedades comerciais através de cruzamentos.
Recursos genéticos
Ao longo do último século, houve uma enorme perda de diversidade genética dentro das chamadas “principais espécies alimentícias”. Centenas de milhares de variedades heterogêneas de plantas cultivadas ao longo de gerações foram substituídas por um reduzido número de variedades comerciais modernas e enormemente uniformes.
Só nos Estados Unidos já desapareceram mais de 90% das árvores frutíferas e espécies hortícolas que ainda se cultivavam no começo do século XX, e tão somente algumas poucas são conservadas em bancos de genes. No México, só se conhecem, atualmente, 20% das variedades documentadas em 1920. Na República da Coreia, apenas 26% das variedades locais cultivadas em hortas e pomares familiares em 1985 continuavam sendo utilizadas em 1993. Em geral, pode-se dizer que, em nível mundial, entre 80% e 95% das variedades conhecidas para os cultivos mais importantes no início do século XX se perderam para sempre.
Além disso, em nível de espécie estamos ignorando e desaproveitando a maior parte da diversidade biológica agrícola existente. Segundo a FAO, estima-se que, ao longo da história da humanidade, foram utilizadas cerca de 10 mil espécies para a alimentação humana e a agricultura. Atualmente, não mais de 120 espécies cultivadas de plantas nos proporcionam 90% da alimentação calórica humana, e tão somente quatro espécies vegetais (batata, arroz, milho e trigo) e três espécies animais (gado, suíno e frango) nos proporcionam mais da metade.
As sistemáticas ações internacionais para frear a perda de recursos genéticos e assegurar a cooperação internacional nesta matéria começaram na FAO nos anos 1970. Em 1983, a Conferência da FAO criou a Comissão Intergovernamental de Recursos Genéticos para a Agricultura e a Alimentação – CRGAA.
Atualmente, a comissão conta com 170 países membros e é o fórum intergovernamental permanente para a discussão e negociação das questões relacionadas aos RGAA. Nesta comissão, foi negociado nos anos 1990 e aprovado em 2001 o Tratado Internacional sobre Recursos Genéticos para a Agricultura e a Alimentação, acordo que, até o momento, foi ratificado pelos parlamentares de 136 países.
IHU On-Line – Nesta perspectiva, comente, por favor, o episódio no qual um camponês lhe cedeu um punhado de sementes de melões que, mais tarde descobriu-se, eram resistentes ao fungo que ameaçava as demais espécies do fruto no mundo. O que estes episódios nos ensinam?
José Esquinas-Alcázar - A diversidade genética que permitiu salvar a batata na Europa no século XIX e o milho nos Estados Unidos no século XX não estava ali por acaso. Era o produto da seleção realizada por milhares de gerações de pequenos agricultores tradicionais; eles seguem sendo ainda hoje, no mundo que muitas vezes os ignora e às vezes os vê como uma carga social devotada ao passado, os autênticos guardiões da maior parte da diversidade biológica agrícola com que ainda podemos contar; aqueles que continuam desenvolvendo, conservando e colocando à disposição de outros agricultores, dos aperfeiçoadores profissionais e, inclusive, dos modernos biotecnólogos, a matéria-prima necessária para enfrentar condições ambientais cambiantes e necessidades humanas imprevisíveis. São estes simples camponeses os que seguem tendo as chaves do futuro alimentar da humanidade.
Ilustrarei isso com o exemplo dos melões e outros casos significativos:
Em julho de 1970, nas Hurdens, no coração da Espanha rural, um agricultor ancião, que seguia com seu asno, encontrou-se com um jovem estudante que recolhia sementes de melão. O velho agricultor perguntou ao jovem estudante o que estava fazendo, e o rapaz lhe explicou que queria coletar os melões autóctones da Espanha antes que desaparecessem. “Vem ver meus melões – disse o agricultor. Nunca ficam doentes”. O estudante acompanhou o idoso até sua propriedade. O velho agricultor deu-lhe algumas sementes, que o jovem levou para fazer análises em laboratório. As sementes continham um gene resistente a um fungo do melão, que posteriormente foi transferido para outros melões, beneficiando os agricultores de todo o mundo. Eu era esse jovem estudante, mas não sei quem era o ancião. É como tantos milhões de homens e mulheres. Ninguém lhes agradece, mas eles são os possuidores da sabedoria capaz de produzir e conservar suas sementes e suas tradições para as futuras gerações.
O tempo e a experiência me mostraram que não se tratava de um caso isolado. Em 1983, coletando quinoa, um dos cultivos mais importantes da agricultura tradicional andina, na Bolívia, encontramos na granja de um agricultor, em uma zona onde predomina a quinoa amarela, um tipo de quinoa escura, cujas plantas tinham um aspecto doentio e cuja produtividade parecia muito baixa. Comentamos com este agricultor que estas plantas estavam doentes e talvez por isso produzissem pouco grão e de cor escura. Ele nos respondeu que não, que “esta variedade é assim”. Embora não tenhamos ficado muito convencidos, a cena se repetiu nos campos de outros agricultores vizinhos. O último nos confirmou que “esta variedade produzia muito pouco”. E quando lhe perguntamos por que a cultivava mesmo assim, ele respondeu que era muito boa para curar a tuberculose. Não demos muito crédito ao comentário, mas coletamos algumas amostras que foram enviadas com as outras a alguns laboratórios para análise. Quando, alguns meses depois, obtivemos os resultados das análises, soubemos que aquela quinoa negra, supostamente doente, tinha um conteúdo em proteínas e, sobretudo, em aminoácidos essenciais muito superiores às outras quinoas cultivadas na zona.
O número de exemplos é infindável. Uma variedade local de trigo coletada na Turquia pelo Dr. Harlan em 1948 no campo de um pequeno agricultor, e ignorada depois durante muitos anos, foi uma fonte de resistência a fungos em todo o mundo. Algumas variedades tradicionais de alfafa encontradas no Irã permitiram introduzir resistência a nematoides em muitas variedades comerciais de outros países. Uma variedade de trigo encontrada em zonas remotas do Japão, em 1946, passou a ser a base da chamada “revolução verde” em todo o mundo um quarto de século depois, graças aos seus genes de nanismo que permitiram maiores doses de adubo nitrogenado. Uma raça tradicional de suínos chinesa permitiu aumentar a fertilidade de muitas raças europeias. A resistência à malária nas vacas do sul dos Estados Unidos procede de uma raça local do norte de Roma.
O trabalho essencial dos agricultores tradicionais no desenvolvimento, conservação e disponibilidade da diversidade biológica agrícola foi formalmente reconhecido pelo Tratado Internacional de Recursos Fitogenéticos da FAO, cujo artigo 9, “Direitos do Agricultor”, define os agricultores como guardiões dos recursos genéticos e lhes assinala direitos.
IHU On-Line – Gostaria de acrescentar algo mais?
José Esquinas-Alcázar - Sim, creio que a questão da fome e da conservação dos recursos naturais da Terra não pode ser tratada de maneira isolada. É preciso integrar a crise alimentar ao contexto das demais facetas da crise global em que nos encontramos imersos e cujo combate só é possível associando-a ao desenvolvimento de um mundo melhor, solidário e sustentável, onde o objetivo não seja simplesmente “o crescimento econômico”, mas “a felicidade”, e onde o motor do processo não seja o “consumo” e a “sobre-exploração” dos recursos naturais, mas a relação harmônica entre e com todos os componentes do ecossistema Terra. Um mundo no qual o crescimento material não seja sinônimo de desenvolvimento e onde a ciência, as tecnologias, o mercado e, inclusive, a democracia, não sejam deuses infalíveis que devemos glorificar, mas meros instrumentos que podem nos ajudar a transformar a nossa casa, a Terra, em um Paraíso.

Rodrigo Pizeta é Especialista em Gestão Ambiental