segunda-feira, 4 de novembro de 2013

O exemplo do Brasil

O país precisa de energia para crescer e movimentar a economia. E tem investido com relativo êxito em fontes renováveis para reduzir o consumo dos derivados de combustíveis fósseis

por José Goldemberg
A luz elétrica contribui para deixar ainda mais bela a paisagem do Rio de Janeiro. Conciliar geração de energia e preservação ambiental é um dos desafios da sustentabilidade

O aquecimento global está alterando de forma rigorosa o clima em determinadas partes do mundo. É cada vez mais frequente a ocorrência de eventos climáticos extremos, tais como grandes inundações, secas severas, tufões devastadores e chuvas mais concentradas em um breve espaço de tempo. Outras consequências ocasionadas pelas mudanças climáticas, como elevação no nível do mar e derretimento das geleiras, também estão previstas.
A energia, porém, não sofrerá tanto com o aquecimento.
Essencial para a manutenção do nível de conforto de bilhões de pessoas em todo o planeta, mais de 80% da matriz global é proveniente de combustíveis fósseis: carvão, petróleo e gás natural. Outra fonte importante é a energia nuclear.
Porém, as reservas fósseis, formadas há milhões de anos, são finitas. Estima-se que o petróleo, se extraído à velocidade atual, será extinto dentro de, no máximo, 50 anos. E, além do esgotamento físico desse recurso, o acesso às reservas mundiais é desigual. Hoje, metade do petróleo produzido no planeta provém de países com regimes políticos complexos no Oriente Médio, responsáveis pelas flutuações no preço do barril.
O consumo dos combustíveis fósseis também nos leva a outra questão premente, a dos problemas ambientais. Sua queima emite gases de efeito estufa, com poluição urbana severa, além de provocar chuvas ácidas e contribuir de forma acentuada para o aquecimento global. Como resolver tais problemas causados pela energia fóssil?
No planeta, as energias renováveis representam menos de 10% das matrizes. O Brasil é, curiosamente, um dos países com exemplos interessantes de solução. Aqui, quase a metade da matriz energética é proveniente de fontes renováveis, uma condição bastante favorável em relação ao resto do mundo. Tal posição se dá pela alta porcentagem da energia produzida por usinas hidrelétricas e fontes alternativas, como a biomassa. Sob o ponto de vista de geração de eletricidade, somos referência global.
Uma das metas da Rio+20 – convenção das Nações Unidas sobre o desenvolvimento sustentável, que ocorrerá, entre 13 e 22 de junho, no Rio de Janeiro – é dobrar a quantidade de energia renovável no mundo até 2030. Mas, até lá, será que o Brasil continuará seguindo de forma positiva? E as demais nações do mundo conseguirão cumprir a meta prevista na convenção?
Embora nosso potencial hidrelétrico seja enorme – mais de 260 mil megawatts de capacidade total –, apenas um terço está instalado, ou seja, em operação. Grande parte do restante, porém, situa-se na bacia Amazônica, palco de controvérsias devido a problemas socioambientais gerados pela construção de grandes barragens. Além disso, a região fica distante dos grandes centros consumidores do Sul e do Sudeste.
A usina de Belo Monte, no Pará, é o exemplo que melhor reúne esse choque de visões. Mesmo com manifestações de ambientalistas contrários a sua construção – cujo projeto promete acrescentar quase 12 mil megawatts de capacidade instalada à matriz energética nacional –, o governo adotou como questão de honra tocar adiante a construção da usina. Com isso, infelizmente, criou-se no âmbito governamental uma falsa dicotomia de que a proteção tal como desejam os ambientalistas é caracterizada como inimiga do desenvolvimento.
Crianças se divertem com jogos eletrônicos em um shopping de Porto Alegre (RS). No Brasil, o consumo de energia cresce a cada ano

Cuidar do meio ambiente, porém, não é obstáculo ao desenvolvimento. O governo foi levado a projetar a construção de imensas usinas hidrelétricas na Amazônia, onde há muitos rios capazes de gerar energia em menor porte. Mas, caso fossem idealizadas mais usinas de médio porte – de 500 a mil megawatts – na região, o aproveitamento de Belo Monte poderia ser adiado por muitos anos, causando com isso menos impacto ambiental na Floresta Amazônica.
Não resta dúvida, a essa altura, de que muitos projetos na Amazônia terão de ser feitos por causa do atual crescimento da população. A classe média aumenta e consome mais. Para dar conta desse cenário, é certo que precisaremos de mais eletricidade. Mas não tanto quanto as projeções otimistas do governo, cuja estimativa é de que o consumo total de energia cresça ao fim de 2030 entre 89% e 194%, em comparação ao valor atual.
O importante é que esse crescimento seja cada vez mais orientado no sentido das energias renováveis, em especial a eólica, abundante no norte do país – Piauí, Ceará e norte do Maranhão –, além de ser destaque nos leilões de energia. Há, porém, falta de interesse político no investimento nesse setor. Todas as dificuldades técnicas, como linhas de transmissão ligando o norte e o sul do Brasil, foram resolvidas há 30 anos.
Outra fonte promissora no Nordeste são as células fotovoltaicas. Embora a solar seja hoje uma forma cara de energia, a tendência é que haja redução nos preços, aumentando o leque de consumidores. Uma alternativa para baratear os custos são os coletores de cobre, muito utilizados no aquecimento de água, principalmente, no centro-sul do Brasil, onde a radiação é mais forte.
Se o grande esforço mundial é dobrar a quantidade de energia renovável, no que tange aos biocombustíveis, nosso país não terá problema algum. Nesse campo, os demais poderão aprender com a experiência brasileira. A ideia de que a Europa produzirá etanol de qualidade superior é equivocada, já que os biocombustíveis são melhor produzidos em regiões tropicais.
Parte da gasolina brasileira já é substituída pelo etanol, cujo bagaço de sua matéria-prima, a cana-de-açúcar, também pode ser usado para gerar eletricidade. No centro-sul do país, em estados como São Paulo, Minas Gerais e Goiás, esse subproduto do etanol e do açúcar tem sido uma opção viável para geração de eletricidade. No entanto, o setor enfrenta uma inércia natural, pois apenas as usinas novas possuem caldeiras destinadas à queima do bagaço para a produção de energia. Investimentos são necessários. Mesmo assim, as possibilidades para esse tipo de bioeletricidade são boas. Considerando seu potencial total, apenas o estado de São Paulo é capaz de gerar 2 mil megawatts.
Dentre as demais tecnologias geradoras de energia utilizadas no país estão a termonuclear e o gás natural. Como vantagem, assim como as renováveis, elas permitem a diversificação da matriz energética brasileira e, por consequência, reduzem a dependência das hidrelétricas. Sua participação, todavia, ainda é modesta.
A energia nuclear, por exemplo, contribui com menos de 2% da matriz. No Plano Nacional de Energia (PNE) 2030, está prevista a construção de mais usinas. No entanto, depois do grave acidente em Fukushima, no Japão, no início de 2011, muitos países – como Alemanha, França, Itália e Suíça – descontinuaram seus programas nucleares. De imediato, a reação do Brasil foi adiar – por tempo indeterminado – a construção de novas usinas projetadas no PNE, mas permitindo a continuidade das obras de Angra 3. Após sua conclusão, prevista para 2015, ela deverá manter a pequena parcela com as outras únicas usinas nucleares em funcionamento no país (Angra 1 e 2). Também por questões relacionadas à segurança, as termonucleares sofrem resistência da população não só no Brasil como no mundo todo.
A fiação mal instalada na periferia da cidade de Betânia (PI): implantar redes eficientes de distribuição é fundamental para otimizar a energia no século 21

A recente descoberta do pré-sal, por sua vez, representa para o país uma oportunidade e um perigo. Devemos estar atentos ao exemplo do mar do Norte, onde há 30 anos a região se revelou rica em petróleo, proporcionando a riqueza dos países a sua volta, entre os quais Dinamarca, Inglaterra, Holanda e Noruega. Foi uma bonança finita. Apenas 20 anos depois do início da exploração, a profundidade dos campos de petróleo do mar do Norte decaiu de forma violenta, registrando uma queda de 7% ao ano de seu volume total, levando os países à busca de novas alternativas para o combustível fóssil.
No Brasil, a retirada desse petróleo localizado 7 quilômetros abaixo do nível do mar será cara, pois exigirá uma tecnologia nova. As operações serão complexas. Por outro lado, assim que jorrado na superfície, ele permitirá ganho imediato de enorme quantidade de recursos que poderá ser usada para garantir o desenvolvimento do país. Mas, repito, é preciso prestar atenção no exemplo do mar do Norte: o petróleo tem prazo de validade; não é fonte de energia renovável.
O Brasil segue hoje uma linha na qual se tornou exemplo de matriz energética sustentável, com uma gama de opções renováveis. É preciso que haja vontade política para que o governo não abandone essa estratégia em função dos combustíveis fósseis – uma solução que parece simples e de resultado imediato, mas que pode gerar graves consequências dentro de dez ou 20 anos. Na minha opinião, um fato é certo: o futuro da energia no país está na biomassa e nas hidrelétricas.
No coração financeiro do país – a avenida paulista, em São Paulo –, grupos indígenas protestam contra o projeto da usina de Belo Monte, às margens do rio Xingu no Pará.

Operários trabalham na barragem da usina hidrelétrica de Santo Antônio, no rio Madeira em Rondônia: um setor marcado pela polêmica nos últimos anos.
Usina de etanol de cana-de-açúcar no interior de São Paulo: o Brasil detém a tecnologia no setor.
A lamparina garante a luz noturna no sertão do Piauí. A luz elétrica ainda não é realidade para todos os brasileiros, mas até 2014 o governo pretende levar energia a 100% da população.

National Geographic Brasil junho/2012


RODRIGO PIZETA ESPECIALISTA EM GESTÃO AMBIENTAL: 
Projetos de Gestão integrada de resíduos sólidos
Perícia ambiental
Planejamento Ambiental
Gestão Ambiental nas empresas Consultor IS0 140001
Elaboração e Gerenciamento de projetos ambientais
Especialista em Formatação de Circuitos Turísticos Autosustentáveis 
+ 55 (27) 99944 - 8003/ arvore.ae@gmail.com




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